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Há um extraordinário romance de José Eduardo Agualusa, O Vendedor de Passados (em adaptação para cinema), em que o personagem principal, Félix Ventura, tem um estranho negócio: reescreve a biografia dos seus clientes consoante as necessidades e as exigências da vida corrente num novo regime político. Em Portugal, a avaliar por episódios recentes, teria alguma procura. Em 1975 essa indústria foi bastante lucrativa e, nos anos 80, teve uma retoma extraordinária. O Expresso, por exemplo, redescobriu alguns textos de Paulo Portas no semanário O Independente, nos quais zurzia em figuras com que agora tem de negociar e de se relacionar. É a vida. Há quem se escandalize e quem esconda o seu próprio passado, ou quem fique apenas desejoso de reconstruí-lo à medida das conveniências. Não é grande solução: o inferno tem uma grande e profundíssima memória. A imprensa está cheia de deslizes.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
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