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por FJV, em 17.11.06
||| Cavaco, 2.
Por outro lado, há uma questão infantil de timing: primeiro, Cavaco desarma os catastrofistas que, durante toda a campanha presidencial, lançaram repetidos avisos sobre o trágico que iria ser a eleição de um presidente destinado a minar e torpedear a acção de José Sócrates. Vai abaixo a argumentação de tão ilustres «defensores da estabilidade institucional» (que agora já não querem). Algumas destas vozes, inclusive, têm passado para a oposição a Sócrates.
Segundo, quer reinar sobre o país dos seus sonhos -- tranquilo, com os remadores de Ben-Hur afinadinhos e a miragem «do crescimento» no final do sprint. Aqui sim, pode estar o erro de perspectiva: a sociedade tem o direito de viver a política de forma conflituosa. Mas de uma coisa ninguém pode acusar Cavaco: de não dar a sua opinião. Ele é, também, aquilo.

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por FJV, em 17.11.06
||| Cavaco.
Cavaco é conformista; e já estávamos avisados. Isso representa uma garantia e um perigo. Mas há uma coisa que não compreendo a propósito da entrevista do PR ontem: serviu para quê, a entrevista?
Só vejo uma razão: garantir a «estabilidade institucional» e avisar sobre a «cooperação entre o PR e o governo», cousa que o Presidente não precisa de vir lembrar. Por um motivo: porque nenhuma das coisas (a estabilidade e a cooperação) estava, salvo erro, em causa. Não havia necessidade.

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por FJV, em 17.11.06
||| Revista de blogs. Ségolène.
«Ainda por cima é gira, apesar de viver com um panhonha.»
{João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.}

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por FJV, em 16.11.06
||| Miguel, realmente.
Estou a ler O Último Negreiro, de Miguel Real (Quid Novi). Vejo a dançar, diante de mim, os personagens de A Voz da Terra, o romance anterior. Com a grande música da ficção.

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por FJV, em 16.11.06
||| Philosophia.
Acompanhei, na Antena Um, o debate matinal sobre o fim dos exames nacionais a Filosofia; não sei -- embora esteja ao lado de um interveniente, representando a Sociedade Portuguesa de Filosofia, que achava absurda a posição do Ministério. Autores como Locke, Platão, Aristóteles, Hume, Descartes, Kant ou Rawls não podem ser considerados estranhos (como parece que acentua o ministério). Uma senhora da Faculdade de Letras do Porto disse que há um ataque à Filosofia em Portugal, desde o Marquês de Pombal «e que se agravou durante o fascismo» (porque, dizia, «lhes convém que as pessoas não pensem», o que eu gosto de teorias da conspiração). Eu acho tudo isso estapafúrdio. A verdade é que não é possível estudar filosofia sem ler os autores (sim, os clássicos também, os gregos, os medievais, os contemporâneos). O resto é História das Ideias, uma matéria que devia ser obrigatória.

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por FJV, em 16.11.06
||| Campanha.
Li o livro de Filipe Santos Costa, A Última Campanha (edição Palavra), sobre a campanha presidencial de Mário Soares, com a impressão de estar a assistir a uma tragédia a desenrolar-se à frente de Soares e em que ele acaba por ser personagem principal. Sim, há esse lado de Soares que pode cativar almas generosas, mas ele é vítima de si próprio. Sou dos que nunca lhe chamou velho, dos que nunca achou que a idade seria um argumento contra o voto em Soares. E, lendo bem o livro, reparando bem nos depoimentos dos seus conselheiros mais próximos, acho que com razão: Mário Soares não tinha envelhecido; ele transportava consigo a mesma euforia, a mesma determinação e o mesmo entusiasmo -- merecia ser tratado como igual, com igual crueldade, com igual desaforo e com iguais modos. Isso, ele não aguentou. Não percebeu que já tínhamos saldado a dívida.

P.S. - Medeiros Ferreira, percebe-se nas páginas do livro, era o verdadeiro anjo de Soares. A reportagem de Filipe Santos Costa é justa para o único homem que sempre compreendera o verdadeiro sentido do discurso de Soares no seu 80º aniversário.

