por FJV, em 26.10.05
||| Terramoto de 1755.
Três livros sobre ou em redor do terramoto de 1755: A Voz da Terra, de Miguel Real (Quid Novi), O Profeta do Castigo Divino, de Pedro Almeida Vieira (Dom Quixote) e O Segredo Perdido, de Júlia Nery (Bertrand). Li os dois primeiros e são muito bons. No primeiro romance, Miguel Real consegue estabelecer uma ponte entre um lirismo espantoso e o rigor nos traços biográficos do Marquês de Pombal. No segundo, uma extraordinária reinvenção da figura do padre Gabriel Malagrida e da narração do Diabo.
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por FJV, em 26.10.05
||| Leituras soltas. Pepetela e os emergentes.
Predadores, de Pepetela (Dom Quixote), para quem se interessa sobre Angola. Um retrato da classe emergente de Luanda e notas sobre os erros dos últimos trinta anos. Algumas coisas já vão tarde.
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por FJV, em 26.10.05
||| Leituras soltas. Paul Blick fala sobre a França.
«Era esta a minha família na época, desagradável, retrógrada, reaccionária, terrivelmente triste. Francesa, numa palavra. Assemelhava-se ao país, que se considerava satisfeito por se manter de pé, depois de superar a humilhação e a pobreza. Um país agora suficientemente rico para desprezar os seus camponeses, fazer deles operários e construir-lhes cidades absurdas formadas por edifícios de uma fealdade funcional. Ao mesmo tempo, a caixa das mudanças dos automóveis passava de três ara quatro velocidades. Não faltava mais nada para que o país inteiro se convencesse de que metera a mudança superior.»
«A eleição de Mitterrand provocara o descalabro do franco, uma desvalorização de vinte por cento dos valores bolsistas e a fuga de capitais que se escapavam, noite e dia, por todas as fronteiras da nação. E eu, entretanto, de alma pura e pé na tábua, conduzia o meu automóvel até Barcelona.»
«Apertava a mão de Marie na minha e contava-lhe notícias da família e do mundo, os magníficos progressos de Louis-Toshiro e os propósitos de um certo Raffarin, antigo fiscal de pesos e medidas de Poitevin. Quando, em Março de 2003, eclodiu a guerra do Iraque, ainda tentei descrever-lhe a desordem do mundo [...]»
Paul Blick é o personagem-narrador de Uma Vida Francesa, de Jean-Paul Dubois (edição Asa), a lançar amanhã à tarde em Lisboa.
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por FJV, em 26.10.05
||| Leituras soltas. Mandrake confessa-se sobre o passado.
«Meu pai passava o dia e a noite acordado, quando ia para a cama ficava lendo e eu lhe pedia que parasse de ler, apaga a luz de cabeceira e vamos dormir, eu dizia, e ele respondia que não queria dormir e quando não estava lendo ficava de olhos abertos olhando para o teto ou para a janela. Fecha os olhos, eu pedia. Não fecho, não posso fechar os olhos, se fechar os olhos eu morro. A luz da cabeceira permanecia acesa, eu acordava no meio da noite, do meu sono agitado, e lá estava ele, de olhos abertos, olhando para o teto. Um dia notei que ele estava de olhos fechados e pensei, aliviado, afinal ele dormiu, e apaguei a luz da cabeceira. Quando acordei, pela manhã, ele estava morto.» «Monólogo» de Mandrake em Mandrake, a Bíblia e a Bengala, de Rubem Fonseca. Na semana passada, no «Escrita em Dia» da Antena Um, o Bruno Santos fez uma magnífica leitura do extracto.
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por FJV, em 26.10.05
||| Neo-col. O
Diário de Notícias publica hoje matéria sobre
este post. Mas não cita nem refere.
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