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por FJV, em 03.12.06
||| As hipóteses, 3. [TLEBS]













O Educação Cor de Rosa dirigiu-me um pequeno repto a propósito do artigo de Rui Tavares no Público deste sábado. Basicamente, estaria em causa uma disputa do território entre Linguística e Literatura. Para que se saiba: fui o organizador do I Congresso de Estudos Linguísticos, em 1984, na Universidade de Évora, cujo tema era «Linguística e Literatura» (que nos possibilitou duas lições magistrais: uma de Óscar Lopes, outra de António José Saraiva, num reencontro notável entre os dois mestres; o segundo congresso teve como tema «Linguística e Teoria do Texto» e permitiu papers muito actuais nessa altura e ainda hoje, de Enrique Bernárdez, John Morris Parker, Aguiar e Silva, Fernanda Irene Fonseca, entre outros). Não suponho, como não supunha na altura, que essa distinção e essa disputa sejam fundamentais; ela é, antes de mais, herdeira de outras disputas que vêm dos anos cinquenta, sessenta e setenta, quando a Linguística se ocupou, também, do chamado «discurso literário», enquanto discurso (não vale a pena enumerar as referências: Jakobson, Kristeva, etc.). Curiosamente, foi a autonomia crescente da Linguística, sobretudo a partir da Linguística de Texto (van Dijk, Schmit, Petöfi, etc.), que ditou a separação dos dois corpus: o da Literatura e o da Linguagem. Questões coevas e estapafúrdias, como a da literariedade, foram abandonadas pela Linguística, com benefícios gerais para linguistas e para estudantes de literatura. Não vale a pena, portanto, reabilitar o combate. Mas é importante distinguir os campos e os combates. O que me separa da TLEBS não é a disputa sobre o papel da Linguística (até por razões sentimentais...) mas questões teóricas, de concepção e de nomenclatura -- ou seja, sobre a própria natureza da terminologia, que acho desadequada e pode dar origem a erros de interpretação e de classificação.
As minhas dúvidas têm, também, a ver com o ensino do Português em geral e com a sua pulverização pela Linguística. Não sei se a TLEBS contribuirá para o melhor conhecimento da língua e para uma melhor relação com o ensino do Português. Suponho que não. Que dificultará e que criará problemas de perspectiva. E mantenho, portanto, que um maior investimento na leitura de textos literários, por exemplo, é mais útil para esse ensino.
Há outras questões colocadas pela adopção de léxico vulgar. Mas eu não sou inimigo da gramática normativa. Acredito, até, que foi o seu abandono, ditado por preocupações teóricas, que nos levou a este estado.

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