||| Valter.Esta manhã, no Hotel da Lapa, editores, jornalistas, alguns autores, aguardavam o anúncio do Prémio José Saramago, que
foi atribuído a Valter Hugo Mãe. Perdeu-se o hábito, entre nós, de os autores acompanharem «os seus pares». Pessoalmente, acho que é um bom hábito que não tem a ver com o sentido de corporação. As pessoas vivem no meio do pequeno ciúme, da rivalidade com ressentimento, do abismo que sacrifica relações pessoais. Claro: ou há, ou não vale a pena fingir; pessoas que se zangam são pessoas que se zangam, mas o que é irritante é o despeito. Mas foi bom ver o Gonçalo M. Tavares ou o Almeida Faria, por exemplo, ou até a Graça Morais, assistirem aos discursos, acompanharem o premiado. Não porque ele seja, vá lá, «um de nós», apenas nesse sentido. Mas porque a vida dos autores também é feita destas circunstâncias em que não é bom estar só nem é justo que seja abandonado. Como recebi um desses prémios, sei do que falo e não esquecerei os amigos que lá estiveram. Mas é pena, como reconheceu o Eduardo Pitta, que os autores sejam os primeiros a primar pela ausência. Esses não poderão, como Samuel Johnson, dizer «We, authors...»
[Manuel Jorge Marmelo retrata esta conspiração angolana; nem de propósito, o elogio do livro vencedor foi feito por Ana Paula Tavares, angolana.][FJV]