||| Assalto ao jornal.
Não vale a pena discutir os métodos da polícia ao entrar na redacção do
24 Horas. Não discutirei a honorabilidade da imprensa nem o que está oculto em cada investigação que cada jornal entende fazer, nem com as suas opções editoriais (sim, porque no
«affair Casa Pia» há profissões de fé, como se sabe). Mas estou com o Eduardo Pitta: sim, pessoal, o
24 Horas não é dos nossos, nós somos finíssimos, nós passamos ao lado.
«Nós somos todos muito finos para nos preocuparmos com jornalismo marron.» Pode ser. Sim, pessoal, uma notícia do
24 Horas vale menos do que uma do
Diário de Notícias ou do
Le Monde. Vale mesmo? O pessoal não vai preocupar-se com o assalto ao jornal das
manchetes marron, o pessoal é superior. Eu sei que há uma coisa que vale mais do que isso:
o assalto ao jornal, que é preocupante. Hoje não nos preocupamos com o assalto ao jornal, como ontem pouca gente se preocupou com o assalto à casa de um
blogger; amanhã não nos preocupamos com o assalto a nossa casa. De uma coisa podemos estar certos: a liberdade só tem um valor. E os cavalheiros que desde há anos andam a violar o segredo de justiça, «colocando notícias» estrategicamente, divulgando partes de processos, industriando devagar ou em catadupas, esses, não foram assaltados pela polícia.
Se por acaso o sr. Presidente da República, entre tantas condecorações recentes, resolver comentar esse assunto, não se esqueça do que já disse sobre a honorabilidade do regime e o respeito que devemos à liberdade. E que nenhum de nós esqueça que é muito fácil e popular punir o mensageiro, sejam eles o
24 Horas ou o
Público -- e muito conveniente levantar esta poeira. No meio da poeira todos os figurões são pardos. Eles também são contra a licenciosidade, claro. E, neste caso, ficam a saber que podem retaliar desta maneira.