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Quando se fala na «ajuda externa», um eufemismo sem mácula, há reacções curiosas: os que partem do princípio de que temos direito a ela, sem mais, e que «as instituições internacionais» não fazem mais do que a sua obrigação — muito semelhante à reacção argentina no tempo de Carlos Menem e no pós-Meném; os que a consideram «um novo saque» ao país, e que chamam canalhas aos que emprestaram dinheiro; os que vêem na «auditoria às contas públicas» um ultraje inultrapassável, uma desconfiança brutal, um ataque à honra. A poucas pessoas passa pela cabeça dizer, com clareza, que é necessário pagar as dívidas e que esse endividamento crescente existe independentemente de qualquer argumento. O argumento de que é necessário encarar esse endividamento como problema bate sempre numa barreira: sim, mas já viram o endividamento dos outros? O único problema são as garantias. O vetusto D. Manuel não pediu empréstimo para enviar a embaixada de Tristão da Cunha ao papa; nem precisava de garantias (curiosamente, uma primeira desfaçatez ideológica foi abandonar as ilhas de Tristão da Cunha e mandar o rinoceronte para Roma por via postal...), que abundavam no nosso tradicional desperdício – azares previstos da História, tudo veio a acabar. Hoje não temos garantias aceitáveis. Como uma família endividada, tem de negociar, renegociar, e mostrar as contas: estamos assim. Por mais que António Costa dê a volta ao discurso pré-eleitoral, é preciso «atacar o mal prioritário, reduzir a dívida, reduzir o défice, consolidar as nossas finanças públicas». Depois disso, sim, há vida para lá do défice.
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