||| Frankfurt, Buchmesse.
Durante dezasseis anos frequentei a Feira do Livro de Frankfurt. A Buchmesse, para os íntimos. Com o tempo, a gente desinteressa-se; são 12 quilómetros de livros, uma feira de vaidades, gente que corre,
best-sellers prometidos com antecedência de um ano, folhetos em todas as línguas, livros desconhecidos. Não, não é uma feira de literatura; é uma feira de profissionais do livro, com a sua fauna particular, a sua botânica, os seus habituais, os vícios todos reunidos. Os puristas, envergonhados, reclamam: que ali não há literatura. Não há. Ou seja, não há apenas literatura; há livros de tudo, sobre tudo, em todo o lado. Sinceramente, eu gosto. Durante dezasseis anos, viciei-me. Depois, estive alguns anos sem ir, e senti falta dos corredores limpos, dos dois
pubs onde se marca encontro com agentes apressados e amigos que se revêem por cinco minutos num ano, dos bares dos hotéis ao fim da tarde (
Jameson é a bebida oficial, juntamente com
Warsteiner), das listas intermináveis de livros destinados ao esquecimento, das jornadas pelos restaurantes da velha Frankfurt (sim, há um pouco de Goethe), do Irish Pub em Sachsenhausen para jogar setas, das viagens de vinte minutos para Bad Homburg, dos domingos para visitar Heidelberg e regressar num comboio cheio, dos restaurantes turcos, dos cocktails da Random House, dos hotéis da feira (o Grand Arabella, o Frankfurter Hof), dos editores brasileiros e espanhóis, dos passeios ao longo do Main, carregado de livros e de ideias para livros que nunca se escrevem, que nunca se lêem e nunca acontecem. Lamento os puritanos. Deles será, certamente, o reino dos céus; mas o vício dos livros é maior. Regresso este ano.
[FJV]