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por FJV, em 16.11.06
||| Protestos.
O protesto dos alunos contra as aulas de substituição parece-me simpático. Eu mandava-os chumbar nos exames como medida preventiva.

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por FJV, em 14.11.06
||| Lobo Antunes, mea culpa.
Quarta-feira, na TSF (fim da tarde, no Pessoal e Transmissível), Carlos Vaz Marques entrevista António Lobo Antunes. Lobo Antunes faz mea culpa e diz que foi «injusto para muita gente, e mesmo «parvo» (palavras do próprio); sobre Vasco Graça Moura, uma dos seus «arrependimentos», diz que é o maior poeta vivo da Língua Portuguesa.

Ouvir extracto aqui:
Lobo Antunes, mea ...

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por FJV, em 12.11.06
||| Academia, 5.
Comentário de Paulo Batista, por mail, ao post Academia:
«Tenho acompanhado, com o máximo interesse, a discussão sobre a interdisciplinaridade entre "ciências". Acrescento aqui pequenas reflexões, muito soltas, mas que acrescentam uma opinião de quem vive no centro do problema e se debate com ele, todos os dias. Na minha opinião, o problema da falta de interdisciplinaridade científica não é causado por uma certa animosidade entre ciência social e natural, mas por um problema enraizado na cultura dominante das nossas academias. Encontra-se enraizada uma certa ideia, rígida, de fronteiras intocáveis, que não permite desenvolver um pensamento interdisciplinar. Dando um exemplo concreto, alusivo à minha área de estudo, o planeamento (regional e urbano) em Portugal é uma "ciência" completamente fragmentada (muito balizada – sem "contacto" entre os diferentes profissionais), quando na verdade deveria ser uma das ciências mais interdisciplinares do panorama científico.
Mas, hoje, que vemos nós acontecer? Planeamento é sinónimo de duas "disciplinas": Engenharia Civil, no caso do projecto / desenvolvimento / construção de infraestruturas e Arquitectura, no seguimento do anterior conceito, mas introduzindo uma certa "marca artística" no desenho concreto do território. A sociologia, a biologia, a economia, a química e física são meros acessórios – a que se recorre em casos muito concretos (estudos de impacte ambiental, por exemplo, – e, mesmo neste caso, com um pequeno grau de interdisciplinaridade – reduzidos a questões técnicas, também elas muito limitadas a determinadas balizas cientificas).
Olhamos para o território através de um funil, o que não nos permite compreender a complexidade das estruturas físicas e sociais que assentam sobre ele, e sem a integração das quais é impossível realizar uma intervenção, cuidada e equilibrada, que permita o desenvolvimento futuro e a redução das tensões entre as diferentes forças. Ora aqui está, neste pequeno parágrafo anterior, um pequeno exemplo: como seria, se alguém juntasse conceitos físicos como a "tensão", a "força", o "campo gravítico" – provenientes da física, com conceitos de sociologia ou por exemplo (como se tenta desenvolver hoje, mas ainda em meios muito restritos e científicos) da economia? Aplicando esta junção de ciências naturais (a física) com problemas de âmbito económico e / ou sociológico?
Existem trabalhos desenvolvidos com alguma interdisciplinaridade, o problema está na falta de estímulo para que isto aconteça de forma natural; resultante de ideias redutoras instaladas (talvez fruto de necessidades de afirmação profissional – por parte de alguns grupos profissionais) que se traduzem em cursos de licenciatura demasiado pesados na exploração dos mesmos conceitos e que não incentivam a procura de respostas e a abertura intelectual e cultural (veja-se que o único curso de planeamento regional e urbano do país, no qual me encontro, foi encerrado! – devido à tal lei do mínimo de 10 alunos…mas porque será que este curso se encontra "ás moscas"? Quando é o mais interdisciplinar de todos? Não será isto sintomático?).
No entanto, nem só o problema é o ensino (e seus promotores). Os alunos apresentam uma apetência por cultura, lamentavelmente baixa. Não existem circuitos disseminados de debate interdisciplinar, de cruzamento de culturas, espaços informais de criação artística e / ou aprendizagem científica. Hoje, os interesses da maioria dos alunos, centra-se num conjunto de actividade sem qualquer tipo de enriquecimento intelectual, que funciona em espiral e que vai arrastando atrás de si a população universitária. Da praxe ás semanas académicas, das actividades nocturnas habituais ao associativismo juvenil, poucos projectos apresentam uma preocupação de fomentar o conhecimento aos seus intervenientes, chegando até, a repelir aqueles que o desejavam! Está enraizada uma ideia de facilitismo e de promoção de um ideal de podridão social. A vida universitária pode até tornar-se em algo demasiado frustrante para quem pretender ir mais além do que os limites e mentalidades vigentes. Ajudado por políticas que não fomentam a igualdade de oportunidades, muitos, bons e potenciais vanguardistas nesta abordagem (falando de alunos), são travados nos meios universitários. Porque, a universidade hoje (apesar da exponencial evolução) ainda é reservada a alguns. Apesar de muitos alunos, provenientes de estruturas familiares mais frágeis, terem inundado o ensino superior, não são suficientemente apoiados e estimulados (de forma a compensar o facto de não terem oportunidade de contactar com uma diversidade cultural que outros recursos poderiam proporcionar). Denota-se até, uma certa estigmatização entre colegas, do género: "os pobres e os ricos". Não muito visível, mas que empiricamente é possível discernir, em certa medida. E que seria até interessante estudar. Este facto é potenciado por um certo snobismo reinante, daqueles que se situam num nível maior de recursos (e consequentemente os criadores das "modas" do pensamento dominante) e que inconscientemente (tal como acontece na sociedade em geral), tratam de ocupar estruturas que permitam o controlo do sistema, perpetuando a situação actual (veja-se os dirigentes associativos actuais e as lutas, sem sentido que promovem!).
Os poucos alunos, interessados numa certa interdisciplinaridade e que não são rejeitados pelo "sistema" formam pequenas tribos. Muito fechadas entre si e de reduzida dimensão, não permitem a tão necessária discussão e debate de ideias de forma alargada e desligam-se até da intervenção no espaço público.
Concluindo o raciocínio, talvez o grau de interdisciplinaridade parta de um pressuposto cultural, subjacente ao conjunto da sociedade. Mais do que um problema entre ciências, (seja arrogância, seja fuga) encontramos um problema cultural, muito comum na sociedade actual: olhar apenas para o próprio umbigo e defende-lo a todo o custo, marginalizar todos os que são (e/ou pensam de formas) "diferentes", matando à nascença qualquer tentativa de inovação (que pode por em risco um "estatuto" qualquer). Este é um facto muito comum entre estudantes (algo de que posso falar, apenas, de forma muito intuitiva, mas com base na minha própria experiência e conhecimento do meio – no qual me insiro), mais até do que se possa pensar ou percepcionar "de fora".»

