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Emigrantes.

por FJV, em 04.02.09

Sobre esta matéria, escrevi em Setembro do ano passado: «Basta viajar um pouco pelas comunidades de emigrantes para ficar surpreendido com o que está em jogo: pequenos interesses, falta de ligação às próprias comunidades, desprezo pela condição de emigrante, desprezo pela ideia de participação democrática. Sim, parece que a opinião da emigração é um pouco «reaccionária». É gente que teve de sair de Portugal para poder viver com dignidade – dizem-lhe agora que, afinal, não tem dignidade bastante para votar e meter o seu voto num envelope. É uma democracia controlada, manejada consoante a feição dos interesses? É, provavelmente, sim. Mas é sobretudo uma vergonha. Uma vergonha que dá vergonha.
Eu, se fosse emigrante – e da próxima vez que fossem visitar-me em romagem, à cata de votos e fundos para as campanhas, a falar de diáspora e das «remessas» – mandava-os à merda.»

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O porta-estandarte.

por FJV, em 20.01.09

Ó João, não é preciso fazer a arqueologia de uma vocação de propagandista. O homem que actualmente se faz passar por aquele que era, antigamente, o sociólogo A. Santos Silva, foi o que lembrou os eleitores de que a eleição de Cavaco seria «um golpe de Estado constitucional», uma «ameaça ao regime» e «um risco de proporções incalculáveis». Depois das eleições desvalorizou a coisa com o argumento de que «se estava em campanha».

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A verdade.

por FJV, em 20.01.09

Clamar pela verdade em política, coisa bonita e séria. No entanto, podem acusar Manuela Ferreira Leite de tudo, inclusive de inabilidade, mas não da forma como citam o caso do TGV. A ideia de que MFL assinou um pacto para a vida e para a morte em nome do TGV com os espanhóis, é verdadeiramente deliciosa, sobretudo feita por quem mudou de opinião várias vezes e prometeu uma coisa e fez outra (ainda que tenha desculpas). Infelizmente, o PSD foi varado por uma onda de inabilidade, sim. Qualquer um podia dizer, «sim, acordámos nisso do TGV com os espanhóis, mas as condições mudaram; não podemos ficar amarrados a um acordo que nos prejudica; é necessário revê-lo». Conversa de surdos e de casmurros, o que anda por aí, e vai andar até Outubro.

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As coisas que eles dizem.

por FJV, em 20.01.09

Causa estranheza, por exemplo, ser possível afirmar que «as condições económicas se degradaram e que, caso o banco central apresentasse agora previsões, estas seriam mais negativas que as divulgadas no passado dia 6 de Janeiro». Ou seja, como é que uma entidade como o Banco de Portugal, mesmo com a desculpa de estar a lidar com «dados disponíveis até Novembro», faz afirmações tão definitivas e públicas a 6 de Janeiro e ignora o que vieram a ser «as notícias dos últimos 10 dias»? Para a próxima, mais vale esperar pelas notícias dos jornais e desconfiar do BdP.

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O Presidente.

por FJV, em 30.12.08

Quase nada a dizer: Cavaco esteve à altura, denunciando uma lei mal feita, e explicando-o com clareza aos portugueses. Consequências? Temos um ano pela frente. Talvez agora se perceba (sobretudo os brincalhões do costume, de piada fácil sobre Cavaco) o que significa «cumprir a Constituição». Todos saem mal do retrato: o PS, que tomou por guerra uma birra para «meter o presidente na ordem», lutou por uma lei inconstitucional; José Sócrates, que o permitiu deslealmente, apoiou o comportamento irresponsável de um grupo de arrivistas que julga que a maioria absoluta permite fazer aprovar leis iníquas; o PSD, que inclusive proibiu deputados de votar contra a lei, foi desleal com o Presidente e comportou-se, no Parlamento, como uma múmia sem dignidade. Contra tudo isto, o Presidente foi mais do que claro: está aberto o jogo. Temos quem nos defenda e quem defenda a democracia.

 

PS - Caro Eduardo: não podes alterar a qualidade dos eleitores de Cavaco conforme as circunstâncias, nem interpretar a sua opinião de acordo com as perguntas de Mário Crespo, essas sim, dignas da Somália.

 

P.S.2 - Ler o texto de João Gonçalves.

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Ano que termina assim.

por FJV, em 29.12.08

O governo termina o ano em baixa. Primeiro, com a suspeita de que o presidente da República não vai deixar passar o Orçamento sem uma palavra; depois, com uma mensagem de Natal muito dispensável, em que José Sócrates vestiu a pele de um propagandista em vez de se apresentar como um estadista em que os portugueses confiassem – falando da crise no plural. A questão do Orçamento não é inocente. O governo e o PS quiseram a guerra com o presidente, “pondo-o no sítio”. Cavaco, que é discreto e não gosta de cometer o mesmo erro duas vezes, não deixará o pobre orçamento à solta e à mercê de operações de propaganda ou de “contabilidade política”. Os eleitores, na verdade, podem não confiar na oposição – mas começam a descrer de um governo que os trata como ignorantes ou patetas.

