Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



E vão ter de esperar até meados de Fevereiro, mais ou menos.

por FJV, em 26.01.10

Primeira tradução mundial.

Lançado em simultâneo em Portugal (Quetzal) e em Espanha (Anagrama).

Edição inglesa (Picador) em Janeiro de 2011; edição americana em espanhol (Vintage), em Março de 2010 .

 

«Com quem estou a falar? A suspeita de que fosse Frau Else a fingir outra voz instalou-se no meu peito como um filme de terror com piscinas cheias de sangue. Com Nuria, a recepcionista, disse a voz. Como é que está, Nuria? Cumprimentei em alemão. Muito bem, obrigada, e o senhor?, respondeu ela igualmente em alemão. Bem, bem, lindamente. Não era Frau Else. O meu corpo, agitado de tanta felicidade, rodou pela cama até cair e magoar-se. Com a cara mergulhada na alcatifa dei vazão a todas as lágrimas acumuladas durante a tarde. Depois tomei banho, fiz a barba e continuei à espera.»
Primavera de 44. Perco Espanha e Portugal, Itália (salvo Trieste), a última cabeça de ponte no lado oeste do Reno, Hungria, Koenigsberg, Danzig, Cracóvia, Breslau, Poznan, Lodz (a Leste do Óder só mantenho Kolberg), Belgrado, Sarajevo, Ragusa (da Jugoslávia só mantenho Zagreb), quatro corpos blindados, dez corpos de infantaria, catorze meios aéreos…»

 

«Verão de 44. Como Krebs, Freytag-Loringhoven, Gerhard Boldt, escrevo as notícias da Guerra apesar de sabê-la perdida. A tempestade não tardou a rebentar e agora a chuva fustiga a varanda aberta como uma mão muito longa e ossuda, obscuramente maternal, que gostaria de me avisar sobre os perigos da soberba. As portas do hotel não estão vigiadas, pelo que o Queimado não teve qualquer problema em subir sozinho ao meu quarto. O mar está a subir, murmura ele no interior da casa de banho para onde o arrastei, enquanto ele seca a cabeça com uma toalha. É o momento ideal para lhe bater mas não mexo nem um músculo. A cabeça do Queimado, metida na luva da toalha, exerce sobre mim um fascínio frio e luminoso. Sob os seus pés forma-se um charquinho de água. Antes de começar a jogar obrigo-o a tirar a t-shirt molhada e a vestir uma minha. Fica-lhe um pouco apertada, mas pelo menos está seca. O Queimado, como se nesta altura oferecer-lhe uma coisa fosse o mais natural, veste-a sem dizer nada. É o fim do Verão e é o fim do jogo. A frente do Óder e a frente do Reno desfazem-se à primeira investida. O Queimado move-se em volta da mesa como se dançasse. Talvez seja isso precisamente o que ele faz. O meu último círculo defensivo está em Berlim-Stettin e Bremen-Berlim, o restante, incluindo os Exércitos da Baviera e o norte de Itália, fica desguarnecido. Onde vais dormir esta noite, Queimado?, perguntei eu. Na minha casa, responde o Queimado. As outras perguntas, que são muitas, ficam engasgadas na minha garganta. Depois de nos despedirmos instalei-me na varanda e contemplei a noite chuvosa. Suficientemente forte para nos engolir a todos. Amanhã serei derrotado, não há dúvida.»


Terceiro Reich, inédito. || Terceiro Reich, 2010 || Two more novels

Autoria e outros dados (tags, etc)



Ligações diretas

Os livros
No Twitter
Quetzal Editores
Crónicas impressas
Blog O Mar em Casablanca


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.