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por FJV, em 10.11.06
||| Festival Todos os Mares / Todos Los Mares.










Terminou hoje à tarde o I Festival Todos os Mares / Todos Los Mares, organizado pela Casa Fernando Pessoa e pelo Instituto Cervantes de Lisboa -- hoje com poetas de Portugal, Espanha e Colômbia.

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por FJV, em 10.11.06
||| Academia, 4.
Comentário de João Machado, por mail, ao post Academia:
«Sigo com atenção o que tem publicado no seu blogue sobre as falências da nossa Academia (ou a incapacidade de estabelecer ligações interdisciplinares). Primeiro gostava de perguntar-lhe se leu o Discurso Sobre As Ciências, de Boaventura de Sousa Santos; bem sei que hoje não é um autor muito bem visto, mas quando à divisão histórica entre ciências sociais e naturais que é epistemologicamente (e não só) conveniente a muita gente, está lá tudo. Por outro lado deixe-me partilhar alguma experiência pessoal: sendo que desenvolvo estudos na área de Comunicação, que considero ser um campo "de charneira", sinto falta de uma forte componente que é, não necessariamente científica, mas sim tecnológica. Se há algo que repudio nas humanidades é uma impreparação quanto ao factor tecnológico, que é completamente deixado -- basta ver a alocação dos recursos -- às ciências ditas naturais. Por outro lado tenho a dizer-lhe que os currículos universitários têm sido expandidos no sentido que mencionou, mais ainda com Bolonha, facto que me tem sido comprovado por colegas de outras áreas. De resto, percebo a intenção de base do Paulo Gorjão, mas tenho sérias dúvidas quanto ao dever da Universidade de propiciar cultura variada, ou cultura geral. Completamente de acordo quanto ao afastamento da Academia da Sociedade Civil.»

