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Uma barulheira por causa do silêncio.

por FJV, em 23.04.10

Há uma mania portuguesa que é a de repente, muito direitinhas, em bicos de pés, soturnas e de narinas indignadas, aparecerem umas figuras a fazerem figura de guardiãs da decência. Por exemplo: mandar calar alguém – «o senhor presidente não pode comentar nem pronunciar-se, bla bla», «o senhor deputado não pode bla bla», «o senhor jornalista não deve bla bla». Há exemplos de figuras assim. Desta vez, a indignação chocada diante do silêncio de Rui Pedro Soares é comovente. A um grupo de deputados pareceu-lhe até que a República estava em perigo, e houve quem pensasse em mudar não sei que disposições legais, ou leis – para obrigar Rui Pedro Soares a falar. É preciso dizer que não conheço Rui Pedro Soares nem tenho simpatia pelo que parece que eram as suas funções e pelo que é quase certo que fez – mas se quiser manter-se em silêncio, está no seu direito. Não quer prestar declarações? Não preste. Não quer falar sobre as escutas? Não fale. A imprensa protesta? Que proteste. Os deputados indignam-se? Faz-lhes bem. Há imposições legais? Que se apliquem. Mas determinar, assim de repente, o fim do direito ao silêncio, é de uma indignidade só admitida num país de pequenos regedores.

 

PS - É claro que Rui Pedro Soares falou. Naquelas pequenas e curtas frases, escorregou. Nem precisa de falar, foi claríssimo como a água.

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