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por FJV, em 22.05.06
||| Paulo Francis.
Passei duas noites de insónia, para não fugir à norma, e li Trinta Anos Esta Noite, de Paulo Francis (edição W11-Francis). Nunca tinha lido. É uma leitura do golpe de 1964, no Brasil, e do regime que se lhe seguiu (mas não é só). É um livro admirável, fundamental. Tenho pena de não o ter lido antes.

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por FJV, em 22.05.06
||| José Agostinho Baptista.













Um dos meus poetas. Ganhou, hoje, o Prémio de Poesia APE com o livro Esta Voz é Quase o Vento (Assírio & Alvim). É uma das notícias que vale a pena. Nas minhas leituras e na minha vida -- o José Agostinho Baptista é um poeta notável, afastado dos círculos da glória, remetido ao silêncio, dedicado a escrever.

Comovem-me ainda os dias que se levantam
no deserto das nossas vidas.

Dos belos palácios da saudade
não resta a impressão dos dedos nas colunas
fendidas, e nada cresce nos pátios.

Muito além, depois das casas, o último
marinheiro continua sentado.
Os seus cabelos são brancos, pouco a pouco.

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por FJV, em 22.05.06
||| No meio do caos, a bandidagem.
Os valentões, como de costume, assinalam já que «a polícia efectuou 107 assassinatos» em São Paulo. Gente de virtudes sábias e raras, esta. Sim, a PF é a PF. Sei. Só quem não viveu ou não conhece mesmo o Brasil pode duvidar -- e se duvidar, tem aí os livros, os filmes, os jornais. Mas eu aprecio também a outra bandidagem, refugiada em universidades ou em bairros decentes, apontando o dedo em todas as direcções: 1) que o governo paulista fez pacto com o PCC; 2) que a polícia não controlou o PCC; 3) que o governo deu parte de fraco; 4) que nunca se deve entrar em acordo com o PCC (ah, este argumento deixa-me de rastos); 5) que «a polícia efectuou 107 assassinatos». Tudo isto pode ser verdade. Tudo. Até que a PM comete crimes, como sempre cometeu. Mas é curioso como o discurso muda consoante a circunstância: numa semana pedem acção rigorosa, nem um milímetro de recuo; uma semana depois chamam «nazista» a tudo quanto mexe. Eles têm a solução; toda a gente tem: legalização das drogas, reforma do sistema prisional, tirar os meninos da rua, assistência social efectiva, educação obrigatória (muito preferível ao sistema corrupto do «voto obrigatório»). Mas, como é possível defender isso e, ao mesmo tempo ver imagens de Ângela Guadagnin na televisão ou, digamos, escrever uma biografia laudatória de Zé Dirceu?
Essa bandidagem, por exemplo (que esquece geralmente as famílias dos polícias mortos), fala em explosão de miséria (ah, o argumento fatal), como se os pobres e miseráveis se rendessem ao crime e o praticassem, quando são os pobres e os miseráveis, justamente, as maiores vítimas do crime. O ministro da Justiça não quer «uma legislação do medo», como se o medo, que se vive nas ruas, não seja real. Os intelectuais da justiça pedem agora diálogo (dois dias antes queriam mão pesada) e, claro, recuo na autoridade -- mas não é a ausência de Estado onde ele devia estar que deixa os pobres na mão do tráfico e do crime?

Sobre os abusos da polícia, entretanto, ver aqui, aqui e aqui. Notícias a acompanhar.

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por FJV, em 22.05.06
||| Camões em caboverdeano (e W.H. Auden). Tradução de José Luís Tavares.

Ta muda tenpu, ta muda vontadi,
Ta muda ser, ta muda konfiansa;
Tudu mundu é fetu di mudansa,
Ta toma senpri nobus kolidadi.

Sen nunka pára nu ta odja nobidadi,
Diferenti na tudu di speransa;
Máguas di mal ta fika na lenbransa,
Y di ben, si izisti algun, ta fika sodadi.

