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José Sócrates em Arcos de Valdevez: «Eu gosto dos políticos que gostam de Camões.» Está certo, mas não é uma garantia. Há mesmo alguns problemas. Seria bom, neste caso, relembrar — ao longo da história portuguesa do século XIX — os políticos que não gostavam de Camões (que, em termos «patrióticos», foi uma invenção liberal contra a Regeneração e, depois, repescada na rua pelos republicanos). Mas seria ainda melhor enumerar os políticos que gostavam de Camões ao longo do século XX. A lógica (e nem precisa de ser malévola) é assim: «Eu gosto dos políticos que gostam de Camões. Salazar gostava de Camões. Logo, eu gosto de Salazar.» Também significa que: «Eu gosto dos políticos que gostam de Camões. Manuel Alegre gosta de Camões. Logo, eu gosto de Manuel Alegre.» Ou «Eu gosto dos políticos que gostam de Camões. Vasco Graça Moura gosta de Camões. Logo, eu gosto de Vasco Graça Moura.» Por maioria de razões, Vasco Graça Moura estudou e publicou muito sobre Camões. Claro que a trapalhada vai até ao infinito. «Eu gosto dos políticos que gostam de Camões. Isso não quer dizer que eu goste de Camões. Se eu não gostar de Camões, não gosto de mim. Mas eu quero gostar de mim, logo tenho de gostar de Camões.»
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