A meio da noite (bom, pelos meus critérios, lá pelas dez e meia, onze) encontro todo o género de pessoas na fonte das termas de Chaves. Vou lá por vício, levo o copo de casa (em Chaves, muita gente tem copos no porta-luvas do carro por isso mesmo), bebo a dose que me parece mais indicada à digestão, faço uma caminhada junto do Tâmega, mesmo quando chove, e regresso a casa. Raparigas elegantes que dá gosto ver, também lá vão. Sexagenários, adolescentes, gente em dieta de emagrecimento, grávidas, toda a gente. Anteontem, contei dois jornalistas lisboetas. Hoje, um professor de filosofia no Porto e um grande gestor (sim, desses) de uma dessas empresas (sim, dessas), sem falar de amigos antigos. Mantemos o hábito. O que nos faz essa água, quente, a 70ºC? O meu avô fazia a sua temporada de termas, queixava-se do fígado. Com o Fernão Magalhães Gonçalves, que me apresentou, passeei com Torga naqueles jardins, depois da sua «água da tarde». Isso é uma coisa, na época das termas. Mas nós, os bebedores anónimos, somos «civis» naquele reduto. Tratamos da digestão, passeamos no rio, andamos no meio da chuva.
[Foto de Humberto Serra