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Parece que o PS vai tentar meter-se com os ‘piercings’, proibindo o seu uso, bem como o de tatuagens, por menores de 18 anos. É uma bela tentativa, digo-vos eu, que detesto ‘piercings’ e acho o excesso de tatuagens uma infantilidade grotesca. Mas, se eu fosse interpretar o “bem comum” (‘piercings’ e tatuagens podem ser perigosos e são esteticamente questionáveis) e transformar “todos os princípios” em lei, não havia código civil que bastasse. Isto não assusta os que pensam que a sociedade precisa de regras que nos levem ao paraíso na terra. O mundo andaria “melhor” – estaríamos vigiados e haveria sempre gente para nos obrigar a escolher o caminho da vida saudável. Nas utopias e nas repúblicas utópicas, havia disso: horas de rezar, de trabalhar e de gozar. No papel, esse mundo era quase maravilhoso – mas na “vida real” era uma antecâmara do horror. Curiosamente, não por causa dos “maus” – mas por causa dos “bons”, que se transformaram em déspotas grotescos e tiranos.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
“Chegou, empurrou a porta com força e deitou o meu irmão [José Torres] ao chão.” Ele tinha sido “um pouco bruto”, diz a crónica do crime de Boticas, publicada ontem no jornal. O que fez então José Torres, de 78 anos? Conta a própria irmã: “Com os nervos foi buscar a pistola e disparou.” Atingiu o outro com dois tiros no coração. O leitor passa por esta história e não lhe encontra o sabor da “criminalidade urbana” que atinge os subúrbios e as noites de Lisboa e do Porto; é um homicídio de vinganças antigas, no intervalo de um jogo de futebol – mas hoje mata-se mais, mais friamente, com o sentido da banalidade muito apurado. Há umas semanas, depois de ter disparado por duas vezes um revólver contra o peito de um antigo amigo com quem andara a jogar à bola da vizinhança (depois, as namoradas separaram-nos), o rapaz olhou à sua volta e perguntou: “Queriam que eu fizesse o quê?” Não é a imagem de um país, mas ajuda a compor o retrato com cores vivas. Ou mortas.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
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