Vem hoje a notícia, no
Correio da Manhã: sobre a possibilidade de as brigadas anti-dopagem poderem entrar
em qualquer ginásio (repito:
qualquer) e poderem ter acesso
aos cacifos dos seus utilizadores (repito:
todo e qualquer cliente dos ginásios) e
obrigá-los a fazerem exames mesmo contra a sua vontade. Pareceu-me absurdo abrir os cacifos para controlar nandrolona, marijuana, ibuprofeno, aspirinas e objectos pessoais. Daí até poderem entrar em nossas casas, ia um passo bastante curto. Mais; além de me
parecer absurdo, tratava-se,
realmente, de um absurdo, um inequívoco abuso da autoridade do Estado e da entidade policial encarregue da dopagem que se disponha a controlar os ginásios, «sem pré-aviso», como dizia o documento, e sem distinguir indivíduos.
Informação oportuna que é preciso dar: alertado ao fim da manhã,
alguém obrigou o texto a mudar-se, introduzindo o bom-senso que se exigia (trata-se de combater a dopagem
de atletas federados e de controlar a venda de esteróides, um negócio semi-clandestino de milhões, e com o qual a Direcção-Geral de Saúde já se poderia ter preocupado, em vez de andar a fazer figuras tristes). De facto, não se esperava um projecto de lei tão insensato por parte de uma equipa (a de Laurentino Dias) que tem sido, justamente, sensata. Mas é a prova de que não se podem deixar os legisladores à solta, sobretudo os que se ocupam de apresentar propostas sobre propostas sobre propostas em série. Porque, por vontade deles, mudavam o mundo todas as semanas. Por decreto. E andávamos todos felizes e ordeiros.