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por FJV, em 16.10.05
||| Presidenciais, 2.
A conversa sobre os poderes presidenciais é mais delírio, imaginação e apetite do que debate sério. Sempre achei a coisa clara; basta ir à Constituição. Está lá o que convém saber. Pelo contrário, é preciso saber quem duvidou dos poderes presidenciais para mencionar, a propósito de tudo e de nada, a «magistratura de influência» (ainda não percebi como o país não desata a rir de cada vez que alguém faz pose, levanta o dedo, endireita as costas e pronuncia «magistratura de influência») e, ao mesmo tempo, se esquece do objectivo das presidências abertas do segundo mandato de Soares.

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por FJV, em 16.10.05
||| Presidenciais.
Boa propaganda recente para Cavaco: as questões do CDS-PP que, além de serem para consumo interno, reeditam o pequenino ódio de classe, à direita; o soarismo tout-court; a frente nacional anti-Cavaco; e, evidentemente, a garantia dada pelo artigo de Vasco Pulido Valente no Público deste sábado. Como de costume, o pior para Cavaco vem de uma das margens do PSD ressentido, com Morais Sarmento a delirar em grande (a outra margem ainda não se atreveu; está de ressaca).

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por FJV, em 16.10.05
||| Harold Bloom.













Por falar nisso, terminei a leitura de Onde Encontrar a Sabedoria, de Harold Bloom (tradução de Where Shall Wisdom Be Found?), publicado pela Objetiva. É um grande livro que ressuscitará as tradicionais críticas a Bloom pelos profissionais do ressentimento ou pelos optimistas da contemporaneidade. E a inveja de muitos académicos que raramente o leram. Neste caso, é um livro muito mais marcado pela consciência religiosa de um religioso secular. O homem religioso sente a euforia da sapiência ou da sabedoria («cristãos que crêem, muçulmanos que obedecem, judeus que confiam»), mas Bloom continua um secular, e a sua responsabilidade é diferente: «Os seculares assumem um outro tipo de responsabilidade, e a sua busca da literatura da sapiência é, por vezes, mais melancólica, ou angustiada, dependendo do seu temperamento.» É uma peregrinação, de resto, entre dualidades: entre o Livro de Job e o Ecclesiastes, entre Platão e Homero, entre Cervantes e Shakespeare, entre Freud e Proust, entre Montaigne e Bacon ou entre Johnson e Goethe, terminando com dois textos notáveis -- um sobre Santo Agostinho e outro sobre «Nemesis e Sabedoria»: «Não podemos encarná-la [à sabedoria] mas podemos aprender a conhecê-la, a despeito de ser ou não ser identificável com a Verdade que talvez nos liberte.»
Os que se irritaram com a torrente devastadora de Genius (e que se tinham sentido naturalmente excluídos de O Cânone Ocidental), não compreenderão o apelo presente neste Onde Encontrar a Sabedoria: o de uma busca do esplendor que não significa conforto nem tranquilidade, explicando que a sabedoria (ou a literatura sapiencial, termo mais de acordo com Bloom) não vive sem esse laço a prendê-lo ao esforço intelectual e à contenção que nos mostra os limites.

Curiosamente, logo a abrir, o programa particular de Bloom «reflecte a busca de um saber que possa aliviar e esclarecer os traumas do envelhecimento, da convalescença após doença grave, e do pesar causado pela perda de amigos queridos».

