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por FJV, em 18.11.05
||| Uma interrupção.
O caso das alunas da Escola António Sérgio (duas jovens de 17 e 19 anos beijaram-se numa escola e parece que namoram) está a ser uma fonte de preocupações para meio mundo. Compreendo. É que há versões. Como se dizia, há versões e versões. Neste caso há também aversões. Aquilo que me parece, à primeira vista, é que duas alunas, de 17 e de 19 anos, estão a despertar interesse graças à reacção pouco cuidadosa da própria escola e ao espírito filhadaputa da pequena moral. Se é verdade o que se escreveu na imprensa, se se confirma a denúncia de alguém da escola às famílias das alunas, se isso configura uma perseguição às alunas, trata-se de um problema sério. Não é grave; basta ler romances e puxar pela memória para descobrir casos semelhantes. Só que não estamos num romance de costumes nem a nossa memória tem de lidar com a justiça feita tarde demais; não há reparação que valha. Pessoalmente, incomoda-me que a moralzinha e a maldade das auxiliares educativas se sobreponha à serenidade e à dignidade com que a escola devia lidar com os factos (porque são factos; não são um problema). O pequeno mundo da província de Gaia pode ser tenebroso. À distância, aquele beijo parece uma intromissão de luz na pequena miséria da maledicência e do desastre, uma interrupção qualquer. Falo à distância. Mas é à distância que devemos falar; garantindo que não pode haver nenhum tipo de perseguição da escola e que a escola tem de garantir que as alunas não podem ser prejudicadas na sua condição de alunas (ou seja: passar de ano, se tiverem aproveitamento, chumbar se isso não acontecer), salvo se a situação configurar o que chamamos de «alteração da ordem pública», o que parece que, manifestamente, não acontece. A tenebrosa moral do povoléu precisa de um choque: transforma um beijo roubado num acto de exibicionismo, exibe aquilo que estava escondido, esconde a pequena miséria quando encontra vítimas a propósito. A pequena moralzinha, além do mais, é imbecil: como não conhece a tolerância, nem as palavras certas, nem a suavidade, trata de excitar os pobres de espírito com a rudeza e o erotismo dos valores morais. Erro sobre erro.
Gore Vidal dizia que sexo é política; eu acho que não. Não é uma luta minha, se me entendem. Mas se se trata de rir de cavernícolas e de defender as duas alunas, contem comigo. Como um liberal à moda antiga.

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por FJV, em 18.11.05
||| Mais Brasil, diferente.














Depois da edição de Um Céu Demasiado Azul, saiu agora As Duas Águas do Mar. Ambos na Record.

Só uma nota: eu nunca me importei que o editor brasileiro alterasse a ortografia dos meus livros. Não sou ortodoxo. Sou um traidor. Mas desde que outros autores apareceram nos jornais portugueses a dizer coisas como «eu nunca permiti que alterassem a ortografia dos meus livros no Brasil», sinto-me na obrigação de dizer o seguinte: não só eu não me importaria que o editor brasileiro propusesse algumas alterações à ortografia como, ainda por cima, o editor brasileiro exigiu que os livros saíssem sempre com ortografia do português de Portugal. Portanto, quando lerem aquelas declarações pomposas de autores a dizer que nem uma vírgula permitem que os brasileiros alterem nos seus livros, já sabem: é mentira. É só fita. Os editores não querem mesmo alterar.

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por FJV, em 18.11.05
||| Não me interessam as audiências.











Aqui está mais um exemplo da perfídia e do mau-carácter do género humano. Por isso está aí a capa da mais recente Playboy brasileira. E pergunta o leitor, indignado: «Sim, mas aqui?» Pois sim: aqui. E porquê? Não pelas audiências. Apenas pelo deleite intelectual. Porque a Playboy brasileira publica uma entrevista com Zezé e Luciano di Camargo, os sertanejos-protagonistas do filme Filhos de Francisco. Se há perfídia nisto? Não. Pois os Camargo até participaram nos comícios do PT. Nada de sectarismo. Mesmo se são cantores sertanejos. Além disso, há também uma entrevista com Pitty, a nova revelação musical local. Também é verdade que a Playboy publica um ensaio fotográfico com Mariana Kupfer, mas enfim, isso não é importante. Quem é a Mariana Kupfer?, pergunta o leitor, moralizador e inquieto. Que falta de cultura.






