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A PSP de Braga apreendeu, mesmo no centro da cidade, exemplares de um livro que reproduz na capa o quadro A Origem do Mundo, de Gustave Courbet. Uma patrulha não tem de perceber de arte, e diante daquela exibição das coxas abertas e do sexo de uma mulher, os agentes viram pornografia pura e trataram de defender a moral pública e o pudor dos bracarenses. Parece que isso está nas suas atribuições, se bem que os bracarenses saibam distinguir uma página da Gina de uma pintura de Courbet, o amigo de Proudhon e de Baudelaire. A arte tem destas coisas; há tempos, o Metro de Londres retirou um cartaz da Royal Academy, que mostrava o corpo nu de uma mulher, pintado por Lucas Cranach, amigo de Lutero. Há gente que vê sexo em tudo. Em cada moralista há um tarado profissional.
[No Correio da Manhã.]
Adenda: Se me permitem, a questão não está, como escreve -- e bem -- Tomás Vasques, na formação artística e cultural dos agentes da PSP. A imposição do nu pode, evidentemente, constituir um atropelo à liberdade individual, ou uma simples patetice muito ao gosto da provocação barata e tonta. Não quero discutir as diferenças entre Mapplethorpe e Lucas Cranach. No que o Tomás tem toda a razão é na questão contextual; uma feira do livro é uma feira do livro, não é uma venda de galheteiros ou de retrosarias. Daí que parte desta algazarra anti-censória (festeje-se!, gostava de vos ter visto assim a condenar os ataques aos cartoonistas dinamarqueses!) tenha também um lado anedótico (o ter sido em Braga, a idolátrica, a dos arcebispos -- e não nas Caldas da Rainha, por exemplo, onde a censura a Mapplethorpe cairia que nem ginjas) e reviralhista (vamos expor Courbet é tudo quanto é sítio, se me faço entender). A questão essencial é que a PSP foi a uma feira do livro em Braga (como, antes, se tinha dirigido a uma livraria de Viseu, aqui com o argumento de que «é uma cidade especial») e amanhã pode ir a uma galeria em Peniche proibir a exibição de Renoir, e é isso que não é admissível.
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