||| No meio do caos, a bandidagem.Os valentões, como de costume, assinalam já que «a polícia efectuou 107 assassinatos» em São Paulo. Gente de virtudes sábias e raras, esta. Sim, a PF é a PF. Sei. Só quem não viveu ou não conhece mesmo o Brasil pode duvidar -- e se duvidar, tem aí os livros, os filmes, os jornais. Mas eu aprecio também
a outra bandidagem, refugiada em universidades ou em bairros decentes, apontando o dedo em todas as direcções: 1) que o governo paulista fez pacto com o PCC; 2) que a polícia não controlou o PCC; 3) que o governo deu parte de fraco; 4) que nunca se deve entrar em acordo com o PCC (ah, este argumento deixa-me de rastos); 5) que «a polícia efectuou 107 assassinatos». Tudo isto pode ser verdade. Tudo. Até que a PM comete crimes, como sempre cometeu. Mas é curioso como o discurso muda consoante a circunstância: numa semana pedem acção rigorosa, nem um milímetro de recuo; uma semana depois chamam «nazista» a tudo quanto mexe. Eles têm a solução; toda a gente tem: legalização das drogas, reforma do sistema prisional, tirar os meninos da rua, assistência social efectiva, educação obrigatória (muito preferível ao sistema corrupto do «voto obrigatório»). Mas, como é possível defender isso e, ao mesmo tempo ver imagens de Ângela Guadagnin na televisão ou, digamos, escrever uma biografia laudatória de Zé Dirceu?
Essa bandidagem, por exemplo (que esquece geralmente as famílias dos polícias mortos), fala em explosão de miséria (ah, o argumento fatal), como se os pobres e miseráveis se rendessem ao crime e o praticassem, quando são os pobres e os miseráveis, justamente, as maiores vítimas do crime. O ministro da Justiça não quer «uma legislação do medo», como se o medo, que se vive nas ruas, não seja real. Os intelectuais da justiça pedem agora diálogo (dois dias antes queriam mão pesada) e, claro, recuo na autoridade -- mas não é a ausência de Estado onde ele devia estar que deixa os pobres na mão do tráfico e do crime?
Sobre os abusos da polícia, entretanto, ver aqui, aqui e aqui. Notícias a acompanhar.