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Repetição.

por FJV, em 25.02.09

A PSP de Braga apreendeu, mesmo no centro da cidade, exemplares de um livro que reproduz na capa o quadro A Origem do Mundo, de Gustave Courbet. Uma patrulha não tem de perceber de arte, e diante daquela exibição das coxas abertas e do sexo de uma mulher, os agentes viram pornografia pura e trataram de defender a moral pública e o pudor dos bracarenses. Parece que isso está nas suas atribuições, se bem que os bracarenses saibam distinguir uma página da Gina de uma pintura de Courbet, o amigo de Proudhon e de Baudelaire. A arte tem destas coisas; há tempos, o Metro de Londres retirou um cartaz da Royal Academy, que mostrava o corpo nu de uma mulher, pintado por Lucas Cranach, amigo de Lutero. Há gente que vê sexo em tudo. Em cada moralista há um tarado profissional.

[No Correio da Manhã.]

 


Adenda: Se me permitem, a questão não está, como escreve -- e bem -- Tomás Vasques, na formação artística e cultural dos agentes da PSP. A imposição do nu pode, evidentemente, constituir um atropelo à liberdade individual, ou uma simples patetice muito ao gosto da provocação barata e tonta. Não quero discutir as diferenças entre Mapplethorpe e Lucas Cranach. No que o Tomás tem toda a razão é na questão contextual; uma feira do livro é uma feira do livro, não é uma venda de galheteiros ou de retrosarias. Daí que parte desta algazarra anti-censória (festeje-se!, gostava de vos ter visto assim a condenar os ataques aos cartoonistas dinamarqueses!) tenha também um lado anedótico (o ter sido em Braga, a idolátrica, a dos arcebispos -- e não nas Caldas da Rainha, por exemplo, onde a censura a Mapplethorpe cairia que nem ginjas) e reviralhista (vamos expor Courbet é tudo quanto é sítio, se me faço entender). A questão essencial é que a PSP foi a uma feira do livro em Braga (como, antes, se tinha dirigido a uma livraria de Viseu, aqui com o argumento de que «é uma cidade especial») e amanhã pode ir a uma galeria em Peniche proibir a exibição de Renoir, e é isso que não é admissível.

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5 comentários

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De Francisco Castelo Branco a 25.02.2009 às 23:41

Foi escandaloso o que sucedeu.
Parece que voltamos ao tempo da Ditadura
A PSP nao pode exercer este tipo de situações.
Ao menos chamavam a ASAE...

porque razão o livro foi apreendido?
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De Orlando a 25.02.2009 às 23:58

Porque vivemos num mais agarrado às tradições, ao igrejismo puritano e onde a atitude cultural se resume a meia dúzia de novelas e gouchas!
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De henedina a 26.02.2009 às 00:30

"um lado anedótico (o ter sido em Braga, a idolátrica, a dos arcebispos"
Pois eu vi logo esse lado "por ser em Braga" e não gosto que o preconceito em relação a minha cidade se mantenha e é claro que estas atitudes ignorantes e prepotentes não ajudam a desfazer o preconceito.

Concordo com o seu post, FJV.
(hoje tem direito ao whisky, a cigarrilha, ao FCP ser campião e a que não o chateem com prevenções).
E se fosse outro já teria tirado alguns dos meus comentários. (pais/PSP em Braga, por ex.)

Eu gostava que as pessoas não fossem tão preconceituosos em relação a minha cidade para mim é como, talvez para si, o FCP. Uma paixão.
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De FJV a 26.02.2009 às 00:37

Está a ver?... eh eh eh
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De Manuel Anastácio a 27.02.2009 às 12:46

Em Braga, como em todo o lado, os quiosques continuam a exibir pornografia sem que isso faça mossa a ninguém. Simplesmente não compreendo este modo de agir. É, acima de tudo, incongruente. Como a censura costuma ser sempre, de facto.

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