|||O cantinho do hooligan. Apito.Poderemos falar, evidentemente, de uma manifesta boa-fé por parte dos comentadores desportivos, mas duvido que as vénias ao «maior clube do mundo» caibam nessa categoria; «o glorioso», as «cores da vitória», o «voo da águia» e outros ditirambos dão-me vontade de rir. Eu dou-me ao luxo destes intervalos no uso da razão geral; mas «os comentadores» deviam conservar uma parte do seu bom-senso, a menos que façam o prefácio, esclarecendo: «Meus amigos, a partir de agora, trata-se de hooliganismo puro, o Pinto da Costa irrita-me, os
andrades chateiam-me, o Helton e o Quaresma deixam-me fora de mim; achem graça, por favor.» E diziam as coisas habituais; e todos ríamos com gosto. Evidentemente que não levo
todo o futebol a sério, mas o lambebotismo faz impressão. Acho graça a certos maduros, cujo veneno aprecio à distância no negócio do papel impresso (a vida está difícil para todos, sejamos compreensivos). Reconhecem-se à distância. Têm uma gramática e um dicionário que não falham, herdeiros da «crítica do sistema» e dos grandes dias de glória. Pessoalmente, quanto mais «dias de glória» evocam, mais radiante fico com os seus desaires. Sou pelo negócio dos anti-depressivos, pelos lamentos sobre «os dias passados». Gosto que tenham sinfonias e filmes, hinos com papoilas e milhafres a voar sobre as bancadas. Gosto que sejam os maiores do mundo. É nestas ocasiões que
um golo quase fortuito, já aos 92 minutos, depois de um passe defeituoso de Lucho e de uma primeira parte para esquecer, me dá uma alegria tremenda. Felicidades a todos, e continuem.
Recomendo este excelente
texto de Vasco Lobo Xavier, no Mar Salgado.
[FJV]