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De Moacyr, os primeiros livros que li foram O Exército de um Homem Só e O Centauro no Jardim. A década de oitenta foi o grande ponto de partida para uma obra que nunca deixou de ser fascinante pelas interrogações que criava. Saturno nos Trópicos: a Melancolia Européia Chega ao Brasil foi um deles, um ensaio notável; tal como A Mulher Que Escreveu a Bíblia, uma encenação ficcional da tese de Harold Bloom; tal como A Majestade do Xingu, uma história em redor do médico e higienista Noel Nutels e da emigração de judeus russos para o Brasil. O seu mundo era esse, aliás: o de Porto Alegre, a sua cidade de sempre (escreveu um belíssimo Porto de Histórias: Mistérios e Crepúsculos de Porto Alegre), com o bairro do Bom Fim transformado em catalizador da sua memória judaica, da gente humilde que fugira da velha Rússia e do comunismo, judeus que reconstruíam o seu mundo longe da Europa. Entrevistei-o duas vezes, em sua casa, no limite do bairro de Moinhos de Vento, com as suas árvores altíssimas – um apartamento cheio de livros; escrevia em todo o lado, a toda a hora, porque tinha sempre um livro «para terminar». Talvez por isso, «escrevia simples» (as suas crónicas na Folha de São Paulo eram um exemplo disso – uma espécie de adaptação literária de notícias publicadas pelo jornal). Encontrámo-nos em vários voos e aeroportos e ele escrevia em todas as circunstâncias; era um grande leitor, um leitor atento, avassalador. Ficámos mais amigos por causa de A Condição Judaica, um pequeno livro que mostrava o Moacyr simples, com o seu gosto pela clareza e, ao mesmo tempo, pela beleza ética do judaísmo. Um adeus para Moacyr não basta. Vai custar despedir-me.
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