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por FJV, em 10.11.06
||| Academia, 3. [Jorge Calado e as duas culturas]










Comentário de Lourenço Cordeiro:
«Ao ler o seu post "Academia", ocorreu-me imediatamente o nome de Jorge Calado, homem que passou pacientemente os seus últimos anos como professor do Instituto Superior Técnico a semear a ideia das Duas Culturas ( http://info.med.yale.edu/therarad/summers/snow.htm) a proto-arquitectos. Lembro-me que o primeiro "paper" que nos pedia era uma página A4, apenas, onde diríamos se havia razão para se falar em duas culturas e porquê, ou seja, e já antecipando as respostas, para pormos por escrito as diferenças entre a cultura «científica» e a cultura das «humanidades» (o termo «literária» deixa de fora as restantes formas de arte). Argumentos os nossos que o «professor» (acho que foi raro a palavra aplicar-se tão bem a alguém durante o meu percurso académico) Jorge Calado desmontava com muita classe. O assunto é interessante do ponto de vista académico, mas vital do ponto de vista social, sobretudo no nosso país e, há que dizê-lo, na classe «artística». Jorge Calado, professor catedrático do departamento de Química do IST, entusiasta da fotografia, da ópera e da poesia, terá sido provavelmente a pessoa mais «culta» que conheci. Um bom exemplo.»

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por FJV, em 10.11.06
|||Academia, 2.
Comentário, por mail, de João Sousa André ao post sobre ciências & letras:
«O seu post entra precisamente em algo que discuti incessantemente com colegas nos meus anos de universidade. Especialmente com colegas de áreas que não das ciências (sou de ciências, como pode imaginar, especificamente engenheiro químico). Argumentei frequentemente o mesmo que o Francisco faz no seu post: que os "cientistas" podiam discutir humanidades sem problemas - salvaguardando a profundidade dos conhecimentos - enquanto que os "humanistas" não conseguiam trilhar o caminho inverso. Os autores que referiu, bem como muitos outros, mostram até que ponto os cientistas procuraram outras áreas para se enriquecerem pessoalmente.
Em todo o caso, penso que haverá razões para este distanciamento para lá da "arrogância das Letras" que refere. Uma boa perte disso passará por um sistema de ensino que permite aos alunos de humanidades a fuga às ciências. Embora não esteja a par do actual sistema de ensino no secundário, penso que não andará muito longe da lógica de manter as disciplinas de português, filosofia e língua estrangeira para os alunos de ciência, enquanto que as disciplinas mais básicas da ciência (matemática, física, química, biologia) são removidas dos currículos dos alunos de letras/humanidades. É a velha questão do "ir para letras para fugir à matemática".
A fuga à matemática torna-se importante porque explica, em grande parte, a incompreensão relativamente à ciência. É complicado explicar a física quântica ou a teoria das cordas sem se recorrer à matemática. O conceito de universo que se expande mas é infinito também é contra-intuitivo. Contudo todas estas teorias caem bem se vistas de um ponto de vista matemático. A matemática é, portanto, a "língua" da ciência (e falo mesmo sob o ponto de vista da comunicação), pelo que é necessário dominá-la para compreender os conceitos científicos. Já as humanidades podem ser compreensíveis por quem fale a língua da conversa, seja ela o português, o inglês ou o latim. Os conceitos podem depois ser apreendidos sem necessidade de formação mais avançada.
Também por aqui surge um outro ponto que me ocupou muitas discussões durante alguns anos: a questão da interdisciplinariedade das diversas áreas do saber. Porque razão não deverão os alunos de ciências ter uma ou duas disciplinas de línguas (na prática já têm uma formação informal em inglês, devido ao peso desta língua na literatura científica), filosofia (que forneceria ferramentas para uma saudável discussão científica ou mesmo para uma maior abertura a outras ideias), literatura (para melhorar a escrita dos "cientistas") ou mesmo artes (desenvolveria o espírito criativo tão necessário à ciência)? Da mesma forma, porque não dar uns rudimentos de matemática mais avançada, química analítica e orgânica, física mecânica e electromagnética (nem entro no campo das partículas) ou de simples noções de biologia, especialmente ao nível dos organismos? O contacto entre as duas áreas aumentaria e, quem sabe, poderia melhorar o trabalho em ambos os campos.»
Também por aqui surge um outro ponto que me ocupou muitas discussões durante alguns anos: a questão da interdisciplinariedade das diversas áreas do saber. Porque razão não deverão os alunos de ciências ter uma ou duas disciplinas de línguas (na prática já têm uma formação informal em inglês, devido ao peso desta língua na literatura científica), filosofia (que forneceria ferramentas para uma saudável discussão científica ou mesmo para uma maior abertura a outras ideias), literatura (para melhorar a escrita dos "cientistas") ou mesmo artes (desenvolveria o espírito criativo tão necessário à ciência)? Da mesma forma, porque não dar uns rudimentos de matemática mais avançada, química analítica e orgânica, física mecânica e electromagnética (nem entro no campo das partículas) ou de simples noções de biologia, especialmente ao nível dos organismos? O contacto entre as duas áreas aumentaria e, quem sabe, poderia melhorar o trabalho em ambos os campos.

