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Os dias que correm.

por FJV, em 16.04.11

Os últimos dias foram, naturalmente, agitados. Por isso, uma explicação aos leitores do blog.

 

1. Três, quatro dias em «formação a livreiros», Lisboa, Coimbra e Porto. Uma tarefa agradável, entusiasmante — e até comovente. Cerca de 150 livreiros, aproximadamente, com quem se falou de livros. Aprender muito, bastante; ouvir relatos de experiências «do outro lado da barreira», de gente que manuseia livros, arruma livros, vende livros, devolve (com tristeza) livros não vendidos. Acho que a formação foi, realmente, para mim.

 

2. Encontro de Leitores da revista LER, desta vez no Porto, depois de uma primeira experiência em Lisboa. E esta brincadeira para o Dia do Livro.

 

3. Finalmente, a política. Fui convidado, como independente, para a lista de candidatos a deputados pelo PSD no círculo de Bragança – e aceitei. As razões são simples e prendem-se, todas elas, com a necessidade de responder a um desafio para a participação na vida portuguesa. Há muitas formas de o fazer — esta é uma delas. A participação activa na vida política nunca foi uma das minhas prioridades acima de todas as outras; a experiência dos últimos anos, no entanto, é dramática: a indiferença destruiu a capacidade de o país escolher, interrogar-se, pensar, escolher e agir. Essa indiferença conduziu, não raro, a formas obtusas de ressentimento, de mistificação, de medo, de mau governo e — finalmente — a um caos em que o debate, a troca de ideias e o esforço colectivo foram desprezados, até chegarmos a um ponto em que a indiferença diante do mau governo se tornou tolerada e, até, apreciada e valorizada. Essa perversão da vida democrática é inaceitável. Diante do mau governo devem apresentar-se propostas e soluções para a mudança — até para reconduzir o país a uma normalidade que lhe permita encarar as dificuldades económicas que vive actualmente.

Penso que Portugal deve mudar; não apenas de governo, mas de modo de vida. Os últimos dez anos conduziram-nos a um caos que não vivemos antes senão em situações de excepção — na economia, na justiça, na educação, na protecção social, na vida em sociedade. À situação económica próxima da calamidade (de que os sinais mais evidentes, nos últimos anos, são o endividamento crescente do Estado, das empresas e dos cidadãos, a par do descontrole das contas públicas e da incapacidade de o governo fazer as escolhas mais acertadas, mascarando a contabilidade, falhando nas previsões, tomando por realidade aquilo que não passa de uma soma de fantasias cujos resultados serão bastante graves para os próximos anos) junta-se também a necessidade de procurar novos caminhos para a nossa vida. Isso passa por repensá-la e não por sujeitá-la a conjuntos contraditórios de «medidas» ditadas pela propaganda, pelas circunstâncias mais imediatas, bem como pela necessidade de manter uma enorme máquina de poder e de influência, cujo único objectivo é o de criar mais poder e mais influência. Acredito que isso passa por exigirmos clareza e transparência nas contas públicas, porque isso há-de significar, também, respeito pelo esforço e participação dos contribuintes; pela ideia de parcimónia e moderação na vida das famílias, porque isso significará que não se endividarão para lá do aceitável; por exercer o poder sem abdicar das ideias de tolerância, de respeito pela diversidade de opiniões, da necessidade de debate e de consenso; passará também por reduzir o poder do Estado e das grandes corporações, de modo a não sacrificar a liberdade dos cidadãos nem a sua capacidade de iniciativa; passará por fazer com que a educação e o ensino regressem à escola pública, que não pode ser reduzida a um palco de experiências sindicais, pedagógicas, ideológicas e de «engenharia social»; passará por uma reforma da justiça, de forma a torná-la mais célere, mais próxima dos cidadãos, mais eficaz, mais fiável, mais prestigiada e independente do poder político; passará por não tratar como mera estatística (maleável e apta para toda a espécie de propaganda) o crescente e dramático aumento do desemprego, da pobreza e do desamparo na velhice; passará por mais, sempre mais, rigor e transparência na aplicação dos dinheiros públicos, uma vez que o Estado não pode ser «propriedade» de nenhuma geração iluminada, de nenhum complexo empresarial, de nenhum grupo de pressão e de influência, nem pode, tão-pouco, ser administrado ao sabor das conveniências do momento; passará por uma nova interpretação do papel do Estado na área da Cultura, que não pode ser concebida como o organograma dos interesses privados e corporativos no actual Ministério da Cultura – é impossível falar de Cultura sem falar da ideia de comunidade, sem falar de imaterialidade, de prospecção do futuro, de património e da independência dos criadores em relação ao Estado; é também impossível falar de cultura sem falar de novos públicos para a cultura, tendo em conta que os novos públicos não se formam com mais dinheiro, com mais investimento e mais despesa do Estado, mas com a sua criação a partir da escola, que não pode continuar a menosprezar a educação artística, o pensamento e o contacto com as letras e o património. Estas são as minhas ideias e continuarei a defendê-las —já as defendi até aqui, e penso que são justas e sensatas. E creio que as ideias de justiça e de sensatez devem regressar à vida política. Irei defendê-las agora noutro lugar, e a partir de uma candidatura em Bragança, terra de grande parte da minha família, a terra dos meus maiores, como escreveu Jorge Luis Borges. Tenho orgulho em fazê-lo a partir de Bragança.

