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por FJV, em 14.09.07
||| Culpa e perseguição.








O caso McCann comove, mesmo à distância. A multidão ulula, querendo justiça e sangue. O rosto de Kate McCann, aparentemente impassível convida as multidões ululantes à gritaria; coisa de «cultura», como me explicam, porque as «multidões do sul» sofrem ruidosamente como todos os coros de carpideiras. Numa peça de televisão revejo aqueles rostos irados, pedindo justiça e sangue; e, ao mesmo tempo, vaiando Kate McCann. Por isso, a frase mais exemplar de todo este processo é a de Bruno Sena Martins, que escreveu isto: «Quase desejo que aqueles pais sejam culpados para não estarem inocentes a sofrer tudo isto.» É uma frase igualmente cruel; mas, banalizada a crueldade da rua, a criança desaparecida já desapareceu. Agora, as multidões querem culpados; a criança desapareceu. Porque, se estes pais (se Kate McCann) estão inocentes e ouvem toda esta gritaria, qualquer coisa terrível terá de acontecer.
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por FJV, em 14.09.07
||| Notas soltas antes do jogo. No mercy for Portugal.














1. Amanhã ao meio dia, os Lobos jogam com os All Blacks. O primeiro sinal vai ser durante o Haka. Quero ver o olhar dos rapazes; intimamente, gostava que desatassem a rir.

2. Graham Henry, o seleccionador neozelandês: «Eu vi o jogo [de Portugal] contra a Escócia na semana passada e fiquei impressionado com o entusiasmo e o enorme espírito que colocaram em campo. Eles estão muito satisfeitos por estarem aqui e divertem-se a jogar râguebi no Campeonato do Mundo. Estou mesmo impressionado com a atitude deles. Tenho a certeza que Portugal está muito entusiasmado com o jogo e os adeptos também vão estar.»

3. Toda a gente murmura que a Nova Zelândia alterou toda a equipa, mudando onze jogadores. Mas não se trata de uma segunda linha; a Nova Zelândia podia enviar quatro selecções A ao Mundial.

4. Ora, Portugal também vai mudar mais de metade da equipa. Nove jogadores, no total. Na defesa, aliás, há uma mudança muito significativa: David Mateus sai e, em princípio, não vai estar no jogo. O que significa que, mesmo com a alegria do jogo, e o amadorismo, não se esquecem aquelas duas placagens falhadas («Na defesa não podemos falhar placagens», avisou o treinador, optimista). E fatais.

5. Se a Nova Zelândia muda onze e Portugal muda nove, não há argumentos nem desculpas; é jogo puro, Tomás Morais está na linha de risco. Leon MacDonald, um dos All Blacks, relembra: «They're pretty brave. They tackle their hearts out. When they play against us they will have confidence that they can compete, like they competed against Scotland.» O título da notícia é este: «No mercy for Portugal, MacDonald warns.»

6. Ao dar a notícia das nove mudanças portuguesas («incredible nine changes»), o site de tv Setanta, menciona o kiwi clash: «Portugal name team for Kiwi clash.» «Portugal have made an incredible nine changes to their starting XV for their first ever meeting with New Zealand in Pool C on Saturday.»

7. O site Rugby Heaven, da Nova Zelândia, titula: «Portugal parody not up to standard.» E mais à frente: «Yes, it's the chance of a lifetime for 15 unknowns from Portugal but is being the victims of a stampede in front of a global audience really something they'll relive with the grandkids?» (Aqui, a análise das mudanças portuguesas.)

8. Depois das palavras elogiosas de Laurent Bénézech sobre a selecção portuguesa, vamos ver como ele aprecia o jogo de amanhã. O seu site resumia: «L'ogre et les Loups».

9. Mais logo, a crónica de João Fragoso Mendes sobre o jogo de amanhã.

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por FJV, em 14.09.07
||| Correspondência geral.


Almerindo Morais, por mail, relembra este passo da entrevista de Gonçalo Uva ao Público:
«Quais são os objectivos de Portugal para o jogo de amanhã?
Eu quero divertir-me. Quero entrar em campo e desfrutar do momento. Não sei se os treinadores querem que eu fale dos objectivos...»
Acrescenta A.M.: «Não se lhe pede mais nada. Só isso mesmo, divirtam-se e aproveitem bem o momento.»
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por FJV, em 14.09.07
||| Música de malandro.

