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Ontem, numa entrevista à Antena Um, Daniel Innerarity mencionou a estranha contradição em que vive a Europa, sobretudo aquela que separa os que têm competência ou instrumentos para atuar na «crise europeia» – mas não têm legitimidade para o fazer – daqueles que têm inteira legitimidade democrática para atuar – mas não estão preparados para o fazer. A questão da legitimidade está na base da próprio funcionamento desta União Europeia. Lembram-se de quando nos diziam que os cidadãos, ai deles, não tinham legitimidade para referendar os tratados, porque estes eram “muito complexos”? Lembram-se de os iluminados cérebros da Comissão Europeia terem criticado abertamente os eleitores dinamarqueses ou irlandeses por não terem votado num certo sentido? O que acontece em Itália também coincide com esta esquizofrenia: independentemente do voto recente dos italianos, vai formar governo quem for escolhido pelo presidente em conjugação com a bênção de Bruxelas e dos seus interesses conexos. Os europeus ainda não se deram conta de que a legitimidade para escolher as nossas vidas, hoje em dia, diminuiu drasticamente. A discussão sobre a natureza e a falência da democracia contemporânea não pode ignorar os anos recentes da UE.
[Da coluna do Correio da Manhã]
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