por FJV, em 30.11.05
||| A mesma palavra.
Olho páginas vazias, descrevo a cena como se a linha
do horizonte deixasse de existir, o mar deixasse
de respirar. Nesse instante não tenho morada nem
nome, serei apenas a infância, a malícia, a poeira,
os cactos à beira das estradas. Descubro a incerteza
e a palavra, o eco do que ficou abandonado. Tudo
me desperta, comove, desabriga — um amor, um lugar,
uma janela, o eclipse. Adormeço depois de fechar
as portas, a inspiração morreu há meses, escrevo
e volto a escrever, linha a linha, a mesma linha, palavra
a palavra, as mesmas palavras. O tempo é uma vaga
impressão de ter passado naquele instante em que
dizem que a terra treme, a alma nunca será essa coisa
perfeita, resguardada da luz, do cheiro da terra, das
vagas , do que poderia ter sido. Vejo-a nas praias,
ao longe, do outro lado do mar, entre risos.
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3 comentários
De monica a 30.11.2005 às 22:43
"apenas a infância, a malícia, a poeira"
belo
De gatonima a 30.11.2005 às 10:49
OUTRA PALAVRA
Sou peregrina de Compostela à Serreta. Faço descalça qualquer trilho, rumo infinito.
Prometp aos pés doidas caminhadas. Guardo num vaso o cabelo rapado.Não evito urtigas, agulhas, espinhos e vou forte prometer a vida.
Peço três desejos de águia.
No regresso, tomo o caminho do Paraíso.
luísa Ribreiro
(e ainda estou à espera dos seus poemas para a revista)
De Álvaro Brandão a 30.11.2005 às 01:53
Podem ser sempre as mesmas, mas são sempre deliciosas. Obrigado.