Como disse, aceitei esta candidatura como um desafio à participação na vida portuguesa. A partir de agora, esse desafio será, também, um dever. Manter-me-ei como independente, no quadro de um programa eleitoral com que me identifico e que defenderei. Não tenho uma vida profissional como político dedicado à política a tempo inteiro — sou e serei sempre o que fui: autor e editor. Irei, portanto, manter essa identidade e essa raiz. Espero não me arrepender; mas, se isso acontecer, sei que não há novos começos. Continuarei, apenas.

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37 comentários

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De oberan a 17.04.2011 às 04:00

blah blah blah

mais do mesmo, "não sou político" mas depois é só...

demagogia demagogia demagogia

mais do mesmo
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De César Ribeiro a 18.04.2011 às 14:46

Foi um gosto ser ouvinte e aprendiz durante 30 minutos do sempre espectacular JFV .
Todos nós saimos da formação com a paixão por livros renovada e com uma grande vontade de ler de tudo um pouco e de listar todas as nossas intenções de leitura.
Obrigado!
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De Elmiro Ferreira a 17.04.2011 às 06:37

Tenho o FJV em grande estima, resultante daquilo que vou lendo. Desejo-lhe os maiores sucessos neste caminho que vai trilhar. Portugal bem precisado está.
Porém, uma pitonisa do "i" já vaticinou o seu afundanço. Espero que ela tenha de morder a própria língua.
Os meus cumprimentos.
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De Maria Joana a 17.04.2011 às 10:46

Bem haja!
O P.S.D . está de parabéns.
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De Luísa a 17.04.2011 às 11:41

Dou-lhe os parabéns e desejo-lhe boa sorte para a esta nova faceta. A política nacional só tem a ganhar com pessoas como o Francisco.
Só tenho pena de não ser eleitora em Bragança.

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De Vasco Lopes a 17.04.2011 às 13:55

Apesar de não ir votar PSD, nem tão pouco votar no círculo de Bragança, acredito que o aparecimento de novas pessoas como o senhor no espectro político, pode ajudar a alterar mentalidades e a trazer novas ideias a um país que está nitidamente doente.
Boa sorte.
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De Teofilo M. a 17.04.2011 às 15:07

Perdoe-me a franqueza, mas como gosto de si, creio que está embalado num sonho que, sendo lindo, irá trazer-lhe um mau acordar.
Já estive na coisa pública com esse mesmo espírito e vontade. Se por aqui ainda ando a escrevinhar na água a isso sou levado por um idealismo que já perdeu a inocência há muito tempo.
Espero que seja uma voz diferente no Parlamento e não se transforme em mais um personagem do coro guiado por um qualquer corifeu.
Desejo-lhe sorte e espero cá estar para ver se cumpre o prometido.
Vou guardar este texto a sete chaves.
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De Filipa a 17.04.2011 às 15:42

Votarei PSD porque nestas eleições o mais importante é que o PS não ganhe, mas noutro contexto jamais daria o meu voto a Nobre. Depois de ler o seu texto fica reforçado o meu sentimento, tenho muita pena de votar pelo distrito de Lisboa.
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De julia a 17.04.2011 às 17:19

Caro FJViegas:
Fiquei contente, por saberem escolher, quem nos vai HONRAR. Basta ser nordestino, para colocar Bragança e as suas lindas aldeias, no mapa.A nossa terra é um maná, para um cidadão como FJViegas.
O melhor do Mundo para o nosso deputado.
Até amanhã! Até sempre!
Júlia Príncipe
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De Paulo Jorge Santos a 17.04.2011 às 17:35

Embora tendo dificuldade em compreender a razão pela qual, neste momento, considera que o PSD, com a actual liderança, poderá ser fiel aos valores com os quais se identifica, não posso deixar de o felicitar pela sua decisão. Espero que apesar das dificuldades que irá encontrar possa ser um símbolo da regeneração da nossa vida política e partidária.
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De Maria Helena Serrano a 17.04.2011 às 18:32

Bem haja!

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