||| Por que é que são pirosos os escritores portugueses quando escrevem sobre sexo? [Actualizado.]
Na generalidade, são mesmo. Há recolhas hilariantes de textos sobre o assunto. Serpentes que tentam entrar no búzio, mulheres que se vergam ao peso de uma espingarda de carne, marialvismos, imagens imbecis, coisas que nem o saudoso Dr. Fritz Kahn (no seu inestimável
A Nossa Vida Sexual) teria coragem de imaginar. Inês Pedrosa coligiu em tempos, no
O Independente, uma antologia genial. As metáforas para o sexo são quase sempre perigosas, desadequadas, inadequadas, ridículas, além de fornecerem abundante informação sobre misérias de que não queremos saber. Há vários motivos. A rapaziada desses livros não tem grande tesão. Escreve sobre sexo mas não quer escrever sobre sexo; quer fazer literatura, dar um ar elevado à coisa -- que tem uma dimensão metafórica, certamente, mas isso é com cada leitor. Melhor inventariar, então, metáforas -- e é uma foleirice. Depois, há outro problema: se os personagens e as personagens não têm um índice mínimo de tesão, como é que hão-de interpretar diálogos e situações que valham a pena?
No way. Evidentemente que há que contar com a «síndrome da bolinha no canto», informando os incautos que se está a falar de sexo -- e, então, a regra de «retroceder no último momento»: suavizar a linguagem, esvaziar as frases, pulverizar aquela trapalhada. Na verdade, os personagens e as personagens desses romances têm um grande pudor: não fodem; limitam-se a ser observados por um coleccionador de metáforas ou um manobrador do Dicionário de Sinónimos dos Fenianos do Porto. Há vastíssimas catadupas de sugestões, simulações, complexos, armadilhas, confusões -- mas, digamos, uma ripada bem dada é coisa rara, muito rara. Não que seja necessário. Mas quando se quer levar a caneta por esses lugares (salvo seja), então que seja com grande categoria.
Ver o Estado Civil e o Memória Inventada, via Glória Fácil. E também o Miniscente.
O Francisco Trigo de Abreu resumiu o texto de Inês Pedrosa aqui e aqui (obrigado pelo link, Francisco)