por FJV, em 01.09.05
||| Cultura, aí vou eu
Preparem-se. A cultura está aí a bater à porta e a preparar-se para o beija-mão. São as presidenciais. Soares será o candidato da cultura, dos artistas, dos intelectuais, do pessoal cosmopolita, dos universitários. Suponho que Cavaco, se avançar, arregimentará apenas o que sobrar dos jogos florais. Ah, o Portugal da Cultura já está em bicos de pés. Preparem-se para mais uma lavagem, se ainda tiverem paciência.
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por FJV, em 01.09.05
||| O centro.Caro
José: voltei várias vezes atrás para ler a sua formulação. Se bem compreendo, com algum exagero, admito, se pessoas como o
João Gonçalves ou o
Paulo Gorjão fazem críticas (mesmo que «ásperas») à recandidatura de Mário Soares, estão
a aniquilar o centro. Não é Mário Soares que tem de recuperar o centro, portanto, ou de o cativar; mas sim «as pessoas do centro» (como o João e o Paulo) que não podem perder a oportunidade de perder Mário Soares. É isso?
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por FJV, em 01.09.05
||| Da humilhação.
Mas um dos pormenores desagradáveis dos últimos dias tem sido a constatação de que, afinal, Manuel Alegre não era tão querido da esquerda nem do PS como se fazia crer. Depois do anúncio da candidatura de Mário Soares, Alegre foi visto como um empecilho «sem apoios». Alegre devia, portanto, limitar-se a ser o que «sempre foi»: um apoiante de Soares. E se Soares avança, Alegre devia prestar-lhe vassalagem incontrolada, infinita, inquestionável. Se Alegre se mostra ferido (são questões pessoais, sim, mas mais vale assumi-las claramente), é visto como um ingrato que não sabe reconhecer «o pai da República». Não me parece justo para ambos. A estratégia é transformar Alegre num pequeno peão, um poeta que é preciso defender quando o poder não está em causa, um autor de canções de Adriano Correia de Oliveira que tem algum interesse instrumental -- mas inimputável politicamente e dispensável quando se trata de falar de coisas sérias. E, assim, dar de Soares não a ideia de ser um «pai» mas um «padrinho da República».
Ou seja: sim, Alegre devia reconhecer «o seu lugar». Ele seria «apenas uma extravagância com alguma utilidade».
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por FJV, em 01.09.05
||| Sobre o homem comum.[Do
Outro-Eu, de Carlos Vaz Marques.]
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por FJV, em 01.09.05
||| Rex Stout. Adormecer em paz (2).
Lucy Langlon já sabe quem é a mãe. Uma desavergonhada, parece. Mas, no final, Nero Wolfe pede quarenta minutos para preparar ovos mexidos. Quarenta minutos. Voltei atrás duas vezes para confirmar.
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por FJV, em 01.09.05
||| Seca.
Há a seca nos campos, a fotografia da desolação. E a seca nas cidades. Não se fala muito dela, mas acho que é muito mais perigosa. Lisboa está cheia de pó, poeira suja, lixo que apodreceu nos becos, cheiros, luz demasiado branca -- e necessidade de chuva. Uma chuva que limpe, lave, arrefeça as ruas, leve consigo o lixo acumulado nos passeios. Há aí um problema: mal a chuva apareça (e eu queria pelo menos quinze dias de chuva), Lisboa vai contabilizar inundações e desgraças; basta ver como estão entupidas as sarjetas e obstruídas as ruas. As cidades nunca mais aprendem. Tudo isto vai acontecer em plena campanha eleitoral.
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por FJV, em 01.09.05
||| Evidências.
Primeira, que Alegre seria um bom candidato para a direita intrumental. Seria um candidato fácil de bater. É de outro mundo, fala para um mundo reduzido à sua gramática e ao seu léxico. Seria fácil demais.
Segunda, que a candidatura de Soares faz bem à direita. Daqui em diante, os meninos deixarão de se limitar a discutir estratégia e a fazer contabilidade; talvez passem a pensar mais e a não ver Cavaco como o resíduo que vem salvar as almas. Uma vitória de Soares seria desastrosa para Sócrates a médio prazo, com certeza. Mas seria uma lição definitiva para a direita, que também anda a merecê-la.
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