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(A ilha de Vestmannæyjar e o Vatnajökull)
Em 1984 estive diante de Vestmannæyjar, a pequena ilha do sul da Islândia; há poucos anos toda a população tinha sido transferida para a ilha-mãe, para os arredores de Vík e numa zona não muito distante de Eyjafjallajokull, o glaciar onde agora se deu a erupção. A estrada segue, depois, para Kirkjubaeklaustur, que eu relembro especialmente por causa das árvores, as poucas que havia na Islândia, tirando um pequeno bosque desirmanado que há para os lado de Husavík. Espantou-me a naturalidade com que os habitantes de Vestmannæyjar encaravam a retirada a que tinham sido obrigados, de uma hora para a outra, deixando uma parte da sua vida atrás. Mesmo os passeios que os islandeses faziam em redor do lago Myvatn (uma concentração absurda de pseudo-crateras) me pareciam também corajosos — com isso defrontavam o Vatna, o maior dos glaciares, mas sobretudo o Krafla, em «erupção controlada», e onde se podia subir de bicicleta. Depois, li O Sino da Islândia, de Halldór Laxness, provavelmente a saga europeia que mais me impressionou, a história de um bibliotecário islandês, «clandestino» na Dinamarca — que era a proprietária da ilha — e que parte pela Islândia para encontrar os fragmentos desaparecidos da Edda em verso, os poemas fixados no século XIII. Depois de ter traduzido (com Ana Cristina Lourenço) o Hávamál, uma espécie de «poemas ou quadros da sabedoria islandesa» (que fazem parte da Edda poética) compreendi também o tom daquela tranquilidade diante do perigo, um certo gosto pela mediocridade aprendido depois das derrotas dos heróis antigos. O conformismo diante dos acidentes da natureza, se quiserem; a contemplação da grandeza, a visão da luz.
(Kirkjubaeklaustur, a costa de Höfn e a estrada em redor do lago Myvatn)
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