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por FJV, em 25.08.07
||| Eduardo Prado Coelho, 1944-2007.











Antes de tê-lo conhecido, era um seu leitor. Depois, foi meu professor na universidade. Era um professor tolerante, conversador, estimulante. Graças a ele, comecei a escrever nos jornais. Ficámos amigos e tratei-o sempre como «meu professor»; eu tive orgulho nisso e, a avaliar pelas vezes em que o Eduardo escreveu que eu tinha sido seu aluno, ele também devia ter tido algum em mim. Aprendi com ele, sim. Li bastante. Estudei bastante com ele. Também «polemizámos» e até nos ignorámos e irritámos. Os últimos tempos de vida de Eduardo mostraram-me que se deve ter respeito pelos mestres. Foram dolorosos; humanamente, fisicamente dolorosos estes últimos tempos. Não preciso de estar de acordo com ele (em literatura, quase nunca; em política, raramente) para reconhecer que foi um dos meus professores. Um dos mestres que tive orgulho em respeitar.
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por FJV, em 25.08.07
||| Um homem bom, com uma história fantástica. 1924-2007.







Conheci Daniel Morais em Caracas e tenho pena de me ter contado apenas uma parte da sua história fantástica. Chegou à Venezuela em 1948, depois de uma passagem por Caxias e pelo Aljube (pertenceu ao Comité Central do MUD-Juvenil). Em Caracas, fundou uma empresa de mobiliário – foi responsável pela modernização do
design de mobiliário no país, o que lhe valeu o interesse da Sears americana, que acabou por adquirir-lhe a empresa. A «actividade empresarial» nunca o afastou da militância política; colaborou frequentemente com o Partido Socialista e com exilados que chegavam à Venezuela nos anos cinquenta e sessenta. Mas também nunca o afastou dos seus interesses culturais nem daquilo que, em Portugal, é olhado com desinteresse pelo cidadão comum e com cinismo pelos responsáveis políticos: o associativismo dos emigrantes. Foi graças a ele que se fundou (em 1958) e adquiriu uma dimensão tão relevante o Centro Português de Caracas (um edifício cuidado e gigantesco, à maneira de um verdadeiro ‘country club’, nos limites da cidade, em Macaracuay, rodeado de verde, colorido por piscinas e vidros limpos, com salas para aulas de português, biblioteca, restaurantes, consultórios médicos, enfermarias e ginásio). Fundou jornais, colaborou na rádio e era um repositório da memória viva da emigração portuguesa na região. Em 1985 criou o Centro Fernando Pessoa, agora Fundação Instituto Português de Cultura; desde 1989 que desempenhava as funções de adido cultural na embaixada portuguesa na Venezuela, e posso dizer que realizou um excelente trabalho. Era um homem distinto que gostei de conhecer e de ouvir. É pouco provável que esqueça um jantar memorável com aquele homem de 83 anos (e com outros amigos de Caracas que também não esquecerei) que bebia whisky cuidadosamente, diante de um dos seus médicos (outro homem notável), comendo com alegria (foi uma verdadeira aula da gastronomia), conversando, rindo e fazendo amigos. Vivia preocupado com o autoritarismo e o descalabro do regime venezuelano, e a crescente insanidade de Hugo Chávez, o que lhe valeu fortíssimas desilusões ao verificar como alguns portugueses ilustres se venderam ao tiranete (mas teve a coragem de lhes dizer isso pessoalmente – a gente que sempre ajudou ao longo da vida e que cometeu a deselegância de o ignorar agora). Recordo também um fim de tarde numa das mais belas livrarias de Caracas – as livrarias eram um dos seus lugares preferidos , a El Buscón, em que me guiou pelas estantes com a erudição de um apaixonado, de um aventureiro e de um homem justo; apreciei-lhe o sentido de humor, as leituras, o amor pelos livros e a impressão de que as desilusões da política (sobretudo diante da ingratidão de alguns dos seus antigos companheiros) não conseguiram apagar aquele rasgo de generosidade com que a comunidade portuguesa da Venezuela sempre mo descreveu, em vários testemunhos. Também não esquecerei a última conversa com Daniel Morais, pelo telefone, nem a promessa que lhe fiz de um dia voltar à Venezuela para escrever sobre aquelas histórias de heróis solitários perdidos entre o mar das Caraíbas e os Andes, em cidades onde se ouve aquela música que evoca amores distantes e destinos sem sentido; e sobre as últimas árvores de alguns dos bairros de Caracas, ou sobre essa gente que atravessou o Atlântico para fugir de Portugal. Ele seria uma figura de romance, certamente. Aliás, ele é uma figura de romance. O coração traiu-o mais uma vez. Morreu ontem em Caracas.

Foto: Caracas com o Cerro Ávila; a memória de Daniel Morais há-de gostar.

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por FJV, em 25.08.07
||| Eles foram apanhados. O cerco.
O Supremo Tribunal Federal decidiu aceitar as denúncias contra 19 dos 40 nomes que figuram no caso do mensalão, sob a acusação de peculato e lavagem de dinheiro. Entre eles estão João Paulo Cunha (ex-presidente da Câmara de Deputados, pelo PT), Marcos Valério (encarregado do pagamento do mensalão aos deputados e «caixa dois» do PT), Henrique Pizzolato (ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, de onde lubrificou a máquina do PT), Luiz Gushiken (ex-secretário da Comunicação de Governo e Gestão Estratégica e ex-assessor especial de Lula) ou Professor Luizinho (ex-deputado do PT e ex-líder do governo Lula no Congresso), Paulo Rocha (ex-líder do PT na Câmara de Deputados) Anderson Adauto (ex-ministro dos Transportes de Lula), entre outros.
As acusações de formação de quadrilha e corrupção ainda não foram analisadas pelo STF e entre os suspeitos denunciados pelo procurador-geral da República estão José Dirceu ou José Genoíno. Na próxima semana continua a saga.

Josias de Sousa: «Seja como for, a presença invisível do PT no banco dos réus é, a essa altura, de uma nitidez hedionda. Pode-se enxergar a legenda de Lula de duas maneiras. Alguns vêem o partido como um inocente culpado. Outros, como um culpado inocente. Em qualquer hipótese, enganchou-se no logotipo do PT o adjetivo “culpado”. Ex-borboleta da política brasileira, o PT ganhou, nos contornos do voto do ministro Joaquim Barbosa, uma aparência de larva. Uma lagarta que imprimiu em cada linha, em cada parágrafo, em cada página do texto do relator, um rastro pegajoso de perversões. O pior é que o partido parece ter-se habituado à nova fisionomia.»
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por FJV, em 25.08.07
||| Meia-hora.












Hugo Chávez vai mudar o fuso horário da Venezuela. Não uma hora, não duas, não três. Mas meia-hora. Segundo o ministro de Ciência e Tecnologia, Hector Navarro, a medida visa «uma distribuição mais justa do sol». Meia hora. Aprendam.
[FJV]

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