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Há vida para lá do défice.

por FJV, em 09.04.11

Quando se fala na «ajuda externa», um eufemismo sem mácula, há reacções curiosas: os que partem do princípio de que temos direito a ela, sem mais, e que «as instituições internacionais» não fazem mais do que a sua obrigação — muito semelhante à reacção argentina no tempo de Carlos Menem e no pós-Meném; os que a consideram «um novo saque» ao país, e que chamam canalhas aos que emprestaram dinheiro; os que vêem na «auditoria às contas públicas» um ultraje inultrapassável, uma desconfiança brutal, um ataque à honra. A poucas pessoas passa pela cabeça dizer, com clareza, que é necessário pagar as dívidas e que esse endividamento crescente existe independentemente de qualquer argumento. O argumento de que é necessário encarar esse endividamento como problema bate sempre numa barreira: sim, mas já viram o endividamento dos outros? O único problema são as garantias. O vetusto D. Manuel não pediu empréstimo para enviar a embaixada de Tristão da Cunha ao papa; nem precisava de garantias (curiosamente, uma primeira desfaçatez ideológica foi abandonar as ilhas de Tristão da Cunha e mandar o rinoceronte para Roma por via postal...), que abundavam no nosso tradicional desperdício – azares previstos da História, tudo veio a acabar. Hoje não temos garantias aceitáveis. Como uma família endividada, tem de negociar, renegociar, e mostrar as contas: estamos assim. Por mais que António Costa dê a volta ao discurso pré-eleitoral, é preciso «atacar o mal prioritário, reduzir a dívida, reduzir o défice, consolidar as nossas finanças públicas». Depois disso, sim, há vida para lá do défice.

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5 comentários

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De Pedro Silva a 09.04.2011 às 14:22

Não sei se sabe, mas o problema maior não é a dívida do Estado. É a dívida privada - isto é: a banca... que tomada de loucura metódica e encorajada pelos oasis que cantam e pela irreponsabilidade do sistema financeiro, encorajaram os cidadãos a endividarem-se: viagens, férias, casas, carros, jantares, roupa, perfumes...
Portanto, temos que olhar para os bancos com uma desconfiança tranquila e esclarecida.
Depois de ver o documentário InsideJob (que nem sequer se pode dizer que seja de esquerda), não é possível olhar para aquele tipo de actividades com o mínimo de respeito. Respeito civil, nem sequer é ainda repeito político e económico.
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De robalos a 09.04.2011 às 14:43

Só isso:apurá-las,pagá-las,às dívidas.Quanto antes.
Responsabilizar os demagogos,com urgência.
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De AMCD a 09.04.2011 às 22:47

Quem se endividou, pois que pague a sua dívida. Com certeza. O problema é que alguns, portaram-se mal e endividaram-se, e agora pagam todos, mesmo os que nunca contraíram dívidas. Isso é justo?

Quem nunca contraiu dívidas, quem foi regrado, quem viveu sempre de acordo com as suas possibilidades, é agora também convocado para pagar as dívidas contraídas pelos que não olharam a meios para atingir os seus fins. A meu ver é aí que reside a grande injustiça.

Não são só os alemães ou os finlandeses que estão descontentes por terem de suportar a irresponsabilidade dos outros. Entre nós também há gente trabalhadora e responsável.

Cumprimentos.
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De Aires da Costa a 16.04.2011 às 10:32

Que eu saiba nem finlandeses nem alemâes estão a discutir se pagam as dívidas portuguesas ou não, mas sim se emprestam e a que taxa de juro
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De Teofilo M. a 15.04.2011 às 20:00

Até agora consegui saber aquilo que Mr de la Palisse não diria melhor: - Que é preciso pagar as dívidas, que é preciso reduzir o défice, que é preciso consolidar as finanças públicas ( e as privadas, não será?), reduzindo ao mesmo tempo a dívida , expandindo a economia, apoiando as pequenas, micro e médias empresas, criando emprego, diminuindo o desemprego, fortalecendo a agricultura, dinamizando a indústria, evoluindo o nível e a qualidade de vida, diminuindo a dependência energética, etc..

Eu só gostaria de saber como? Há alguém por aí que me informe?

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