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Coisas inevitáveis.

por FJV, em 12.03.11

«As pessoas» habituam-se facilmente às inevitabilidades. Por exemplo, a inevitabilidade da União Europeia como ela é gerida hoje; à inevitabilidade de não discutir, debater e votar os tratados sucessivamente assinados em nosso nome (como se sabe, recordem bem e não se esqueçam, porque não estávamos preparados para discutir coisas tão complexas); à inevitabilidade de todas as medidas impostas a partir da União (desde, e não estou a rir, a distância entre os dentes dos garfos, a taxa de gordura dos queijos, o tamanho e forma dos legumes — até aos cortes nas reformas, às reformas das leis laborais, etc.); à inevitabilidade dos orçamentos de Estado que era necessário aprovar, caso contrário seria a catástrofe; desde há um ano, à inevitabilidade de todas as medidas de austeridade que visam tapar buracos gerados por anos e anos de despesas indiscriminadas para «construir uma política de modernidade»; à inevitabilidade dos conluios entre o governo e as grandes empresas amigas, mesmo que isso significasse esmagar os cidadãos; à inevitabilidade de todos os sacrifícios nas «políticas sociais»; à inevitabilidade nas curvas e contracurvas da propaganda, «porque todos fazem o mesmo»; à inevitabilidade da «engenharia social» na educação ou na política de família; à inevitabilidade do governo «porque todos fariam o mesmo». Isto conduziu à anestesia geral, à indiferença, à autorização daquela bonomia feliz com que se anunciam «sacrifícios colectivos» sem discussão prévia, à contemplação embevecida de todos os «porreiro, pá», ao adormecimento da própria consciência cívica que encolhe os ombros quando um acto eleitoral está manchado por erros e boicotes óbvios. «As pessoas» tornaram-se indiferentes, autorizam tudo, acham tudo «normal», pensam que tudo é banal. Quando tudo é banal, nada é banal — tudo pode ser uma catástrofe subterrânea.

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3 comentários

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De L.P. a 12.03.2011 às 17:19

É com isso que conta o governo e a maçonaria, a propósito de um acordo ortográfico impingido aos portugueses à revelia da sua vontade.
Estranho que não veja aqui uma condenação clara, como me surpreende a displicência com que o assunto é tratado por gente das letras, como se uma mudança da ortografia desta magnitude (além do princípio em si de mudanças no idioma por via legislativa) possa deixar indiferentes as gentes da cultura, como se se tratasse de um assunto menor.
Enfim.
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De henedina a 12.03.2011 às 19:51

Indignai-vos. Stéphane Hesse.
(era neste fjv enganei-me)
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De Anónimo a 15.03.2011 às 23:19

A Inevitável Incapacidade Mental

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