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por FJV, em 10.11.06
||| ERC.
De quem são os jornais? O caso Rui Rio-Público.

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por FJV, em 10.11.06
||| Filantropia.
O Rui Branco apela a uma solução razoável (acerca de liberalismo e desigualdades sociais, motivado por um texto de Rui Pena Pires) e pergunta «se a filantropia entra no programa de um liberal à moda antiga». Dito assim, não sei. Mas entra, decerto, um capítulo sobre a responsabilidade social da riqueza. Os ricos da minha província, quando eu era adolescente, pagaram do seu bolso bibliotecas, estradas, arquivos biblográficos regionais, colecções de arte pública, etc. Um rico da cidade onde eu era estudante pagou, em regime vitalício, um prémio em dinheiro para os melhores alunos do liceu local (com a democracia, um «conselho directivo» recusou-se a continuar com o prémio e os seus benefícios, porque eram «elitistas» ou, como disse uma professora da época, constituía «um incentivo fascista»), o que me permitiu (a mim e a outros) abrir a primeira conta bancária antes dos 18 anos. O fundo camiliano da biblioteca de V.N. Famalicão é o que é graças a um rico da região que, depois das dificuldades da sua emigração brasileira, não esqueceu que tinha uma dívida social, ou seja lá o que for. Um rico do Minho, que eu conheci, pagou a recuperação de várias obras de arte das igrejas da região ao mesmo tempo que pagou, do seu bolso, dois centros de saúde do concelho. Os ricos dessa altura conservavam pudor, honorabilidade e um discreto sentido de justiça e de humanidade. Mas eu não percebo nada do assunto. Sou só um liberal à moda antiga.

