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Eles jogavam à bola na Candelaria, os primeiros portugueses.
Melhor: viam os seus filhos jogar. Eles sentavam-se debaixo
das árvores que depois abrigaram revoluções e casamentos
proibidos. Era outro século, havia paredes cobertas de fotografias,
cortinas, penteados, ombros nus tinham muito sucesso
entre adolescentes que não tinham rumo nem passado. Só
havia La Guaira, o Cerro Avila, os subúrbios, o caminho
para as cordilheiras ou para Maracaibo, praias para lá dos muros,
céu sem melancolias, enumerações de bens inocentes
e de trabalhos circulares. Os seus filhos jogavam à bola
na Candelaria, conheciam-se os seus passos, os seus esconderijos.
Muitos anos depois contam-se pelos dedos os casamentos
desfeitos, as fortunas construídas, a pequena economia
de vizinhos que aprenderam a viver em terras estranhas.
Construíram casas nos planaltos, nos declives, aprenderam
a ler, a escrever, a contar, a sentar-se sob as árvores
para apreciar melhor a doçura da Praça Bolívar,
a cerveja, a maledicência amorosa. Amo esta gente, os primeiros
portugueses que chegaram a La Guaira e fundaram orquestras
ou plantaram amendoeiras para que a terra não lhes
fosse tão estranha nem as trovoadas tão adversas.
Se me Comovesse o Amor
[Edição Quási. Colecção Uma Existência de Papel.]
2. Tomás Vasques, como sempre, acerta na questão venezuelana. Um pormenor a ter em conta, este.
3. Ter em atenção, de novo, esta reportagem de El Clarín.
[FJV]
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