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por FJV, em 25.08.07
||| Um homem bom, com uma história fantástica. 1924-2007.







Conheci Daniel Morais em Caracas e tenho pena de me ter contado apenas uma parte da sua história fantástica. Chegou à Venezuela em 1948, depois de uma passagem por Caxias e pelo Aljube (pertenceu ao Comité Central do MUD-Juvenil). Em Caracas, fundou uma empresa de mobiliário – foi responsável pela modernização do
design de mobiliário no país, o que lhe valeu o interesse da Sears americana, que acabou por adquirir-lhe a empresa. A «actividade empresarial» nunca o afastou da militância política; colaborou frequentemente com o Partido Socialista e com exilados que chegavam à Venezuela nos anos cinquenta e sessenta. Mas também nunca o afastou dos seus interesses culturais nem daquilo que, em Portugal, é olhado com desinteresse pelo cidadão comum e com cinismo pelos responsáveis políticos: o associativismo dos emigrantes. Foi graças a ele que se fundou (em 1958) e adquiriu uma dimensão tão relevante o Centro Português de Caracas (um edifício cuidado e gigantesco, à maneira de um verdadeiro ‘country club’, nos limites da cidade, em Macaracuay, rodeado de verde, colorido por piscinas e vidros limpos, com salas para aulas de português, biblioteca, restaurantes, consultórios médicos, enfermarias e ginásio). Fundou jornais, colaborou na rádio e era um repositório da memória viva da emigração portuguesa na região. Em 1985 criou o Centro Fernando Pessoa, agora Fundação Instituto Português de Cultura; desde 1989 que desempenhava as funções de adido cultural na embaixada portuguesa na Venezuela, e posso dizer que realizou um excelente trabalho. Era um homem distinto que gostei de conhecer e de ouvir. É pouco provável que esqueça um jantar memorável com aquele homem de 83 anos (e com outros amigos de Caracas que também não esquecerei) que bebia whisky cuidadosamente, diante de um dos seus médicos (outro homem notável), comendo com alegria (foi uma verdadeira aula da gastronomia), conversando, rindo e fazendo amigos. Vivia preocupado com o autoritarismo e o descalabro do regime venezuelano, e a crescente insanidade de Hugo Chávez, o que lhe valeu fortíssimas desilusões ao verificar como alguns portugueses ilustres se venderam ao tiranete (mas teve a coragem de lhes dizer isso pessoalmente – a gente que sempre ajudou ao longo da vida e que cometeu a deselegância de o ignorar agora). Recordo também um fim de tarde numa das mais belas livrarias de Caracas – as livrarias eram um dos seus lugares preferidos , a El Buscón, em que me guiou pelas estantes com a erudição de um apaixonado, de um aventureiro e de um homem justo; apreciei-lhe o sentido de humor, as leituras, o amor pelos livros e a impressão de que as desilusões da política (sobretudo diante da ingratidão de alguns dos seus antigos companheiros) não conseguiram apagar aquele rasgo de generosidade com que a comunidade portuguesa da Venezuela sempre mo descreveu, em vários testemunhos. Também não esquecerei a última conversa com Daniel Morais, pelo telefone, nem a promessa que lhe fiz de um dia voltar à Venezuela para escrever sobre aquelas histórias de heróis solitários perdidos entre o mar das Caraíbas e os Andes, em cidades onde se ouve aquela música que evoca amores distantes e destinos sem sentido; e sobre as últimas árvores de alguns dos bairros de Caracas, ou sobre essa gente que atravessou o Atlântico para fugir de Portugal. Ele seria uma figura de romance, certamente. Aliás, ele é uma figura de romance. O coração traiu-o mais uma vez. Morreu ontem em Caracas.

Foto: Caracas com o Cerro Ávila; a memória de Daniel Morais há-de gostar.

