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«Nunca conheci pessoalmente Martin Adler, mas desde que comecei a escrever na Grande Reportagem, no ano de 1998, habituei-me a acompanhar (respeitar com reverência) o seu excelente trabalho - mais, a sua coragem. Mas a palavra «coragem» tinha nele uma dupla, tripla expressão: porque os conflitos e as injustiças sobre as quais escrevia implicavam um verdadeiro risco de vida, pelas denúncias em si mesmas e por ele se expor fisicamente em locais perigosíssimos. Martin Adler era um «missionário do jornalismo»; e com ele (com os seus olhos e a sua pena) morreu, um pouco mais, a nossa (ténue) esperança de um Mundo são. A sua morte é a confirmação de que o Mundo é estúpido. E ele sabia disso; por isso, foi o jornalista que foi.»Escreve o José Moreno:
«Na notícia do DN de hoje, fui primeiro atraído pelo título - "Jornalista sueco abatido a tiro em Mogadíscio" -, depois pela imagem de um corpo no inerte no chão e em seguida pela legenda da foto. Só então percebi que era a primeira vez que via uma imagem - a última - de um jornalista e reportér fotográfico que li com deslumbramento durante anos a fio na Grande Reportagem. Foi um choque tremendo para mim, pequeno certamente por comparação com o que certamente sentiram aqueles que o conheciam e com ele trabalharam. Se alguma palavra puder chegar aos que lhe eram próximos, que saibam que Martin Adler era um homem admirado e que o seu nome ecoa na minha memória - um anónimo leitor - como um agente da minha maneira de ver o mundo e por isso mesmo um formador de carácter. Obrigado.»Escreve o Rui Branco:
«Ontem, numa esquina de Lisboa, levei com um murro no estômago. Ninguém me bateu, apenas me caiu em cima um bloco bem sólido de memória na cabeça. De vez em quando isso acontece-me, não sei porquê, não vislumbrei nenhum gatilho visual aparente, mas acontece. Lembrei-me do soldado desconhecido e de como é sobre ele que eu me ergo, de como somos todos soldados à força. Não sei se Martin Adler gostaria desta imagem, de soldado, provavelmente não. Mas refiro-o porque há um trilho, uma geneologia em que este jornalista tragicamente se insere, sem armas que matem mas morto por elas. Há batalhas importantes para esta guerra que ainda nos permite ressaltar murros no estômago imaginários (mas bem físicos, ao mesmo tempo). Haja muitos blocos de memória a cair-nos em cima da cabeça destes que nos farão sempre entesar a coluna e seguir em frente. Mas já bastam os exemplos, a memória do mundo tem um excesso de heróis.»
1. O célebre jingle que começa com «Seu Cabral ia navegando», em ritmo de fado, e que termina com saudações à «laboriosa comunidade luso-brasileira»; depois de Cabral ter sentido, «no peito / uma saudade sem jeito», diz a Pêro Vaz de Caminha que voltava já para Portugal -- «Quero ir pela Varig...»
2. Um dos melhores jingles de Arquimedes Messina sobre os 60 anos da Varig. Fantástico. «Sessenta anos voando, voando sem parar...» Termina com o saboroso «Variguii, variguiii, variguiiiii...»
3. Para quem recorda a canção, aí está o jingle clássico de Natal: «Estrela das Américas no céu azul, iluminando de norte a sul, etc., etc., chegou o Natal, papai Noel voando a jacto pelos céus…»
4. Outro clássico de Arquimedes Messina, aqui sobre a fusão Varig & Cruzeiro.
5. Finalmente, o mosaico musical da geografia brasileira da Varig. Muito bom.
Na foto, o primeiro hidroavião da Varig, Viação Aérea Rio Grandense.
«Este Brasil, uma Alemanha que equipa de amarelo, é uma vergonha. A Alemanha sempre tem a desculpa de ser a Alemanha. O Brasil não se pode desculpar. Se onze Dungas estivessem em campo, uma pessoa compreendia. Assim, ninguém percebe. Argumentam os resultadistas que o Brasil sem magia ganhou duas de três Copas. Eu digo que não havia necessidade de jogar tão pouco. É provável que o Brasil venha a ganhar mais este Mundial. Os adeptos gritarão mas será como um orgasmo sem preliminares. Um orgasmo tão longe dos preliminares como a equipa de 94 da equipa de 82. O corpo estremece e arrepia-se mas acaba a vertigem e não fica nada para recordar. No dia seguinte, estarão todos os brasileiros já a pensar no orgasmo seguinte, daí a quatro anos. Por isto, o Brasil, outrora amante, sambista, malandro, virou corno, sem jeito, conservador. Ronaldinho, menino no Barcelona, é pai de família na canarinha. O que interessa é pôr o pão em cima da mesa. Nada de humilhar os adversários. Sejam eles croatas, australianos ou esquimós, é tudo gente que merece respeito, gente de trabalho duro. Com esta ditadura espartana no futebol, com a putativa melhor selecção do mundo imbuída de ética protestante, não admira que os tempos não sejam os melhores para os rebeldes, para os inconscientes, para os artistas. Os comentadores da imprensa internacional foram unânimes em considerar que Cristiano Ronaldo exagerou nos efeitos sem qualquer utilidade prática. O mesmo que dizer que o melhor de um quadro de Picasso é tapar o buraco na parede. Toda a arte é inútil. É um fim em si mesmo. Qualquer jogador, à excepção do Secretário, pode atrasar uma bola. Só os da estirpe de Ronaldo podem fazê-lo depois de fintar dois adversários. Não podemos louvá-lo por ele se cansar só para nos divertir? Quantos o fazem? Jesus Cristo cansou-se de levar pancada, até à agonia na cruz, para nos salvar. Cristiano não é filho de Deus. Não podemos esperar que ele nos salve, mas convém não crucificá-lo por ele nos divertir.
P.S: A crítica diz que C. Ronaldo joga para a bancada. É como a crítica que reprova o best-seller por ser best-seller.»
«Nestas coisas da selecção parece que há os revolucionários, como o Francisco José Viegas, que queriam tudo de um vez e Portugal a jogar como a Argentina já. E depois há os reformistas, como o Nuno Sousa, que se contentam que pelo menos nos vamos esforçando no sentido certo. Eu estou com os reformistas de cabeça e com os revolucionários de coração.»Bom. O seguinte. Queria Portugal a jogar o melhor possível. Agora, se o possível não for bom, não me importo que se assinalem «os três pontos». Mas não me venham, ao fim do primeiro jogo, com a defesa da «margem mínima». Mais valia que dissessem: «Sim, jogámos mal, e depois? Nós, pelo menos, ganhámos. Depois se verá, isto está difícil.» Isso, eu aceitava.
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