A Roda de Choro de Lisboa vai estar na Casa da América Latina no próximo dia 27. Vai haver polcas, mazurkas, maxixes, baiões e valsas, além de Noel Rosa, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, João Bosco, Waldyr Azevedo e Ernesto Nazareth, entre outros.
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por FJV, em 14.09.07
||| Cerveja.
A visitar o ciclo de posts de Luís Carmelo sobre cerveja e literatura. Eu gosto da relação. Tem espuma.
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por FJV, em 14.09.07
||| Direito aos direitos humanos.
Ontem, ouvi um membro do governo declarar que «os direitos humanos não são negociáveis» e que o problema da vinda de Robert Mugabe seria tratado com pinças. Mas, insistiu: os direitos humanos não são negociáveis, a Europa não abdica de falar deles mesmo que Mugabe ladre. Eu acho bem. O nazi de Harare é um dos dejectos de África.
Que os europeus bradem pelos direitos humanos em África parece justo e decente; mas também é mais fácil e não é muito polémico. Talvez um dia digam isso aos chineses.
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por FJV, em 14.09.07
||| Sexo à vontade.











Oiço na rádio os dados de um estudo que revela sinais prometedores para a democracia. As mulheres portuguesas querem mais sexo, cerca de 56% acha que o ideal é uma frequência de «quatro a cinco vezes por semana»; 27% delas prefere «todos os dias» ou «várias vezes por dia». O mundo tem sentido, mesmo que dê muito trabalho.
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por FJV, em 14.09.07
||| Mães e filhos.
A imprensa ficou muito chocada com as revelações do diário de Kate McCann. Não só parte da nossa (aquela que acha que os culpados devem ser escolhidos segundo a fé dos editores ou dos informadores que têm de garantir). Os jornais espanhóis e brasileiros, que eu li ontem, demonstravam choque e pavor: a mãe achava que as crianças eram histéricas, que Maddie era hiperactiva e que o marido não ajudava a tratar dos gémeos. Daí se infere, portanto, que estava tudo escrito. Uma mãe que acha isso está destinada ao infanticídio, à carreira do crime -- e à condenação popular. Primeiro, procuraram-lhe as lágrimas; não encontraram. Depois, investigaram no diário expressões de dedicação maternal mais delicodoce; não encontraram. Está, então, tudo explicado.
Não me interessa a investigação; apenas acompanho. Mas estas inferências explicadas ao povo são escolhidas a dedo. Todas as mães chamaram histéricos aos seus filhos e todas já acharam que eles são hiperactivos. Todas já acharam que os maridos (como aquele) não as ajudavam. Todas elas, em algum momento, pensaram na sua vida sem filhos. Todas elas têm vida para além dos filhos e nenhuma delas está exclusivamente destinada, como se fosse carne para canhão, à carreira de reprodutora e puericultora. O que se pretende fazer com a «caracterização psicológica» de Kate McCann é uma filha da putice.
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por FJV, em 14.09.07
||| O cantinho do hooligan. Mau feitio.
Só para que conste, por causa do mau feitio: ontem de manhã, as rádios transmitiram apelos lancinantes do povo para que Scolari se demitisse ou fosse demitido, porque aquilo (andar a bater em sérvios) não se faz. Eu acho que Scolari tem sido um treinador abaixo do razoável, ao nível da burrice média e do primeiro dos jogos com a Grécia. Basta ver os últimos seis jogos da selecção. Miséria. Se fosse por isso, aceitaria que se ponderasse a demissão nesta altura do campeonato. Mas tamanha indignação do povo (acrescentada à indignação de Javier Clemente, cujo penteado é quase tão mau como o de José Antonio Camacho), pedindo moral nos estádios e polícia de costumes nos lares, gritando contra o sangue na estrada e os mosquitos nas albufeiras, indispôs-me a sério. Ao ver tamanha concentração de ex-namoradinhos de Scolari a bradar em nome da moral, deu-me uma vontade fatal de lhe mandar um abraço e de ir a Espanha à procura de sérvios disponíveis para serem agredidos. Não vi a entrevista na RTP, ouvi só o essencial da lamúria de perdão. Que queiram puni-lo por defender um futebol asno, já vêm atrasados. Mas que queiram castigá-lo por motivos destes, entregando-o a Javier Clemente, à UEFA e aos patetas da ordem, não contem comigo; um seleccionador nacional existe para o podermos criticar permanentemente e para lhe encontrarmos defeitos e vícios insuportáveis; mas é nosso e faz-nos jeito. Agora, entregá-lo por causa das «cores nacionais» e do «espírito desportivo» e do «fair play» e do «desgraçadinho do sérvio»? Não. Queremo-lo cá para lhe aplicarmos sarrafadas. Mas só nós.
[FJV]

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por FJV, em 14.09.07
||| Género humano.
O artigo é ligeiramente enganador, mas tem momentos: «É como se a solidão fosse uma molécula ou deixasse uma impressão digital no organismo.» Investigadores descobrem marcas da solidão nos genes. Mas não é bem neles, nos genes. O género humano às vezes agrada-nos quando sofre.
[FJV]

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