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por FJV, em 25.08.07
||| Eles foram apanhados. O cerco.
O Supremo Tribunal Federal decidiu aceitar as denúncias contra 19 dos 40 nomes que figuram no caso do mensalão, sob a acusação de peculato e lavagem de dinheiro. Entre eles estão João Paulo Cunha (ex-presidente da Câmara de Deputados, pelo PT), Marcos Valério (encarregado do pagamento do mensalão aos deputados e «caixa dois» do PT), Henrique Pizzolato (ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, de onde lubrificou a máquina do PT), Luiz Gushiken (ex-secretário da Comunicação de Governo e Gestão Estratégica e ex-assessor especial de Lula) ou Professor Luizinho (ex-deputado do PT e ex-líder do governo Lula no Congresso), Paulo Rocha (ex-líder do PT na Câmara de Deputados) Anderson Adauto (ex-ministro dos Transportes de Lula), entre outros.
As acusações de formação de quadrilha e corrupção ainda não foram analisadas pelo STF e entre os suspeitos denunciados pelo procurador-geral da República estão José Dirceu ou José Genoíno. Na próxima semana continua a saga.

Josias de Sousa: «Seja como for, a presença invisível do PT no banco dos réus é, a essa altura, de uma nitidez hedionda. Pode-se enxergar a legenda de Lula de duas maneiras. Alguns vêem o partido como um inocente culpado. Outros, como um culpado inocente. Em qualquer hipótese, enganchou-se no logotipo do PT o adjetivo “culpado”. Ex-borboleta da política brasileira, o PT ganhou, nos contornos do voto do ministro Joaquim Barbosa, uma aparência de larva. Uma lagarta que imprimiu em cada linha, em cada parágrafo, em cada página do texto do relator, um rastro pegajoso de perversões. O pior é que o partido parece ter-se habituado à nova fisionomia.»
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por FJV, em 25.08.07
||| Meia-hora.












Hugo Chávez vai mudar o fuso horário da Venezuela. Não uma hora, não duas, não três. Mas meia-hora. Segundo o ministro de Ciência e Tecnologia, Hector Navarro, a medida visa «uma distribuição mais justa do sol». Meia hora. Aprendam.
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por FJV, em 24.08.07
||| A vida é assim.














Só no Brasil. A jornalista Mônica Veloso, o vulcão que criou o caso Renan Calheiros, o escândalo da moda, decidiu posar para a Playboy. Fez bem. As fotos foram tiradas na Gávea, um dos meus lugares do Rio. Perdendo-se um corrupto senador da República, ganha-se uma mulher na flor da idade. Chato, não?
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por FJV, em 24.08.07
||| Pessimismo, claro. O cerco, 2.
59 contra 41. Os leitores da Folha acreditam que o Supremo brasileiro vai «aceitar denúncia do procurador-geral da República contra os 40 envolvidos no escândalo do mensalão – esquema que financiava parlamentares do PT e da base aliada em troca de apoio político». Entretanto, foi já aceite, na sessão de ontem, «a denúncia de gestão fraudulenta contra três atuais dirigentes do Banco Rural», um dos motores do mensalão. O que torna tudo mais claro: ou seja, provando-se o delito, tem de haver suspeitos. O relator do processo indiciou, a propósito de José Dirceu: «São imputadas a ele acusações com base em vícios que analisaremos...»
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por FJV, em 23.08.07
||| Pessimismo, claro. O cerco.
Suspeitas de escutas aos telefones dos juízes do STF, campanha de rua para absolver «os companheiros», tudo serve para criar uma onda de pessimismo.
Links fundamentais da sessão de hoje: resumo da sessão. Defesa dos suspeitos. Procurador-geral da República reforça denúncias da quadrilha. O que está em causa não é provar a culpa dos membros da quadrilha mas apenas a admissibilidade do processo.
Como funcionava o mensalão. Quem são os implicados. Cronologia.
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por FJV, em 23.08.07
|||Tradição lusitana.
João Otávio de Noronha, um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) brasileiro, propôs «o fim do foro privilegiado para autoridades do poder público». Ou seja, que os crimes dos políticos sejam julgados por um tribunal comum. Tudo bem. Simplesmente, a acusação é maior e traz consigo o rasto de complexo colonial: «É preciso acabar com essa cultura lusitana e antidemocrática», diz João Otávio. Amigos brasileiros: não se importam de lhe explicar que o Brasil já tem tradições que não dependem de nós, portugas?
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por FJV, em 22.08.07
||| O cantinho do hooligan. A Arménia, esse colosso.
Não há-de ser nada. O problema foi o relvado.
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por FJV, em 22.08.07
||| Carviçais Rock, por José Rentes de Carvalho.






