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Conheci Ruy Cinatti (1915-1986) num sábado de verão, em Lisboa – uma figura maravilhosa, palradora, exuberante e triste, com uma cruz ao peito, uma sacola de pano onde viviam papéis amarrotados e poemas que distribuía de vez em quando. A maior parte deles sobre Timor (estávamos já nos anos da ocupação indonésia). E Deus. Falámos de ambas as coisas. E de África, Portugal – e do mar. Mais tarde eu veria esse seu mar, em Baucau, Tutuala, Loré, Díli. Mas também o de São Tomé, outra da suas paixões. Encontrei-o mais vezes, a cruz ao peito, mais triste, e o resumo destas conversas era o título do seu primeiro livro, Nós Não Somos deste Mundo (de 1941). A sua poesia acaba de ser publicada (pela Assírio & Alvim) num livro volume com mais de mil páginas, organizadas pelo minucioso e apaixonado Luís Manuel Gaspar (com Joana Matos Frias e o Padre Peter Stilwell) – a poesia inédita e póstuma sairá depois num segundo volume. Cinatti recorda-nos todas as nossas heranças: cristã, oriental, africana, índica, atlântica, clara e escura, tempestuosa ou comovida, como a manhã imensa de que falam os seus poemas. Bem vindo sejas.
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