Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
É um problema. Por exemplo, a tese de 1997 descoloria um pouco a tese de 1979: o papel das telenovelas da Globo não era negligenciável na passagem da mulher brasileira para a modernidade; era a agenda, não era? Mas onde estava quando o governo Lula tentou fazer passar a lei do audiovisual e a lei do estatuto do jornalista para domesticar a imprensa, silenciar as vozes incómodas e acelerar os processos de «liberdade de imprensa» feitos a pedido da entidade que iria «regular» o funcionamento da imprensa? Lula queixa-se de «falta de imprensa»? Só se for agora, depois de ter passado oito anos a bombardear o governo de FHC com a cobertura da imprensa e o beneplácito dos tribunais, porque não se podia criticar o «pai dos pobres» – e de determinar a expulsão de correspondentes estrangeiros (foi preciso vir um ministro, a correr, da Suíça, para pôr algum bom-senso nos miolos de Brasília), coisa que a ditadura brasileira só fez uma vez. Quando o governo Lula deslocou funcionários incómodos (de agentes policiais a juízes, procuradores, professores, etc) com a cobertura da patrulha ideológica do costume (de cineastas do RS a publicitários que recebiam pelas contas cifradas dos bancos de Belo Horizonte, onde se desenhava o mensalão). Quando o Estado de São Paulo ficou proibido de falar sobre o caso Sarney (o grande Ribamar!, o impoluto senador do Amapá!, o aliado de todas as horas!, o homem que negociava os cargos da Petrobras!), estavam onde? Ocupados com a agenda? Quando os processos judiciais, em segredo de justiça, contra jornalistas incómodos, apareciam nas secretárias do Planalto e eram «vazadas» para outras secretarias judiciais, e eram divulgadas as suas contas bancárias e a sua situação fiscal – nessa altura estavam onde? Quando o governo FHC instituiu os programas de Bolsa Família (e Lula dizia, na tv, que FHC queria comprar o povo, tal como quando José Serra lutou pela quebra de patentes dos retrovirais a soldadesca o acusou de fazer negócios), estavam onde? A tratar de psicanálise. Também estava a tratar de ética de psicanálise quando as tropas de choque do PT, do MST e dos sindicatos do PT assaltaram combis para queimar exemplares da Veja? Coitado do Lula, que não tratou da corrupção, «porque não sabia de nada», no fundo os negócios do leninismo brasileiro eram tratados longe, no gabinete de Dirceu (primeiro) e de Dilma (depois), que era mesmo ao lado, no mesmo corredor — porque devia estar a tratar da psicanálise, naturalmente. Eu defendo que a Maria Rita devia escrever sobre psicanálise, no ESP, se o ESP a contratou para isso, e que o caso do despedimento está mal esclarecido – e que, como já fui despedido por razões políticas (e deixado sem trabalho por um bando de canalhas servis que tomaram conta de tudo), sou contra todos os despedimentos por razões políticas, seja de funcionários da DREN ou de jornalistas de uma redacção, junto o meu nome à petição: deixem a Maria Rita escrever. Mas no resto, ah, no resto não me fodam com o pai dos pobres, a perseguição das éééélitisss, a classe A, a esquerda brasileira – e, pior do que tudo, com os psicanalistas da USP.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.