||| O cantinho do hooligan.
O
Manuel acha que ando comovido com as agruras do FC Porto e que, também para mim, o bombo de serviço é o treinador. Não é assim. Explico porquê. Sou um
hooligan sem importância; gosto de ver o FC Porto ganhar porque sou adepto do meu clube e, hoje em dia, pouco mais. Hoje de tarde na TSF e na Antena Um, e ontem à noite na SIC Notícias, ouvi comentadores discretearem com sabedoria sobre a crise na SAD do Sporting e no sistema táctico do FC Porto; frequentemente os oiço falar de futebol como o Prof. Marcelo fala sobre política. Não percebo, hoje, como é possível falar durante 37 minutos sobre «questões político-estratégicas dos três grandes» (foi o tempo de Rui Santos ontem na SIC); compreendo a ideia -- mas, pessoalmente, não seria capaz. Já participei como «comentador residente» em dois programas de tv sobre futebol, mas acho que nunca se tinha chegado a um espectáculo desta dimensão. Saber se a jogada de Luís Filipe Vieira deixa Pinto da Costa em apuros ou se o equilíbrio de forças dentro da SAD do Sporting está quebrado e são necessárias eleições antecipadas parece-me política dos pobrezinhos. Num desses programas em que participei disse, a abrir, que não ia discutir off-sides ou penaltis por assinalar e que não ia debater a originalidade da gestão de Vale Azevedo. O que é assunto de polícia é para ser tratado na polícia, o que é negócio é para ser tratado pelos negociantes, o que é futebol é para ser tratado a falar de futebol.
A minha perspectiva é, assim, fraquinha. Admito que seja importante apreciar a gestão desportiva do Sporting e o contributo do
kit Benfica para a gestão de Luís Filipe Vieira, tal como acompanhar os desaires de Pinto da Costa e a rouquidão arrastada de Dias da Cunha. Só que, hoje, isso não me interessa. Por isso chamo a esses textos sobre futebol «
o cantinho do hooligan»: só me interessa o jogo. Acho que o tempo de Pinto da Costa já passou e que ele se devia retirar. Tal como acho que as questões do Apito Dourado dizem respeito à justiça e à polícia -- e se tiverem efeitos desportivos, que o decidam logo.
O futebol alimenta três jornais que precisam de vender papel; se o Benfica não vem na primeira página, não se vende. Alimenta uma indústria de televisão. Alimenta o negócio da publicidade. Etc. Saber se é mais importante
ter na mão a comissão de arbitragem ou contratar o Samuel Etoo ou o Drogba é coisa que não discuto. Eu preferia ter o Drogba a marcar golos (digo e escrevo
há anos sobre a falta que faz um goleador no FC Porto...). Viciar a comissão de arbitragem é, para mim, assunto de polícia de costumes. Essa gente não me interessa. Sei que podem viciar jogos, aldrabar resultados, torpedear contratações; os tribunais comuns que julguem essa gente, e depressa. Quanto mais depressa melhor. A mim, o que me interessa é perceber a razão por que Co Adriaanse deixou no banco jogadores como o Diego e o Quaresma e o Hugo Almeida entrou tão tarde; quero saber porque não jogaram o Jorge Costa ou o Pedro Emanuel; quero saber porque é que joga o Bosingwa e não o Sonkaya; quero perceber porque é que mantemos (nós, o FC Porto) jogadores como o Pepe, o Postiga e o McCarthy e não se contratou um rapaz goleador nem se treina alguém para marcar um miserável pontapé de livre. E não percebi as razões do treinador nem as razões do clube. Agora, se Pinto da Costa tem culpas, isso não sei. Admito que possa ter, mas já não me interesso pelo assunto. Essa gente toda tem uma importância fatal, eu sei. Mas quando vou ao estádio pago bilhete como toda a gente e quero que a minha equipa ganhe. Sou um hooligan.