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O caso do vidente 'Prof. Bambo', que o CM tem acompanhado, não é melhor nem pior do que os dos bispos da IURD, que cobram dízimos e 'doações' em nome de Deus, mas é um exemplo a ter em conta. As 'vítimas', sem vergonha, queixam-se por 'terem sido enganadas'. O senegalês inventava amantes aos maridos e catástrofes que só ele podia evitar. No fundo, mais do que uma amostra de crendice, é uma espécie do artesanato africano da indústria 'psi' (que inventa depressões e traumas onde às vezes há só a natural dificuldade de viver) ou do chique astrológico ou tarológico, que tem honras televisivas e aparece bem vestido. Nestes casos (astrologia, tarologia, IURD ou videntes), penso que a DECO tem de intervir com urgência. O consumidor, ao pagar a factura, não pode ser defraudado.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
«O único membro da família que publicou um livro de versos (de que ninguém leu bastante) teve a sorte de viver num período em que os poetas eram recebidos nos salões e em casa de famílias. O velho doutor Homem, meu pai, que dedicava uma grande parte da sua biblioteca aos poetas românticos ingleses, abominava vates em carne e osso; em seu entender, um poeta não tinha o direito de se apresentar vivo. Essa sua repulsa era conhecida da família, tanto como a sua paixão pela poesia. Conhecia de cor as mais corpulentas estrofes dos nossos poetas do século XIX e recitava-as com trejeitos cómicos; eram famosas as suas interpretações de Guerra Junqueiro e de Garrett, dois altíssimos momentos do seu tom jocoso. O meu avô, que conheceu Junqueiro e privou com o velho republicano, não apreciava o género, mas tantos anos de convívio com ingleses do Douro fizeram crescer nele o sentido da ironia – e da proporção. Ambos consideravam que a poesia de Junqueiro era boa para ensinar métrica e hendecassílabos, mas que se deveria reservar para a categoria das coisas rurais e patrióticas, de braço dado com «Leva o regadinho» e o Hino da Carta.
Para evitar problemas, o tio Alberto preferia escrever opúsculos e artigos sobre história da gastronomia, coisa que o distraía das consultas dos pareceres jurídicos com que pagava as suas aventuras e vadiagens. A ideia de que se era escritor ao publicar-se um livro era mal aceite pelos bibliotecários da família, habituados a conviver com a dificuldade de traduzir o Tristram Shandy, Milton ou os ensaios de Samuel Johnson. Eles não eram eruditos – apenas tinham a noção das coisas.
Essa «noção» perdeu-se hoje em dia. Portugal vive empenhado em pagar direitos de autor a cavalheiros que escrevem uns livros vagamente parecidos com romances, e a senhoras que – se vivessem noutra época – resolveriam o problema com uma ida mais frequente ao confessionário. A minha sobrinha Maria Luísa, a quem contei o achado, pensa que sou um machista empedernido e uma alma penada sem sensibilidade. Ela comove-se facilmente com poetas que desarrumam o dicionário e são considerados humanistas e homens de letras; quanto aos romancistas, tem as suas preferências por histórias familiares que eu li há muito nos romances populares de Mrs. Trollope ou nos folhetins de antanho. A literatura popular enchia as férias de Ponte de Lima e os areais de Moledo e Afife sem cerimónia e sem regras. Eram volumes que não ficariam bem na Biblioteca Geral da Universidade (refiro-me à de Coimbra), mas que ilustrariam qualquer época balnear - liam-se bem, da mesma forma que digeriam bem as cataplanas de Vigo; tinham sabor, vinham ao gosto de todos e tinham marisco em abundância. As senhoras que hoje escrevem romances de família são excelentes namoradeiras e conhecem a maquineta que comanda as emoções – um casamento desfeito, uma família desorganizada, vícios normais para a idade e interrogações chãs e acessíveis sobre ser adulto. Melhor do que isso fez a literatura popular de outros tempos, que nos ofereceu O Conde de Montecristo, A Ilha do Tesouro ou, bem vistas as coisas, alguns dos folhetins avulsos de Camilo, com a vantagem de serem bons em gramática e de não se levarem a sério no mais importante.
Diante do vastíssimo número de escritores de hoje em dia, o velho doutor Homem, meu pai, colocaria a hipótese de chamar pela polícia de costumes, uma velharia já no seu tempo. Mas a intenção fica.»
«Quando fui votar no boletim de voto não estava lá o nome do Pedro Santana Lopes (...) Se lá estivesse o nome de Santana Lopes não votava. Só que no boletim estava PSD. E eu sempre votei PSD», disse Manuela Ferreira Leite. Fez bem Manuela Ferreira Leite e, se eu fosse militante do PSD, votaria nela por afrontar a choraminguice de Santana Lopes.
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