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por FJV, em 10.11.06
||| Academia.
O Paulo Gorjão toca num ponto essencial do debate sobre «a nossa academia», ou seja, da nossa pequena vida universitária:
«Um aluno de medicina só se pode interessar por medicina. Um aluno de jornalismo só se pode interessar por jornalismo e assim sucessivamente. Errado. Errado. Errado. Não vejo nenhuma razão substantiva, muito pelo contrário, para que um aluno de ciência política ou do que quer que seja não possa -- e não deva -- assistir, na sua universidade, a conferências sobre os mais variados temas. Se, por mera hipótese, por exemplo, João Magueijo está disponível para dar uma conferência sobre física por que motivo é que alunos de relações internacionais ou de antropologia não devem assistir à sua palestra? Alguém me explica? Não é essa uma das funções da academia, i.e. aguçar a curiosidade científica?»
Genericamente, o Paulo tem razão. Há falta de contacto entre «as ciências» (se considerarmos que existem «ciências humanas e sociais») e os temas. Mas penso que a situação não se traduz por ignorância ou desconhecimento mútuos. Ou seja: a área das humanidades desconhece mais o mundo das ciências do que o inverso. É mais fácil encontrar investigadores, professores ou estudantes de ciências (matemática, física, biologia, etc.) interessados em matérias relacionadas com arte, literatura, política ou história, do que o seu contrário. As «humanidades» mostram em Portugal uma arrogância que lhes é fatal. O «predomínio» da «cultura literária» sobre a «cultura científica» traduz essa arrogância das Letras -- o que significa que alguém vindo da área das ciências pode discutir, de igual para igual com alguém das Letras, sobre política, ópera, relações internacionais ou o romantismo tardio, mas que a generalidade das pessoas de Letras tem grande dificuldade em apreender os conceitos fundamentais da ciência contemporânea; experimentemos perguntar a um aluno finalista de sociologia o que significam, em termos muito básicos, «mecânica quântica», «buracos negros», «teoria das cordas», ou se alguma vez leram Darwin, Stephen Jay Gould ou se são capazes de dizer que há uma teoria da relatividade restrita e uma teoria da relatividade geral (ou, até, neste caso, se se comoveram com o livro de Alan Lightman, Os Sonhos de Eisntein).
O exemplo que Paulo Gorjão aponta (uma conferência de João Magueijo) é exemplar e seria bom perceber até que ponto os alunos de Direito, de Psicologia ou de Relações Internacionais seriam capazes de relacionar o nome de João Magueijo com Einstein ou se se sentiram motivados, alguma vez, a comprar o seu livro Mais Rápido Que a Luz. Ou, para sermos ainda mais claros, se alguns se interessaram por ler os de Carlos Fiolhais ou os de Nuno Crato com Fernando Reis, Luís Tirapicos, etc.; se se aperceberam da actividade de Rómulo de Carvalho; se leram um dos livros de João Lobo Antunes; se ultrapassaram a contracapa dos livros de Damásio; se sabem quem é Maria de Sousa; se conhecem algum texto de Jorge Buescu, Alexandre Quintanilha, Rui Fausto, Rita Marnoto, João Varela, Teresa Lago, M. Moniz Pereira (só para citar aqueles que escreveram para «os grandes meios»); se já leram alguns livros de divulgação científica; se reconhecem os nomes de Feynman, Dawkins, Reeves ou Penrose; se acham que Sagan é astrólogo em vez de astrónomo; se se interessaram pelos livros de jogos matemáticos do João Pedro Neto e do Jorge Nuno Silva, etc. etc.
Estes são alguns dos maus hábitos da academia (a ignorância das Letras em relação às Ciências), sim -- e do país.

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por FJV, em 09.11.06
||| A lápis.
Aí está o blog de João Barrento: chama-se Escrito a Lápis.

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por FJV, em 09.11.06
||| Todos os Mares / Todos los Mares.












Continua hoje e amanhã o Festival de Poesia Todos os Mares / Todos los Mares, organizado pela Casa Fernando Pessoa e pelo Instituto Cervantes.
Hoje, no Instituto Cervantes, ao final da tarde (18h30): Maria do Rosário Pedreira, Manuel António Pina, Eugenio Montejo e Luis Muñoz.
Na Casa Fernando Pessoa, às 21h30: Nuno Júdice, Gastão Cruz, María Victoria Atencia, Pere Rovira.
Imagens da leitura inaugural de ontem (da autoria de João Daniel Ricardo), com os portugueses Ana Luísa Amaral e Luís Quintais, e com os espanhóis Luis Alberto de Cuenca e Andrés Sánchez Robayna.
Também hoje, às 18h30, na Casa Fernando Pessoa, o brasileiro (e carioca da UFRJ) Luís Maffei fala sobre Herberto Helder.

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por FJV, em 09.11.06
||| Ler, 7.
Leitores atentos, alguns, assinalaram correctamente o título do livro. Outros recorreram ao Google e chegaram lá. A Grande Arte, de Rubem Fonseca, sim.

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por FJV, em 08.11.06
||| Chegou a hora da minha confissão.
É a frase de Saramago para dizer que também pertenceu à Mocidade Portuguesa. Ora bolas. Trata-se da entrevista no Estadão sobre a sua autobiografia. O Tomás pergunta-se: e a passagem pelo DN?

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