||| As crianças.
Mesmo compreendendo a
objecção teórica do João Miranda, acho que
o assunto merece reflexão: «Cozinhar, acordar cedo para levar os filhos à escola, dar-lhes os medicamentos... a lista do que alguém pode precisar aprender para exercer melhor as suas funções parentais pode ser vasta.» Na verdade, há «formas de negligência que são recuperáveis, pais que não abusam dos filhos, mas que cuidam mal das crianças». Não me parece mal que as crianças sejam poupadas a essas
negligências parentais. Os professores do ensino básico, um pouco por todo o país, têm testemunhos dessa forma de crueldade sobre as crianças – a negligência e a impreparação absoluta dos progenitores. Miúdos que dormem mal, que ouvem demasiados gritos, que assistem a demasiada negligência, que não tomam o pequeno-almoço, que não lavam as mãos, que não têm atenção; o retrato podia ser mais cruel ainda. Pessoalmente, acho a
indigência parental um crime a precisar de atenção. Noutros casos, a precisar de prevenção e de preparação dos pais. Acho que, em muitos casos, devia ser atribuída uma
licença de uso & porte de criança. Para que, mais tarde, o Estado não se meta onde não é chamado (no interior das casas, na vida das famílias, promovendo na escola inquéritos maliciosos sobre a vida dos pais, por exemplo), o melhor seria pensar no assunto. As crianças sobrevivem, sim; mas era bom que vivessem melhor; nem como monstrinhos nem como apêndices: como crianças apenas.
[FJV]