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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Palavrório.

por FJV, em 23.12.08

Vejamos. Portugal não é diferente dos outros países em matéria de excesso de palavrório. Mas é uma pena que, no meio de tanto discurso, declaração, comissão parlamentar de inquérito, audições e audiências, se percam às vezes coisas que valia a pena reter. António Ribeiro Ferreira fala do assunto na sua crónica de ontem, no CM. Por exemplo, o Procurador-Geral da República afirmou no Parlamento que o senhor Governador do Banco de Portugal foi alertado para uma grande fraude internacional que envolvia o BPN. Quando? Há quatro anos. Devia o BP estar de sobreaviso? Sim. Esteve? Não. O Procurador disse também que não tem meios para investigar crimes de corrupção. Ao ouvir isto, os deputados o que fizeram? Peocuparam-se? Não. Mas devem estar a nomear uma comissão de inquérito.

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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A indústria da crise.

por FJV, em 22.12.08

A “indústria da crise” está em grande actividade. Em momentos politicamente difíceis – ou ‘complexos’ – a palavra “crise” é ambivalente. Serve para a oposição e serve para o governo. Vacinados contra o queixume, os eleitores já não se deixam embalar pelo discurso mais fácil que brada por soluções evidentes e quer aplicar receitas milagrosas. Pelo contrário, detectam nos outros a sua própria malandrice. Desconfiam – e fazem bem. Assistem, com a ironia disponível, ao festival dos membros do governo que mencionam “a crise” para justificar a maior parte das medidas de carácter político excepcional. A “crise” é real – mas é também uma muleta para quem já não pode cumprir mais promessas. Em 2009 a “crise” vai justificar tudo. A maioria vai aceitar. Mas sabe que está a ser enganada.

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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Múmias.

por FJV, em 19.12.08

Uma pessoa quer estar de boa-fé, mas acaba sempre mal servido. O PSD abstém-se na terceira votação sobre o estatuto dos Açores sabendo que faz mal e que podia ter-se arrependido da asneira inicial, mas tem medinho do anti-ciclone. Mais: proibiu mesmo alguns deputados de votarem contra. Ah, disciplina partidária, tão cumpridor que está o partido. Ainda bem, como diz o Tomás Vasques, que o PSD «não está para concordar com presidentes da República que não conhece de lado nenhum». Que nem uma múmia.

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Limpinho.

por FJV, em 18.12.08

Manuel Alegre diz que quer tudo limpinho: “Que as forças conservadoras se assumam e que a esquerda seja esquerda.” Nada mais simples. O retrato desse mundo vem nos manuais, explicado com clareza e ilustrado por esquemas providenciais que mostram duas cores distintas – a da esquerda e a da direita. Infelizmente, essa realidade a duas cores está longe do espectro em que as pessoas se movem: aqui e ali contam mais as tonalidades, as sombras, os declives e até as aparências. Geralmente, queremos que os outros sejam como achamos que eles devem ser. Mas o problema é que a realidade, muito sacana, vem atrapalhar tudo e encher a vida de surpresas. No caixote de lixo da história e da política há bastantes desses manuais feitos para gente simples; alguns nem para reciclar são úteis.

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Pacificar as massas.

por FJV, em 17.12.08

Uma das tácticas é a de pacificar as massas. Alguns téoricos fantasiam sobre a necessidade de tranquilizar as massas, travando-as com dinheiro ou «condições» para que elas não destruam a Acrópole nem incendeiem Paris. São duas coisas diferentes, é certo, mas tanto a Europa como os EUA optam pelo mais fácil, contentando «os banqueiros» e «as pessoas». Salvo erro, há um mês toda a gente criticava o dinheiro fácil.

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Agitação.

por FJV, em 17.12.08

O ano editorial promete ser agitado.

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O capital.

por FJV, em 15.12.08

 

Alberto João Jardim acha que há “grupos dentro do PSD” que querem a vitória de José Sócrates para poderem, diz ele, “defenderem os seus interesses económicos”. Não é grande novidade. Para retomar um lugar-comum de séculos, o capital não conhece pátria nem se empata com minudências. Pode ser cruel, mas não deixa de ser verdade. Os “interesses económicos” vêem os tempos de crise a flutuar no horizonte e fazem contas aos milhões de euros que Sócrates anunciou para “apoio à economia”, aos pacotes de “incentivos fiscais” e às “linhas de crédito” que se anunciam – seja lá o que isso for. O pequeno capital lusitano é obrigado a pagar o crédito com o seu silêncio. Jardim esbraceja, como é seu hábito, mas tem razão. Não porque lhe valha grande coisa, mas porque as coisas são como são. Vem nos livros.