Bom, mas para quem gosta mais de teatro (Cissa Guimarães, aliás Beatriz Gentil Guimarães) do que de cinema (Zezé di Camargo e Luciano), a edição deste mês da revista Sexy é recomendável. Muito menos photoshop numa actriz a ultrapassar a década dos quarenta (48). Uma coisa como deve ser, portanto. E não, a Sexy este mês não tem crítica literária.

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por FJV, em 18.11.05
||| Comprar votos. Adenda a post.
O Rogério Barcelos Alves (é professor, vive em Porto Alegre e mantém o blog pessoal Conto as Favas*) comenta a compra de votos no Brasil:
«Sobre a compra periódica de votos no Congresso Nacional, infelizmente, pode-se afirmar que é uma prática antiga e reiterada. Existe um histórico de cooptação ilegal do legislativo (e do judiciário) pelo executivo. Oficialmente, fazem-se acordos na divisão de esferas de poder, através de cargos e, extra-oficialmente, fazem-se com o repasse de recursos geridos por estes cargos aos destinatários. Toda a dinâmica é gerida pelos caciques dos partidos. No entanto, em momentos-chave, quebra-se a hierarquia e não se compra um partido todo, através de seu cacique, mas compra-se voto a varejo. No governo Fernando Henrique, a compra de votos, para aprovar a emenda constitucional que possibilitou sua reeleição, é um exemplo disso, mas não o único. O erro do PT não foi utilizar a compra de votos, foi abusar da compra de votos a varejo. Deixando de tratar com os caciques, que administravam internamente quem recebia quanto, e indo negociar individualmente houve a quebra de 'hierarquia partidária', no pior sentido do termo. Se, por um lado, essa desmedida de José Dirceu não pode passar impune, por outro, os mecanismos de cooptação não podem ser alterados. Por isso, Dirceu provavelmente será cassado. Por isso, não teremos reforma política (eleitoral). Mutatis mutandis, isso vale para discussão sobre caixa 2, que existe e continuará existindo, só não podendo ser utilizado para compras a varejo. Essa é a minha opinião sobre o tema.»

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por FJV, em 18.11.05
||| Afinal, havia alguma coisa. Brasil.
Nas últimas semanas, colunistas da situação, deputados e senadores, o Planalto e o Torto, tentaram evitar um relatório como este. Mas ficou escrito: «Houve distribuição de recursos ilegais a parlamentares.» Quer dizer: afinal, havia mensalão.

Na edição desta terça-feira, a Folha de São Paulo publicava um artigo de Roberto Mangabeira Unger intitulado «Pôr fim ao governo Lula» (disponível apenas para assinantes da Folha -- está online aqui). Está lá escrito porque se devem preservar os valores republicanos.

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por FJV, em 18.11.05
||| Babugem.
Fez ontem dois anos um dos blogs mais cativantes e com mais bom-gosto da blogosfera portuguesa.

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por FJV, em 18.11.05
||| Bernardo Pinto de Almeida.

Nada é perfeito como a tua noite
se um outro sol já nela se levanta
quota-parte de treva que anuncia
a traço grosso o rosto claro instante.

Olhos febris a boca estremecendo
à simples sugestão da queimadura
movimento subtil age os quadris
de um frémito possante os insinua.

Barco fundeado no horizonte
movimento do vento que se espanta
se acaso a luz feroz evidencia
prata líquida de fuel flagrante.

A noite inunda-te. Pueril respiração ao peito erguendo
o que espelha no mar sua moldura
zona de sombra onde tudo me diz
que antes mesmo da nudez já estavas nua.

Bernardo Pinto de Almeida, Segunda Pátria.
Edição & etc.
[Capa de Mário Cesariny]

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por FJV, em 18.11.05
||| Malaquias.
Olha, Alberto: eu o Malaquias não conheço, mas tu podes fazer greve por quanto tempo quiseres. Espero que a administração e a comissão de trabalhadores do blog se desentendam definitivamente (como convém à ordem das coisas) porque nessa balbúrdia é que sabe bem escrever. Mas o que é importante é que a ameaça não pegou.

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por FJV, em 18.11.05
||| Paciência.
Já se sabe que cada um escolhe a campanha que quer. E que pode. A campanha de Mário Soares centra-se numa obsessão: Cavaco. Mas, mesmo respeitando a figura, o papel e a memória de Soares, lendo bem as suas declarações nos últimos oito dias, fico com a impressão de que está a tornar-se um chato.

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