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por FJV, em 16.10.05
||| Nobel.
Percebo a polémica e a discussão sobre o Nobel atribuído a Pinter. Todos os anos acontece. Ele tem ideias políticas. Ele próprio reconhece que «his longstanding political activism may have played a role in the decision to award him the 2005 Nobel Prize for Literature». Saramago tinha ideias políticas conhecidas, como Elfriede Jelinek ou Dario Fo. A lista é infindável. Talvez não se tivessem conhecido tanto as posições políticas de Claude Simon, Gao Xingjian, Derek Walcott, Kenzaburo Oe ou Kawabata. É evidente há muito tempo (desde 1953 com mais clareza, data da atribuição do prémio a Churchill) que há uma marca política do Nobel. No caso da literatura, é mais do que evidente. Muitas vezes, o Nobel dá voz ou agradece o papel desempenhado por escritores; estão nesse caso nomes muito diversos, desde Vicente Aleixandre ou Brodsky, Elytis ou Pasternak. Cito estes nomes porque são autores de que gosto, independentemente das suas opções políticas. Mas Saramago não foi apenas escolhido pelas suas ideias políticas, tal como o não foram Isaac Bashevis Singer ou Czeslaw Milosz. É interessante reunir o vasto conjunto de teorias da conspiração sobre a atribuição do Nobel. Certamente, pelo que se lê e se sabe, há uma inclinação política na atribuição do Nobel, o que o desvaloriza crescentemente. Mas também em matéria literária ele perde interesse e valor; só assim se justifica que tenha sido atribuído a Jelinek e não a Philip Roth ou Hugo Claus; que tenha ido parar às mãos de Dario Fo e não a Mailer, Cees Noteboom ou Vargas Llosa; e que tenha sido atribuído a Harry Martinson e não a Jorge Luis Borges. Essa é a questão mais importante.

P.S. - É evidente que seria importante saber se Vargas Llosa, Roth ou Borges foram alguma vez excluídos por razões políticas, mas isso é outra conversa.

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por FJV, em 16.10.05
||| Segurança.
Independentemente do resto do projecto, eu gostaria que começassem por definir a ideia de segurança do Estado que é considerada no estatuto do jornalista.

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por FJV, em 16.10.05
||| A colecção Berardo.
Joe Berardo já foi bête noir. Havia gente que temia ser vista na sua companhia. Como de costume, as suspeitas acumulavam-se sobre a sua fortuna e os seus gostos, coisas que não deviam andar a par no imaginário nacional. Quando o conheci pareceu-me um personagem afável, simpático e discreto -- além de invejável pela colecção que soube reunir (também por culpa de Francisco Capelo). Essa colecção é valiosa, cara (são coisas distintas) e importante. Suscita invejas. A inveja é a pior coisa que há; não se limita a ser cobiça, exige a privação do outro. O Estado é mestre nessa ciência. Mas também não tem dinheiro. Além disso, tem as suas burocracias. Além disso, tem os seus despeitos, as suas exigências pelintras e uma série de oportunidades para serem desperdiçadas.

Ver também o que escreve Eduardo Pitta no Da Literatura.

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por FJV, em 16.10.05
||| O cantinho do hooligan.
Não vi o jogo. Mas percebi o essencial: uma defesa comandada por Ricardo Costa e sem Pedro Emanuel e Jorge Costa; um treinador que lança Diego como opção acidental, que mantém lá na frente McCarthy sozinho e que espera tanto tempo para fazer entrar Hugo Almeida e Quaresma; um clube que mantém McCarthy na equipa quando devia usar um bom avançado -- só pode perder. Se Ricardo Costa e aquela defesa são vulneráveis a Nuno Gomes, esperem por Adriano, Recoba, Solari, Veron, Stankovic, Cambiasso, Killy González ou Zanetti, esta semana (a menos que tenham poupado Pedro Emanuel...). Mais: se uma equipa construída na base da dança de ataque não consegue disparar contra a baliza, é uma equipa inútil. O FC Porto foi inútil e a culpa é dos seus atacantes e do treinador.
Outra nota, sobre a minha ideia de futebol, e retirada da biografia do Grêmio, de Eduardo Bueno, o Peninha: como toda a gente sabe, futebol-arte é coisa de veado. Está provado.

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por FJV, em 16.10.05
||| Assim.









Cumpro Kippur nos trópicos. Depois, regresso ao Douro, para uma despedida. À medida que a terra recebe o seu corpo e o acolhe, vem o primeiro frio do ano com o crepúsculo, como estava prometido.

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