Tenpu ta kubri txon di berdi manta,
Ki di nebi friu dja steve kubertu,
Y, na mi, ta bira txoru u-ki n kantaba

Ku dosura. Y, trandu es muda sen konta,
Otu mudansa ta kontise ku más spantu,
Ki dja ka ta mudadu sima kustumaba.


Para outra homenagem ao José Luís, ver esta tradução de W.H. Auden, do inglês para caboverdeano, «O Tell me the Truth About Love.» E, naturalmente, um poema do próprio autor, de Agreste Matéria Mundo.

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por FJV, em 22.05.06
||| Nem de propósito.








Meia-hora depois de publicar o poema de José Luís Tavares neste blog, caiu a notícia, vinda da Cidade da Praia, Cabo Verde: José Luís Tavares é distinguido com o Prémio Jorge Barbosa da Associação de Escritores Caboverdeanos, o mais importante prémio do país, pelo livro Agreste Matéria Mundo (publicado pela Campo das Letras). José Luís é também o autor de um outro grande livro, Paraíso Apagado por um Trovão.

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por FJV, em 22.05.06
||| In Memoriam.

Um poema inédito de José Luís Tavares em homenagem a Helder Gonçalves.

ÚLTIMO CABO
(IN MEMORIAM HELDER GONÇALVES)



Ficaste domiciliado no oito oito sete,
pequena pátria, estreitíssima casa,
o fim de maio estava cá uma brasa,
mas vir ao teu enterro não foi frete

nenhum, pá – vi a gente alegrete entre
um elogio e um lamento; havias de ver,
pá, lisboa, o tejo e tudo nesse entardecer
em que a malta veio dizer-te até sempre.

Se algures te saírem trevas ao caminho,
diz-lhes que levas o claro sol das ilhas por
companhia, luzeiros da senhora da agonia.

Havemos de conversar em tom baixinho,
quando lá em cima ou cá em baixo o calor
apertar, ouvindo o relato na velha telefonia.

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por FJV, em 22.05.06
||| Código Da Vinci. [Actualizado]
Fizeram uma grande festa porque Umberto Eco recusa encontrar-se com Dan Brown (foi o próprio Eco que contou que teve um convite para se encontrar com Brown em Vinci (na Toscana). «Nem morto. Irei a Vinci quando lá estiver um verdadeiro escritor», disse ele ao La Repubblica. Para Eco, Brown é «um intriguista que propaga informações falsas e enriquece com material de embuste». Olha a novidade. Não percebo é por que isso é apresentado com uma grande notícia. José Saramago recusa encontrar-se com Danielle Steel. Tom Wolfe recusa encontrar-se com Cristina Caras-Lindas. Coisas destas. Sim, é bom que se avisem as pessoas mais sensíveis (sobre «os perigos» do Código...), mas todos eles estão a ajudar muito Brown e o filme e os códigos todos. Um cardeal romano pediu, através da Rádio Vaticano, que as pessoas não lessem nem comprassem o livro. O presidente do Conselho Pontifício para a cultura disse (ah, a descoberta!) que o Código «misturava ficção e realidade». A associação americana para a Defesa da Família elaborou um conjunto de regras para «o manifestante correcto anti-Código». Até a igreja católica da China apareceu a pedir a proibição do filme (pedir a proibição de qualquer coisa na China -- não parece um paradoxo?). Claro que não tem sentido Eco encontrar-se com Brown; se isso acontecesse, estaria a associar O Pêndulo de Foucault ao Código. Mas tem algum sentido uma pessoa ir, digamos, a Toledo ou a Bragança encontrar-se com uma pessoa que não tem interesse em conhecer? Qual a novidade disso?

[Artigo no JN.]

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por FJV, em 22.05.06
||| Futebol e patriotismo.











Amanhã, terça-feira, ao fim da tarde (18h30), final do ciclo de debates sobre futebol na Casa Fernando Pessoa, dedicado à questão do patriotismo («Que selecção vamos apoiar? Todos somos portugueses no futebol?»). Com João Querido Manha, Jorge "maradona" Madeira, Miguel Guedes, Pedro Mexia e Rui Tavares.

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