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O Correio da Manhã de hoje informa que «os jogos de futebol da Liga 2007/2008 em que o Clube da Luz participou lideraram a tabela de audiências». Mais: «Nenhum dos encontros, exibidos pela TVI, em que participou o actual Campeão Nacional, Futebol Clube do Porto, figura entre os dez jogos mais vistos.»
Um dia, a bordo de um avião em que ainda se fumava, diz-me uma alta autoridade : «Espero que o Benfica ganhe o campeonato.» Compreendi. Portugal iria ao rubro, a produtividade aumentava e não se falaria dos incêndios de Verão tão cedo. «Mas V. é do Sporting, homem.» «Sim, mas quando o Benfica ganha seja o que for, tudo fica mais calmo.» O Benfica ganhou esse campeonato com Giovanni Trapattoni e três pontos de avanço sobre o FC Porto, que ficou um ponto acima do Sporting. Esta sensação de derrota permanente da maioria da Pátria deixa-me um tanto indiferente, mas compreendo-a. Seis, sete milhões de portugueses deprimidos a reservarem a edição de A Bola onde virá escrito que o FC Porto vai ser interdito, é uma porta aberta para a felicidade. Fazem fila, revezam-se para não perder o lugar, exigem uma justiça divina que interprete o eleitorado futebolístico. Nos tempos de glória do Benfica, Vale e Azevedo chegou a defender que o campeonato não era competitivo com o FCP; eu liguei a televisão várias vezes na esperança de vê-lo a defender a vitória por televoto. Por um lado, admiro este país de resistentes; por outro, aflige-me a sensação de perdição que acompanha os destinos da pátria desde a embaixada de D. Manuel ao papa Leão X, que se traduzem por uma vida contrariada e infeliz.
Escreve Henrique Raposo no Expresso: «É impressionante o silêncio em redor da criação do secretário-geral do sistema integrado de segurança interna. Esta personagem controlará todas as polícias do país e despachará directamente com o primeiro-ministro. Mais: esta figura sinistra será nomeada pelo próprio primeiro-ministro. Como é evidente, esta concentração de poderes é inaceitável. Não é uma questão de opinião. É uma questão de facto: numa democracia liberal, não pode existir intimidade entre governo e polícia. Quando digo isto não estou a entrar no mercado da indignação; estou apenas a ser analítico, ou seja, estou somente a relembrar que os governos democráticos não podem ter um superpolícia no bolso.»
[Via Atlântico.]
A Associação Académica da Universidade de Évora deu um ar da sua graça porque, imagine-se, a Universidade não esteve na disposição de antecipar a ‘pausa pedagógica’ para a semana da Queima das Fitas. Dito isto, vai haver exames e aulas durante os ‘festejos’. A rapaziada, muito patusca e cheia de indignação democrática, acha que os exames e o calendário escolar devem ser marcados ‘em consenso’ com os promotores da Queima – e protestam, dizendo que o Senado da universidade quer ‘arrasar-lhes a festa’. É uma pena que os professores sejam tão aborrecidos. Melhor era que fossem para a Praça do Giraldo dançar ao som de Quim Barreiros e andar de braço dado com forcados: aí sim, a Associação Académica da Universidade de Évora festejaria atitude democrática tão eminente. Assim vamos.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
A sondagem do CM sobre as eleições internas do PSD confirma a ideia de que há uma diferença estrutural entre os militantes do partido – enquadrados pelos líderes, caciques e tiranetes locais – e o eleitorado do PSD. Nem era preciso mostrar a sondagem. Para quem está de fora, são dois mundos de qualidade diferente e, às vezes, abissal. Há uma base de apoio eleitoral ao PSD (marcada pela pobre classe média portuguesa) que não tem equivalente no interior do partido, entregue ao poder de quem maneja as claques e conhece as manigâncias das concelhias e dos seus interesses imediatos. Esse poder tem pouca qualidade e quase nenhuma credibilidade no eleitorado – além de não ter aprendido nada com a humilhação que o eleitorado deu a Santana Lopes em 2005.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Temo bastante que, ao falar-se de droga & toxicodependência, o pessoal abuse dos químicos. O IDT achou que, uma das formas de afastar das drogas os adolescentes, era explicar-lhes, no seu ‘site’, que ‘careta’ é aquele que não toma drogas, um ‘conservador’ empedernido, um menino da mamã, um betinho. Para isso, arranjou explicações plausíveis por parte de psicólogos e sociólogos que são muito bons em ‘experiências pedagógicas’ mas cujos resultados são maus. Na verdade, o calão da droga não é um instrumento pedagógico e um betinho não é, necessariamente, uma má pessoa. Pessoalmente, prefiro que um filho meu seja ‘careta’ em vez de ‘curtir com o pessoal ‘catita’ que consome ‘pólen’. Mas tendo em conta que o Ministério da Educação colaborou nisto, tudo é possível. São os químicos.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Adenda: entretanto, o Dicionário foi retirado do site do IDT.
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