||| Infelicidade. Afinal, não se confirmou a manchete do Expresso. O presidente não dedicou o 25 de Abril a dar puxões de orelhas aos deputados. Pelo tom e matérias do discurso de Cavaco Silva no Parlamento, não sei como vão acusá-lo de tentar mais um golpe contra o regime.
Sem cravo, com discurso social e sem tecnocracia economicista. Há anos, para tirar a chupeta ao meu filho, fingi que a perdi e dei-lhe um rebuçado. Mesmo que o rebuçado tenha sido uma mera compensação para o simbolismo da perda da chupeta, teve que ser, pois não estava a ver o pequeno a crescer sempre agarrado à chupeta.
Discurso de "esquerda", de compaixão, de solidariedade, de alerta - que importam as definições? O que importa é a gravidade emprestada pelo Presidente ao compromisso cívico concreto que propôs aos portugueses e a que teremos de responder por acção ou omissão (...)
Com 5 páginas, o Presidente da República arrumou de vez com a velha questão de que a pobreza e a exclusão são uma questão de coração e que este bate à esquerda. A reacção negativa do Bloco e do PCP ao seu discurso aí estão para o demonstrar. Perceberam que a sua agenda política acabou. E logo no dia 25 de Abril. Com 5 páginas apenas.
O discurso foi equilibrado, sensato, com a tónica na atenção aos socialmente mais fracos. Ter-lhe-á faltado apenas alguma veemência e uma mais clara referência à escassa competência técnica e cívica revelada pela «classe política», no desempenho dos cargos públicos, bem como uma inequívoca condenação da avidez argentária de que esta putativa classe tem dado prova. O PR, se não quiser ficar conivente com ela, terá de a zurzir, pelo menos em discursos. Mas ainda terá muitas intervenções políticas para fazer. Veremos se não desperdiçará oportunidades. No mais, não esteve mal e deveria ter sido cordatamente aplaudido pelo conjunto dos Deputados.