||| O sangue.«Faz hoje 500 anos que uma multidão imbecil tornou Portugal mais pobre. A matança de muitas centenas de judeus em Lisboa (talvez quatro mil) fez o País perder, entre mortos e exilados, os mais cultos e modernos dos seus filhos. O crime boçal prosseguiu durante séculos. Até ao Marquês de Pombal a ‘limpeza do sangue’ – a prova de ausência de judeus até aos bisavós – era condição para bons empregos. Ao seu ministro Pombal, o rei D. José pediu que decretasse um distintivo obrigatório para quem tivesse sangue judeu. No dia seguinte, ele apareceu com três distintivos ao peito. O rei perguntou a razão. Pombal: “Um por mim, outro pelo inquisidor-mor e outro por Vossa Majestade.” Judeus somos, os portugueses, todos um pouco. Ignorantes de nós somos todos muito.»
Ferreira Fernandes, no Correio da Manhã.