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O António Manuel Venda descobriu uma aparição de Fernando Pessoa.
Se não fosse para ficarmos preocupados, podíamos rir com gosto: Ângelo Correia anunciou que a candidatura de Passos Coelho à chefia do PSD é uma “janela aberta”, que há-de afastar o “mofo” e o “bafio” – e deixar entrar “uma lufada de ar fresco”. É uma declaração e tanto mas, vindo de Ângelo Correia, tanto desejo de ventania dá vontade de rir, o que é uma pena. É como se António Calvário aparecesse a defender a renovação da música portuguesa. Depois da honrosa e notável entrevista de Passos Coelho ao CM, que indiciava uma respiração diferente no partido, o candidato teve o cuidado de receber alguns apoios fatais que podem garantir votos da máquina partidária mas que hão-de aprisioná-lo por largo tempo ao “mofo” e ao “bafio”, enquanto apresentam a conta. É a vida.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Houve anteontem muito burburinho sobre mais um artigo do Dr. Soares acerca da catástrofe que aí vem – e que só acontece porque não o ouviram em devido tempo, como de costume. Tal foi o burburinho que o PS teve de vir a terreiro dizer que os discípulos tinham essas mesmas preocupações do mestre, e que nem era preciso ele avisar – já sabiam as notícias. Soares diz que o voto de protesto (que irá parar ao PCP e ao BE, e mesmo ao PSD, que fala do social) faz falta ao PS nas eleições. Assim compreende-se a reacção do PS. Se o voto de protesto contra o governo dá votos, o partido fará campanha a bradar contra o Código de Trabalho, o esmagamento da classe média, as desigualdades sociais e a reforma da Saúde. Ou seja: estará nos dois lados das barricadas, de braço dado com o inimigo.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
«Os livros de história pátria não deixaram de festejar os vencedores e os heróis do Mindelo, do cerco do Porto, de Angra e do teatro romântico. Portugal está cheio de derrotados que raramente mereceram atenção diante da hagiografia dos vencedores. Da desconhecida Dona Teresa, mãe do nosso primeiro rei, aos fidalgos que desafiaram o magnífico D. João II e por isso foram supliciados, passando pelos assassinos de Inês de Castro, por D. Leonor Teles e pelo seu conde, ou pelos vícios bonacheirões do nosso trono — há por certo, aí algumas injustiças no juízo dos nossos contemporâneos, habituados ao heroísmo das vitórias e à queima de arquivos. Ora, de alguma maneira, o retrato de D. Miguel lembra-nos a virtude da derrota.
O velho doutor Homem, meu pai, assegurava que ninguém no seu perfeito juízo sabia mais do que três ou quatro frases do discurso justificativo de José Acúrsio das Neves em defesa do Príncipe, e que provavelmente isso não teria importância porque as opções do passado não podem alterar-se dois séculos depois. O facto é que os homens não fortalecem o seu carácter colocando-se sempre do lado dos vencedores. Há uma estranha serenidade que só se adquire nas derrotas e, algumas vezes, na reclusão que deve suceder às humilhações. O nosso mundo não se compadece com esta filosofia despropositada - quer vencedores e, podendo, faz deles vencedores absolutos.
Por isso, quando enfrento o velho retrato do senhor D. Miguel, na casa de Ponte de Lima, iluminado pela penumbra do Verão, filtrada pelos freixos e pelas cortinas da família, penso que o mundo está bem feito. Não muito bem feito. Mas razoavelmente bem feito.»
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