Aproveito o final da manhã para percorrer os sites das livrarias portuguesas e recordo uma conversa antiga com o responsável de uma delas a propósito dos
tops. É
mesmo verdadeiro esse
top? «Mais ou menos.» Ou seja: «Bom, se o livro não está no
top também não se vende, não é?» Trata-se de uma coexistência perversa, mas admitida, entre o
top verdadeiro e o
top fabricado para o pequeno
star system livreiro português.
Quando, na década de oitenta, comecei a trabalhar em informação editorial achava graça aos
tops da
Bookseller inglesa, por exemplo, que distinguia entre
novidades e
best sellers; por isso era tão normal que entre as novidades o topo fosse ocupado por, digamos, Robert Ludlum ou Anne Rice ou Tom Clancy; e o
best seller absoluto fosse o dicionário
Oxford.
Ah, estou a dizer que os
tops não são fiáveis? Não totalmente, porque «somos gente de fé». Estou a dizer que é estranha a
coincidência da dança de vencedores em algumas tabelas de vendas. Por exemplo, não desconfio nada
deste; mas há razões para desconfiar do top da Byblos, que no dia da inauguração já tinha, no seu site, um top
muito semelhante ao da Fnac, da Bulhosa e da Bertrand.
Como é possível que, nos
tops nacionais de vendas não exista nunca uma referência ao
Diário de Anne Frank, a Torga, Eça, Pessoa ou Gil Vicente, por exemplo, que os estudantes do 10º, 11º e 12º costumam comprar? Façam as contas. Sobre a nudez forte da verdade – o manto diáfano da fantasia.