||| Harold Bloom.Por falar nisso, terminei a leitura de
Onde Encontrar a Sabedoria, de Harold Bloom (tradução de
Where Shall Wisdom Be Found?), publicado pela Objetiva. É um grande livro que ressuscitará as tradicionais críticas a Bloom pelos
profissionais do ressentimento ou pelos optimistas da contemporaneidade. E a inveja de muitos académicos que raramente o leram. Neste caso, é um livro muito mais marcado pela
consciência religiosa de um
religioso secular. O homem religioso sente a euforia da sapiência ou da sabedoria («cristãos que crêem, muçulmanos que obedecem, judeus que confiam»), mas Bloom continua um secular, e a sua responsabilidade é diferente: «Os seculares assumem um outro tipo de responsabilidade, e a sua busca da literatura da sapiência é, por vezes, mais melancólica, ou angustiada, dependendo do seu temperamento.» É uma peregrinação, de resto, entre dualidades: entre o Livro de Job e o Ecclesiastes, entre Platão e Homero, entre Cervantes e Shakespeare, entre Freud e Proust, entre Montaigne e Bacon ou entre Johnson e Goethe, terminando com dois textos notáveis -- um sobre Santo Agostinho e outro sobre «Nemesis e Sabedoria»: «Não podemos encarná-la [à sabedoria] mas podemos aprender a conhecê-la, a despeito de ser ou não ser identificável com a Verdade que talvez nos liberte.»
Os que se irritaram com a torrente devastadora de
Genius (e que se tinham sentido naturalmente excluídos de
O Cânone Ocidental), não compreenderão o apelo presente neste
Onde Encontrar a Sabedoria: o de uma busca do esplendor que não significa conforto nem tranquilidade, explicando que a sabedoria (ou a
literatura sapiencial, termo mais de acordo com Bloom) não vive sem esse laço a prendê-lo ao esforço intelectual e à contenção que nos mostra os limites.
Curiosamente, logo a abrir, o programa particular de Bloom «reflecte a busca de um saber que possa aliviar e esclarecer os traumas do envelhecimento, da convalescença após doença grave, e do pesar causado pela perda de amigos queridos».