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Pedido (coisa urgente).

por FJV, em 29.01.11

Estou sentado no meu lugar, num comboio Porto-Lisboa. Atrás de mim, sentadinha e vestidinha de verde claro, vai uma avozinha simpática que, desde que o comboio atravessou o Douro, ainda antes de parar na estação das Devesas, só à vista da praia de Espinho esteve com o telefone inactivo (neste momento acabo de atravessar o Mondego). Enviou beijinhos para vinte e dois netinhos, três filhas, duas amigas (uma das quais acordou), várias sobrinhas, falou em português e inglês, comentou duas heranças, várias receitas a preparar «da próxima vez», atestou amor profundo e sério a vários familiares, comentou o casaquinho de lã que uma tal Elvira trazia vestido, falou do sobrinho que vive numa certa cidade (fiquei a saber que é uma excelente pessoa, mas acho, intimamente, que engana a família toda), mencionou uma viagem na Páscoa — enfim, o que se passa é o seguinte: ela não se cala. Alguém conhece um método, eficaz e indolor, de interromper esta sequência de chamadas telefónicas sem ser arrancar-lhe o telefone ou gritar-lhe ordinarices? Já a olhei fixamente por cinco segundos, de olhos muito abertos; já me levantei duas vezes e fui até ao fundo da carruagem; já simulei uma tentativa de suicídio — ela continua a falar e acabou de marcar um novo número. Tem uma voz doce e insuportável. Não se cala. Por favor.

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10 comentários

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De Tiradentes a 31.01.2011 às 13:00

Caro FNV
Fique a saber que sou ateu consumado mas já tive de pedir perdão a Deus.
Numa capela na margem sul acompanhando quem uma missa seguia rezando, respeitosamente quase à porta me mantinha, quando o senhor padre pedia para rezarem com ele o Pai Nosso, (trim, trim) que estais no céu (trim trim)..uns segundos de espera e do meio dos crentes se movimenta um casaco de peles com todos os ruidos de apressada e atravessa a capela até...precisamente o local onde eu estava.
Os crentes e o padre continuaram o Pai Nosso apesar do trim trim subsequente apesar de em menor tom ouvirem, o que eu ouvia bem alto.
Em cima do casaco de peles estava um rosto queimado de rugas com uma cabeleira rígida de laca com madeixas que na porta da capela me vinha dizendo....que andava fugida.... que podes vir que a missa está quase a acabar mas que teria de fazer as sapateiras e o camarão porque ela não sabia.
Até aqui trocando uns olhares entre o triste e desostoso a dita cuja geronte deve ter pensado que um rapaz dos seus cinquenta (eu) estaria a admirar-lhe os dotes propondo que lhe passassem a receita das sapateiras.
Permita-me omitir o que se passou verbalmente a seguir, já que nenhum crente (talvez por isso) lhe disse nada.........mas eu disse.
E foi uma chamada de telemóvel que me obrigou ir pedir perdão a Deus.
Logo eu que sou ateu.

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