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por FJV, em 22.12.05
||| Patriotismo, Lei da Rádio e defesa daquilo que é nosso. {Actualizado, com as discordâncias.}
Se há uma lei idiota da música portuguesa para impor às rádios uma quota mínima de letras vagamente escritas em português, isso quer dizer que o Estado e o Parlamento andam a privilegiar os músicos em detrimento das outras classes profissionais? Para quando uma lei da literatura portuguesa que obrigue os leitores a comprar um mínimo de 50% de livros de autores portugueses (sim!, para quê Philip Roth ou Cees Noteboom, se temos Saramago), dedutíveis e escrutináveis na sua declaração de IRS (ou através de escutas telefónicas)?

António Viriato discorda: «Permito-me discordar frontalmente. Na Rádio, faz todo o sentido impor uma quota mínima de música nacional. Em quase todo o lado isto é praticado, a começar aqui ao lado, em Espanha. A discussão da qualidade, alegadamente fraca, da música portuguesa, é um sofisma. A maior parte da música estrangeira que passam, anglo-saxónica, tem baixa qualidade e então das letras nem é bom falar. Quando se consegue entendê-las, comprova-se a sua inanidade, a sua pobreza de ideias e de sentimentos, repetitiva por demasia e de teor cultural elementaríssimo, quase para débeis mentais. Porquê condescender aqui na música estrangeira e exigir o contrário na nacional? A comparação com a literatura, feita por FJV, não tem aqui nenhum cabimento. São coisas completamente diferentes. Se não privilegiarmos a música nacional, na nossa Rádio, corremos o risco de desabituar o ouvinte português de a escutar, de a apreciar, criando até uam espécie de complexo, que pode até resultar em aversão, mesmo em relação à que tenha qualidade. Os jovens, principalmente, ficarão sem referências da música do seu país, da sua cultura, e tornar-se-ão presas fáceis de qualquer mixórdia bem comercializada que lhe apresentem. De resto, já nos aproximámos demasiado deste estado de coisas. Um povo que não preserva a sua cultura está destinado a desaparecer ou a ser colonizado por outras mais agressivas, menos complexadas, quer tenham ou não qualidade intrínseca. Isto não significa que nos fechemos aos contributos culturais, musicais, alheios. Nada disso, mas não devemos cair em ingenuidades suicidárias. Espero que este depoimento seja bem entendido. A moda de que o Mercado é que dita a qualidade é um embuste, neste caso, pelo menos. Se não se educar o gosto, se não se der oportunidade à expressão da música portuguesa, se não se oferecer quantidade, dificilmente surgirá qualidade. Quando não havia destes complexos anti-nacionais, a música portuguesa era geralmente ouvida com agrado e tinha melhor qualidade. Basta comparar as canções portuguesas que foram ao Festival da Eurovisão nos últimos 40 anos. Cada ano são de pior qualidade, desde os anos 60 para cá. Será que os autores e compositores portugueses perderam inspiração?»

Não resisto ao comentário da Joana C.D., por mail: «Não ponha mais ideias nas cabeças pensantes dessas luminárias que guardam o "Estado". Eu, portuguesa de gema, (com algum pó galego), correria sérios riscos de passar para a clandestinidade. Imagine-se as meninas (às vezes meninos) da caixa da FNAC a examinarem as nossas compras e preencherem o formulário das "quotas"! E se eles insistirem no mesmo para o calçado? Schhh! Schhh!»

Pergunta a Luísa G. M., por mail: «Acha mesmo que é possível uma quota desse género para a literatura? Está mesmo a falar a sério?»
Não. Não estou a falar a sério.

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por FJV, em 22.12.05
||| Liberdade.
Vale a pena ler o artigo de José Pacheco Pereira no Público de hoje: «Os direitos do Estado e os nossos».

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