A propósito deste post, veja-se a entrada de 31 de Julho de 2004 no diário de José Rentes de Carvalho, por gentileza do autor:

«Sábado 31 de Julho - É daqueles acontecimentos que provam como acompanho mal a actualidade. Quando mo disseram julguei que fosse gracejo, ou iniciativa de meia dúzia de jovens a sofrer a nostalgia de um Woodstock que não viveram. Nada disso. É mesmo festival a sério, com palcos, música e barulho a condizer, tendas, bebida, geradores eléctricos, rapazes com o cabelo em rabo de cavalo, rapariguinhas vestidas à cigana. Carviçais Rock. À beira da estrada, mas de facto in the middle of nowhere. Vou, cheio de curiosidade e fico desolado. É triste. É pelintra. É má imitação. Até os hippies que por ali se arrastam são de pechisbeque: a fingir de drogados, nem sequer estão bêbedos. Em volta deles há uma multidão que veio para ver, velhos e novos, mulheres, homens, crianças, todos de boca aberta, o ar pateta como se estivessem num jardim zoológico defronte de animais exóticos.
Terminado o festival os homens da Câmara fizeram a limpeza. Depois houve churrasco e carrascão. A alegria foi tanta que quando deram por ela as labaredas tinham atravessado a estrada. Arderam pinhos, oliveiras, amendoeiras e mato, porque mais já não há.Com aviões e helicópteros conseguiram parar o incêndio quando ele, em Estevais, seis quilómetros adiante, estava a chegar às casas. Este ano, felizmente, a Câmara não deu verba.»

[FJV]

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por FJV, em 22.08.07
||| O cantinho do hooligan. Um título a sério.
Luís Filipe Vieira arrasa Nuno Gomes (o que é estranho; um presidente de um clube não desata a desvalorizar os seus rapazes) é este o título de uma notícia da edição de hoje do DN. Insuspeito de apreciar o género de futebol de Nuno Gomes, faço-lhe um elogio público: pode marcar golos mas não entende nada de oportunidades.
[FJV]

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por FJV, em 22.08.07
||| Começa hoje.
Agora que o Supremo brasileiro vai começar, a partir de hoje, a discutir se a quadrilha do mensalão vai ou não ser julgada, pode relembrar-se este momento glorioso, «o repto lançado por Roberto Jefferson na direção de José Dirceu, à época o chefão do Gabinete Civil de Lula»: «Rápido, sai daí rápido Zé, senão você vai fazer réu um homem inocente, que é o presidente Lula...» Dirceu saiu; enxotado. Como declarou o Apedeuta: «Foi afastado. Foi afastado. Eu o afastei. Afastei o Zé Dirceu, afastei o Palocci, afastei outros funcionários que estavam envolvidos e vou continuar afastando.»
[FJV]

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por FJV, em 22.08.07
||| Os meninos eléctricos.
Houve um certo alvoroço com esta notícia; a GNR «deteve 108 pessoas, entre os 20 e 30 anos durante o festival de música electrónica em Elvas, nos últimos dias, e apreendeu 15 mil doses individuais de droga». Uma mulher acabou mesmo por morrer de overdose. A gloriosa província renasce das cinzas. Há tempos ouvi falar do festival de música electrónica (creio que não é bem isso) em Carviçais. Eu lembro-me de Carviçais na minha infância e adolescência, conhecida apenas pela proximidade das minas de volfrâmio do Carvalhal, pelo restaurante Artur (então uma taberna) e pela paragem de cinco minutos da automotora Pocinho-Duas Igrejas (o comboio normal parava durante mais tempo por causa do vagão postal e das mercadorias). Imagino a impressão que farão o techno, o trance e outras formas de arte sofisticadas no planalto desertificado do Nordeste, aborrecendo as cigarras, os grilos, os melros e os escorpiões dos penhascos e dos olivais. Em tempos, ali perto do Sabugal, uma freguesia da montanha anunciava um espectáculo na antiga Casa do Povo com duas bandas de death-metal («o mosh começa às dez da noite», terminava o folheto). Já quanto a Elvas, compreendo; ali, o festival é um grande acontecimento turístico no arame da fronteira. Sinceramente, tanto me faz que eles caiam que nem tordos ao som de música electrónica como se abatam a si mesmos com «1,9 quilos de haxixe, 1478 selos de LSD, 440 gramas de anfetaminas, 70 gramas de cocaína, 3,6 gramas de heroína e 70 comprimidos de ecstasy» (foi esta a apreensão no local), porque parece que a ideia era «juntar entusiastas do psicadélico e pessoas com filosofias interessantes de todos os pontos do globo e promover o equilíbrio entre a natureza e a tecnologia». No hospital local apareceram 36 pessoas com sinais de consumo excessivo de drogas, a necessitar de apoio médico. Apenas peço que alguém limpe o tapete.
[FJV]