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Smoking again.

por FJV, em 12.12.08

 

Um dos novos desportos para preencher o vazio da cabeça é o de vigiar os hábitos de Barack Obama, como o de fumar. Os parvinhos elegantes, de ideologia tetraplégica, e as tias do século passado ficaram embasbacados com a novidade – Obama fuma; como é que ele vai fazer na Casa Branca, onde não se pode fumar? Naturalmente, vem até à porta das traseiras onde escapará dos moralistas. Interrogado pela imprensa, o presidente americano lá se justificou: “Mas olhem que tento ter uma vida mais saudável...”  Para começar, estar no poder não é nada saudável. Depois, desde que inventaram os políticos com “uma vida saudável” que deixámos de ter bons políticos. Um bom político precisa de um certo suplemento de vício. Olhem para a União Europeia e confirmem: saudáveis, sim, mas uma merda.

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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O Espírito das Leis.

por FJV, em 04.12.08

O que pede o Ministério da Educação? Que se cumpra a lei sobre “a avaliação”. Quem fez a lei? O governo e a sua maioria. A quem se dirige a lei? Aos professores. Os professores concordam com a lei? Não. É possível aplicar uma lei quando aqueles a quem ela se dirige não querem a sua aplicação? Não. Este imbróglio diz respeito a todas as leis, ou seja, ao “espírito das leis”, de que falava Montesquieu. Há quem pense que basta redigir uma lei para que a lei se cumpra; seria fácil, a um punhado de “pessoas esclarecidas”, passar um ano a produzir leis e três anos a mandar executá-las, fechando um ciclo eleitoral. Infelizmente, as leis dirigem-se a pessoas concretas que vivem em condições concretas, nem sempre as desejáveis. As “pessoas esclarecidas” às vezes não vêem isto.

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Centrão.

por FJV, em 04.12.08

Quando Cavaco abandonou o governo, em 1995, estava farto do PSD. Quando Guterres deixou o governo em 2001 queixou-se “do pântano”, e estava também a falar do seu partido. Treze anos depois, Cavaco continua farto do PSD e Guterres distante de um regresso à vidinha no PS. Periodicamente, há gente que se afasta e deixa no ar suspeitas sobre “o pântano” ou sobre “a política”. Em qualquer dos casos queixam-se do “centrão”, uma espécie de “organização secreta” que deixa a sua marca em todos os grandes negócios do regime e que dilui todas as diferenças entre os dois maiores partidos do sistema. Só assim se explica que Dias Loureiro tenha elogiado Sócrates na apresentação de uma biografia do primeiro-ministro e que as presidências dos bancos sejam ocupadas com um emblema ou outro.

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Sócrates, elegante.

por FJV, em 01.12.08

Ontem, o diário 'El Mundo' escolhia os homens mais elegantes do ano – e entre eles, apenas atrás de Karl Lagerfeld (uma múmia), de Roger Federer, Barack Obama, Brad Pitt, ou do príncipe Haakon (da Noruega) e à frente de Jude Law, de Sarkozy ou do príncipe Carlos, estava José Sócrates. O sexto mais elegante do mundo. É uma distinção e tanto. Mundana, sim – mas uma distinção. Sisudo na foto, talvez isso seja uma das razões a sua popularidade, como diz o jornal, que acrescenta: «Os portugueses respeitam o homem rigoroso, com fatos escuros Armani.» Pode ser. Por isso, a sua ministra da Educação escusava de considerar 'tocante' o caso do aluno que – depois de receber um computador Magalhães – lhe escreveu a dizer que quer inscrever-se no PS. Isso não é elegante. Nem tocante.

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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Avaliação negativa.

por FJV, em 23.11.08

Pois, estando na oposição é sempre mais fácil; a passagem de José Sá Fernandes para o «bloco do poder» só gera problemas. Não é possível, de facto, manter a autoridade de quem nunca se engana. A menos que o «sistema de avaliação» de vereadores mereça contestação.

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Questões gerais.

por FJV, em 19.11.08

A ler o post de Tomás Vasques.

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Abraços a Chávez.

por FJV, em 19.11.08

A vida é como é e nada impede o governo português de negociar com a Venezuela; preferia era que o meu governo não andasse aos abraços com o arrivista de Caracas, o homem que ameaça e chantageia os venezuelanos durante a campanha eleitoral que termina esta semana. Chávez ameaça as regiões “rebeldes” com tanques e cortes de verbas, usando dinheiros públicos para promover os seus candidatos, para não repetir os resultados desfavoráveis do referendo com que pretendia ser nomeado ditador. Uma das novidades, desta vez, foi a promessa de prender pessoalmente os opositores e de incendiar as câmaras da oposição. Se é preciso petróleo venezuelano, pois que se compre – e que Sócrates se reúna com Chávez. Mas, repito, evitem as cenas de abraços amorosos e cúmplices diante das televisões.

[Da coluna do Correio da Manhã.]

 

P.S. Já imagino o discurso de Alberto Martins sobre a falta de cultura cívica...

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