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Tudo começou com uma entrevista de José Eduardo Agualusa ao Angolense. Nela, Agualusa dizia isto: «Uma pessoa que ache que o Agostinho Neto, por exemplo, foi um extraordinário poeta é porque não conhece rigorosamente nada de poesia. Agostinho Neto foi um poeta medíocre. O mesmo se pode dizer de António Cardoso ou de António Jacinto. Foram todos eles grandes figuras do nacionalismo angolano, e eventualmente muito boas pessoas, não sei, não conheci nenhum deles, mas eram fracos poetas. Ruy Duarte de Carvalho é um bom poeta. Ana Paula Tavares tem um trabalho muito interessante. David Mestre merecia ser mais conhecido a nível internacional.»
Quem não gostou foi o Jornal de Angola, que publicou um editorial sobre o assunto: Agualusa procurava «humilhar figuras de relevo da História e da Literatura Nacional». Antes disso, Artur Queiroz, também no Jornal de Angola, protestava pela genialidade da poesia de Neto – mas alongava-se, tranformando a entrevista de J.E. Agualusa num problema de regime: «A grandeza da obra literária de Agostinho Neto foi reconhecida em todo o mundo por académicos, professores, críticos literários e confrades. Vem agora uma flatulência retardada do colonial fascismo sujar a sua memória com uma tentativa de assassinato de carácter.» No mínimo, duvidoso; mas não original, porque não é a primeira vez que este género de reacções tem perseguido escritores que não estiveram do lado certo em Luanda, de David Mestre a Sousa Jamba, passando, claro, pelo ódio de estimação a José Eduardo Agualusa.
Entretanto, Sousa Jamba publicou, no Angolense, um texto em defesa de Agualusa, a que se juntou outro de Justino Pinto de Andrade, logo depois de o director do Inald (Instituto Nacional do Livro e do Disco) ter declarado, para a posteridade, a genialidade da literatura angolana, e de o Jornal de Angola ter retomado o ataque a Agualusa («Agualusa foi longe demais ao atacar grandes figuras emblemáticas da literatura nacional, nomeadamente: Agostinho Neto, António Cardoso e António Jacinto. Afinal em que critério se baseia o agrónomo para fazer tal juízo do mais velho “Kilamba”? Agualusa precisa preparar um trabalho melhor elaborado para refutar todos os ensaístas que escreveram sobre Neto.»).
Guerras antigas de Angola. Convém estar atento, para que não pensem que ninguém ouve.
Entretanto, este é o texto de José Eduardo Agualusa publicado este fim-de-semana no jornal A Capital, de Luanda.
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