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Eu percebo-te, Filipe, mas a questão não está em compreender, humanamente, a separação direitos individuais e os direitos mínimos dos indivíduos. A classe média, justamente, é a razão por que ambos falamos de direitos individuais.
Concordo contigo acerca desse recurso (estético?) ao «regresso do fascismo», que me parece ridículo, imoral e desajustado às circunstâncias e ao país. Mas temo bastante que a reacção a esse excesso dos pessimistas, como tu lhe poderias chamar, seja a normalização de toda a espécie de balbúrdias e trampolinices. Os tempos favorecem o pessimismo, como sabes. Não apenas pelo tom ou pela estética, mas por motivos reais que têm a ver com «menos carne, menos aquecimento, água no leite»; é nestes momentos que é mais fácil abdicar dos pequenos direitos individuais, que às vezes são o único sustento espiritual da classe média. Mas tens razão: vem aí o populismo; e os culpados são aqueles que não aprenderam a lição de Pedro & do lobo.
Evidentemente que o disparate tomou proporções anedóticas. Invocar o nazismo, o fascismo e a limpeza étnica para falar das medidas anti-tabaco não lembra ao diabo. Ou lembra, sim, mas lembra mal. É assim que se perdem as batalhas, indo a combate sem armas. Nazismo, fascismo ou limpeza étnica são coisas graves, arrastam consigo o peso de uma tragédia que ninguém pode pedir emprestada para combates circunstanciais. Pobres almas que não distinguem entre direitos individuais e preferências individuais, entre o direito à escolha e os hábitos pessoais.
O retrato não convém às democracias, mas há sempre horrores a estragar o conjunto. O tapete é vasto e dá para esconder muita coisa. Na Califórnia, por exemplo (anuncia a Humans Right’s Watch), há 227 menores condenados à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional. 45% desses adolescentes não cometeram homicído.
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