Os franceses não nos merecem. Atravessei o nosso país cheio de eucaliptos e de bandeiras para esmagar os franceses; muni-me de vários pares de óculos para ver o penalty assinalado contra Portugal e acabei por descortinar o penalty não assinalado contra a França. Sou um “hooligan” nestas condições.
Aos 77 minutos desesperei. Estava a ver o jogo
na Casa de
Cacela, no Algarve, e desesperei com o falhanço de Figo depois do disparo de Ronaldo. Aos 79 minutos desesperei outra vez quando Cristiano Ronaldo se deixou cair no chão da área francesa diante de Barthez, o mãos-de-manteiga. Aos 82, quando Ricardo Carvalho se atirou às pernas do francês, vi que era o fim. Aos 83, Deco tenta fazer um passe de calcanhar com uma displicência de elefante. Quatro sinais sem importância num jogo perdido por falta de concretização e com um penalty encomendado ao som da Marselhesa por um árbitro uruguaio de reconhecido estrabismo.
Até ao lavar dos cestos é vindima, disseram-me aos 85 minutos. Não era: a baliza francesa estava fora da mira, no meio da desorganização portuguesa – na defesa, no meio-campo, no ataque. Aos 92 minutos, já não desesperei com aquele tiro de Meira: enfureci-me de novo e definitivamente. Senti-me um fanático, dos verdadeiros, insultando Scolari por não ter feito entrar Nuno Gomes em vez de Postiga e por não ter rendido alguém por Quaresma (eu tinha de dizer isto ao fim de três meses em que não o disse). Gritei em cada uma das jogadas portuguesas nos derradeiros cinco minutos e assinalei jogadas perdidas por cada um dos nossos.
Se é certo que, nas partidas anteriores, Portugal nunca jogou “bonito” e nunca jogou realmente bem, fiando-se na natureza da “eficácia”, este último confronto mostrou uma equipa enfraquecida e sitiada pelo adversário, sem (ah!, que bonito é o futebolês) “soluções atacantes”. Mas não interessa. Sejamos sérios, no fim de contas: não choremos sobre o jogo e limitemo-nos, como qualquer adepto que gosta de futebol, a insultar os franceses, que nos eliminaram em 1982, em 2000 (de penalty) e em 2006 (de penalty). Francamente, eles não nos merecem.
(No JN)