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por FJV, em 22.08.07
||| Menezes.
É a guerra, é a guerra. Mesmo com plágios.
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por FJV, em 22.08.07
||| O dinheiro dos partidos.
Se José Lello alguma vez comentar este assunto, será motivo para felicitar Vital Moreira.
[FJV]

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por FJV, em 22.08.07
||| Atum Chávez & Humala.










O Henrique Burnay descobriu esta preciosidade. Trata-se de latas de atum com os retratos de Chávez e Ollanta Humala (nacionalista e folclorista peruano apoiado por Chávez nas eleições, e derrotado). O governo de Caracas diz «que desconoce su origen» e atribui a patetice ao imperialismo americano. Duas semanas atrás, o governo venezuelano também desconhecia a origem de uma mala com 800 mil dólares «en efectivo» apreendida em Buenos Aires a um executivo da PDVSA (a estatal de petróleo venezuelana) e eventualmente destinada a financiar a campanha eleitoral da mulher de Kirchner; o transportista limitou-se a viajar com o staff governamental venezuelano e a partir com ele para o Uruguai. Caracas diz que a mala é uma manobra americana.
[FJV]

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por FJV, em 22.08.07
||| O deserto.
É para quase toda a gente evidente que o senhor ministro da Administração Interna não aprendeu nada com o seu trabalho anterior. E devia. Vendo bem, e lendo bem as suas declarações na SIC, trata-se de um falhanço político que tenta refugiar-se em armadilhas jurídicas. O seu papel, naquele momento, era essencialmente político.
[FJV]

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por FJV, em 21.08.07
||| Problemas, problemas.
Pois. Há explicações que têm de ser dadas. Contas são contas. Era uma boa oportunidade para começar a pôr as contas dos partidos em dia.
[FJV]

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por FJV, em 21.08.07
||| O cantinho do hooligan. A Arménia, esse monstro.
Isto poderia ser trágico: Portugal tem de vencer a Arménia. Contentai-vos, canibais.
[FJV]

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por FJV, em 21.08.07
||| Coisas do Verão





1. A morte de Bergman e de Antonioni. É uma parte do «meu» cinema que desaparece. Uma parte de mim.




2. A livraria Michelena, em Pontevedra. Tomara a província portuguesa ter livrarias assim...



3. O restaurante El Crisol, no O Grove (Galiza). A qualidade gastronómica e a simpatia no atendimento. Parabéns, D. Digna!





4. O bar de copas Vinilo, também no Grove. Para um urbano-depressivo como eu, um oásis no meio das férias. E com fumo, como convém.






5. O Terras Gaudas, que descobri há muitos anos atrás pela mão do Paco Feixó. Continua um vinho branco excelente, a provar que o Albariño pode ser acertadamente misturado com outras castas.





6. Os contos de Hemingway, numa excelente edição (e tradução) espanhola da Lumen. O reencontro com um dos "meus" escritores.

7. Estar no Algarve fechado num hotel como se o Algarve não existisse. A felicidade às vezes anda perto de nós.

[MAV]

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por FJV, em 21.08.07
||| O cantinho do hooligan. Nada contra.
Parece que Fernando Santos foi surpreendentemente despedido pelo Benfica que, há já uns tempos, tinha Camacho cuidadosamente preparado. As coisas inesperadas têm sempre um longo historial a anunciá-las.
[FJV]

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