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Jacques Rogge, presidente do Comité Olímpico Internacional, acha que Usain Bolt «deve mostrar respeito pelo esforço dos seus rivais, de acordo com os ideias do espírito olímpico». Haveria muito a dizer sobre o «espírito olímpico» e os jeitos que Rogge fez à China metendo o «espírito olímpico» por baixo do tapete. O jamaicano exorbitou, fez caretas para os segundo e terceiro, que foram desclassificados? Baixou a cabeça, amuado, e escondeu-se do público? Não. O que a notícia transcreve é o gesto de Usain Bolt: «Abriu os braços em direcção ao público, gesto considerado como sendo de gozo para com os adversários». Ora, esse é um gesto de grande respeito pelo público e pela modalidade. O que ele devia fazer era dirigir um manguito a Rogge e não admitir que ele citasse as proezas de Jesse Owens em Berlim precisamente na China. Mas enfim. Ele é só um jamaicano que não sabe preencher os boletins, não é?
O alemão Tobias Unger acha que o jamaicano Usain Bolt está carregadinho de doping: «Na sua ilha fazem o que querem e não lhes acontece nada...»
O assunto tem pouca importância mas gosto dele. Até aqui, sobretudo em Portugal e no Brasil (com poucas excepções, que resultaram em agressão), Scolari só respondia ao que queria e, mesmo assim, de vez em quando (apesar dos favores) acusava a «imprensa desportiva» de o perseguir. Tinha a seu favor o tremendismo gaúcho e o feitio de sargento, que caem muito nas graças nacionais. Mas agora não tem ao serviço os jornalistas de The Ball, The Record ou The Game. Agora, os jornais que o vão perseguir são mais difíceis de satisfazer mesmo que ele se atire aos colarinhos dos jornalistas (coisa que só aconteceria uma vez). Por um lado, querem respostas sobre the game. Por outro, não vai ter descanso. A menos que lhe apreciem tanto o feitio que se calem. Duvido.
Afinal, Deco esteve em Barcelona? Parece que não. Saiu da concentração da selecção nacional com autorização de Scolari e partiu para se juntar a Ronaldinho. É a imprensa inglesa contra a portuguesa.
O senhor director da ASAE diz que o documento com metas para apreensões, detenções, encerramentos e outras operações, não era para ser divulgado – e que pertence apenas aos inspectores da sua organização. Estaline também tinha uma lista com quotas de fuzilamentos, prisões e assassinatos sumários – mas não a divulgava à imprensa. Em Moscovo era preciso matar 30 000, mais 20 000 em Kiev e por aí fora. Mao, na China, determinou que 5% da população era contra-revolucionária e mandou que se fuzilassem (depois aumentou o número, claro). O essencial era cumprir as quotas. Os inspectores da ASAE também serão visitados por eventuais mandaretes que irão averiguar o grau de cumprimento dos fuzilamentos, perdão, das detenções e encerramentos que figuram nos objectivos. E assim vamos.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
As novelas da Justiça portuguesa deviam indignar-nos. A palavra está gasta e não significa nada – mas poderíamos ser mais claros: devíamos zangar-nos. Já estávamos preocupados, mas agora devíamos zangar-nos mesmo. Ontem, no CM, João Vaz chamava a atenção para o descrédito que banaliza qualquer decisão dos tribunais sobre questões políticas e partidárias. Tem toda a razão. A mesma coisa acontece nos processos relativos ao Apito Dourado, sob os quais pende a desconfiança de estarem sustentados em profissões de fé, ou pura ignorância, dos investigadores ou dos magistrados. A guerra entre a Procuradoria e o governo é outro dos enredos que pode vir a terminar mal. Para já, desconfiamos das investigações, desconfiamos dos juízes e desconfiamos dos processos. Acabaremos, mais tarde ou mais cedo, a desconfiar da lei – o que seria uma tragédia, num país que tanto gosta de legislar sobre tudo e que se transformou numa cacofonia onde toda a gente fala ‘jurisdiquês’.
[Na coluna do Correio da Manhã.]
«Por estranho que pareça, as atrocidades cometidas no Chile de Pinochet, se comparadas com o que se passou, de 1977 a 1979, no país de Agostinho de Neto, assumem modestas proporções. E o mais chocante é que, no caso de Angola, nem sequer atingiram inimigos, mas sim membros da própria família política.»
[FJV]
«Por estranho que pareça, as atrocidades cometidas no Chile de Pinochet, se comparadas com o que se passou, de 1977 a 1979, no país de Agostinho de Neto, assumem modestas proporções. E o mais chocante é que, no caso de Angola, nem sequer atingiram inimigos, mas sim membros da própria família política.»
«Na margem sul do Tejo, faleceu recentemente um angolano, antigo membro do MPLA, a quem por alturas do 27 de Maio foi atribuída a tarefa de coveiro. Há quem se lembre de o ouvir contar que fora obrigado a sepultar pessoas vivas. Milhares de famílias de angolanos nunca puderam enterrar os seus mortos.»
«[...] Eram presos e enviados, sem qualquer processo, para campos de concentração. Muitos dos que morreram nem sequer sabiam quem era Nito Alves. E eram muitos os que tinham menos de 18 anos. Entre os detidos encontravam-se, até, soldados que não estavam em Angola no dia 27 de Maio.»A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.