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Os idiotas falantes que agora tergiversam sobre a Europa deviam fazer uma pequena genuflexão para assinalar os 130 anos que passam sobre a primeira viagem do comboio Orient Express. Mas temo que o assunto não os comova ou que a sua ignorância seja mesmo terrível. A ligação entre Paris-Viena-Istambul (bem como Londres-Budapeste-Praga-Veneza) assinala uma Europa de fim de século (1883) que nunca deixou de estar presente na nossa imaginação literária ou cinéfila. Basta pensar em Agatha Christie, sim, mas também em Graham Greene, Verne, Paul Theroux ou Ian Fleming (o de 007) – que escolheram esse comboio como cenário. Depois da queda do muro de Berlim, a ideia da velha ‘Mittleuropa’ regressou para deslocar o eixo continental para Leste – o Orient Express da época do império Otomano podia ser um antídoto contra esse centralismo, mas o mundo tinha mudado. Passados 130 anos, as viagens de avião substituíram a utopia orientalista e o sonho de um continente alargado. A Europa já não tem memória para as coisas que valem a pena.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
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